"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

EM CUBA, HÁ PEDRAS E FURACÕES NO CAMINHO DA REVOLUÇÃO

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Quando entrar setembro, é o mês dos furacões em Cuba
Vou andando pela bela rua 23 de Havana com um querido amigo da Costa Rica que, assombrado, pergunta, ”Olha, Contreras, estou olhando nesta rua muitas pessoas idosas… Estou certo?” Está, amigo, estamos no município Praça da Revolução, que tem a maior quantidade de idosos de todos os municípios de Cuba.
O rápido e progressivo envelhecimento da população cubana está quebrando a cabeça do governo, processo que avança desde tempos atrás, neste momento com taxas muito negativas… Ao final de 2010, por exemplo, houve uma diminuição de 2 mil habitantes em relação ao número de pessoas que moravam no país em dezembro do 2005. Isso faz de Cuba o país do mundo com maior quantidade relativa de população de 60 anos e mais.
CABEÇA QUENTE – Este processo de baixas demográficas somente tinha acontecido em Cuba nos fins do século XIX, com as guerras de independência com a Espanha colonial, e em 1980 com a grande emigração de 125 mil pessoas pelo porto de Mariel (onde o Brasil fez grandes investimentos e recebeu a visita de Lula).
Dá para ficar com a cabeça quente: natalidade e fecundidade reduzidas, baixo crescimento e êxodo que não pára — sobretudo de jovens que fogem da crise econômica. Tudo resulta em envelhecimento. Embora Cuba tenha uma alta esperança de vida (79,1 anos) e baixa mortalidade infantil (4 para cada 1 mil nascidos vivos) neste momento, tem pela frente esses problemas como uma Muralha da China.
AS REFORMAS – Que possíveis remédios o governo cubano tem na mão? Sem dúvida as tão faladas reformas estruturais, que até hoje caminham com sapatos apertados e muitas pedras no caminho (como no poema de Drummond de Andrade), e também problemas colaterais menores: o êxodo das garotas que deixam as universidades, as escolas e as creches, onde trabalhavam, para ir trabalhar nos ”paladares” — botecos, bares e restaurantes privados dos bairros Vedado e Havana Velha. Como falam as colegas de sala de minha filha: ”ali ganhamos bom dinheiro mais as gorjetas…”
Setembro está perto e há motivos para preocupações em Havana, pela chegada dos furacões. Mas os cubanos, que são tão descontraídos, andam pelas ruas com esse jeito de ”não adianta esquentar a cabeça”.
Os últimos furacões (ciclones) que “visitaram” a ilha — o Irma (em setembro de 2017) e o Alberto (em maio de 2018) — mostraram que não dá para ter a cabeça fria: o aquecimento global, estranhos fenômenos que acontecem na natureza estão influenciando o comportamento do clima desta ilha e de outras do Caribe.
É O TEMA… – A cultura popular, o imaginário popular, seus adágios, sentenças, a cultura artística cubana (música, romances, contos, poesia, gravura) tudo está mergulhado neste tema dos furacões.
O almirante Cristóvão Colombo foi surpreendido por um desses ”arzinhos” nunca bem-vindos nos momento em que explorava as costas da ilha, em 1492, agasalhado pelas “malditas circunstâncias da água por todas as partes”, como diz Virgilio PIñera em seu famoso poema “A ilha em peso”. A propósito, lembremos a revista do mesmo nome (Ciclón) que editava com Pepe Rodrígues Feio, com a engraçada gravurinha de Mariano Rodrigues na capa, soprando com força de 5 graus.
FACA NA MANTEIGA – Mas o furacão que ainda está na memória histórica e popular cubana é o do ano de 1926, muito narrado nos livros e também na canção de Sindo Garay, O furacão e a palmeira. Os avós velhinhos e velhinhas ainda contam sobre aquela palmeira ferida por um pau que voava, e que ficou incrustado em seu tronco como faca na manteiga.
Grande e interessante testemunho sobre este célebre fenômeno meteorológico foi recolhido na Memória publicada pela Secretaria de Obras Públicas da época.
(artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

16 de julho de 2018
Felix Contreras

Crônicas de Havana

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