"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

OS ARTISTAS, OS DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E A MÁXIMA DE NELSON RODRIGUES



O projeto de lei para agilizar a liberação de defensivos agrícolas no Brasil provocou revolta de artistas e ambientalistas nas últimas semanas.

Marcos Palmeira, Zezé Polessa, Gregório Duvivier, Patrícia Pillar, Caco Ciocler, Bela Gil, Astrid Fontenelle, Martnália e outros atores gravaram um manifesto contra o projeto que, segundo o ator Érico Brás, "vai colocar mais agrotóxico na comida do povo brasileiro".

Bela Gil foi à Câmara com cartazes de protesto; o Greenpeace até instalou uma bomba de mentirana audiência que discutia a questão.

Eis mais um caso de ativistas que agem contra a própria causa. Quem se preocupa com o impacto ambiental da agricultura no Brasil deveria torcer por menos entraves à inovação nessa área.

Exatamente por quererem lucrar o máximo possível, as fabricantes de defensivos agrícolas têm de responder às demandas da sociedade. É impossível lucrar de maneira contínua fabricando produtos que não atendem aos desejos dos consumidores. No passado, com efeito, a eficiência e o preço de um defensivo importavam mais que a biossegurança. Cientistas do ramo costumam dizer que os agrotóxicos eram como metralhadoras — matavam pragas e muitas outras coisas ao mesmo tempo.

E então, por exigência do ambientalismo (mais forte na Europa e nos Estados Unidos que no Brasil) e dos próprios consumidores, os defensivos passaram a funcionar cada vez mais como snipers — precisos e com pouco impacto além do alvo. Nenhuma Basf ou Bayer será louca de gastar milhões na pesquisa e desenvolvimento de um produto que será proibido por causar danos graves à saúde ou ao meio ambiente. E que poderá resultar em processos bilionários contra as empresas. Ou que irá matar milhões de pessoas. (Dica: é impossível ter lucros se você mata todos os seus consumidores).

Alguns dados confirmam essa tendência de melhora nos defensivos agrícolas. Um índice bastante utilizado para medir o impacto ambiental de agrotóxicos é o EIQ (Environmental Impact Quotient). Quanto maior o índice, maior a influência de um pesticida ao meio ambiente, ao consumidor e ao trabalhador do campo.

Por causa da inovação, o EIQ dos defensivos usados no cultivo de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar caiu 38% que de 2002 a 2015, segundo pesquisa do agrônomo Caio Carbonari, da Unesp. E isso num período em que a produtividade por hectare aumentou. Conseguimos produzir mais comida em menos espaço e com menor impacto ambiental.

Mas a coisa fica ainda mais interessante.

Atualmente, uma lista com 36 defensivos aguarda análise para obtenção de registro no Brasil. No entanto, 28 deles já têm registros em países como EUA, Japão, Canadá, Austrália e Argentina. Isso porque o processo de avaliação e registro, que nesses países costuma levar cerca de dois anos, no Brasil dura de 8 a 10 anos, por causa da morosidade do Ministério da Agricultura, da Anvisa e do Ibama. (Fonte)

Sobre isso, o professor Edivaldo Velini, diretor da Faculdade de Agronomia da Unesp de Botucatu, comparou o EIQ dos pesticidas utilizados hoje no Brasil com o desses que estão à espera da liberação pelos burocratas. Segundo ele: "Os produtos que atualmente estão na fila aguardando liberação são, em média, cerca de 30% mais favoráveis ao meio ambiente e a saúde do que os que estão em uso".

Veja só que situação. Existem no mundo defensivos agrícolas com mais biossegurança que os usados hoje no Brasil, mas a lentidão e a burocracia do governo impedem a entrada desses produtos.

Pior ainda: pessoas que acreditam defender a natureza, como Bela Gil, Marcos Palmeira e o Greenpeace, trabalham para que esse absurdo continue, pois estão se opondo exatamente ao projeto de lei que reduz essa morosidade e acelera a liberação de defensivos mais amigáveis ao ambiente.

Na sanha de prestar lealdade aos seus apoiadores do Leblon e de se opor aos ruralistas, artistas acabam prejudicando o meio ambiente que acreditam proteger. A ânsia de querer criminalizar qualquer coisa que venha do setor rural — que, no caso, quer ter acesso mais rápido a pesticidas mais baratos e mais eficientes — garante apenas a perpetuação do uso de agrotóxicos bem menos eficientes.

Nelson Rodrigues certamente exagerava quando dizia que "o indivíduo ou é ator ou é inteligente". Mas, ao assistir aos vídeos de artistas sobre agrotóxicos, fica difícil discordar do dramaturgo.

P.S.: apenas como curiosidade, o Japão, que é o país com a maior expectativa de vida do mundo, usa oito vezes mais agroquímicos do que o Brasil. E, quando se compara a proporção de defensivos em relação à quantidade de terras cultivadas, o Brasil fica atrás de países como o próprio Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. (Fonte)


16 de julho de 2018
Leandro Narloch

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