Sei que escrever com o intuito de mostrar uma face diferente desses personagens tidos como herois nacionais, salvo exceções, é quase uma “heresia” no círculo acadêmico e político brasileiro. Entretanto, como sempre somos alertados a pensar criticamente, eis o que proponho no artigo ora apresentado. Essa perspectiva é parte da diversidade que muitos dizem defender, mas que odeiam quando ela se manifesta.
É imperioso ressaltar que não é por criticar Marighella que necessariamente me posiciono em favor dos militares. O que pretendo demonstrar é que duas forças, ainda que uma seja mais forte que a outra, podem ser antidemocráticas e mesmo assim, inimigas. Quando uma facção criminosa domina um morro e outra quer despojá-la do controle do narcotráfico, não o faz para trazer a paz, mas o contrário, isto é, para impor a sua ordem.
O Manual do Guerrilheiro Urbano, escrito por Carlos Marighella e datado de 1969, revela boa parte do que o mesmo pensava acerca de seus métodos políticos que, hoje considerados legítimos pelo contexto do governo militar, não passam de fórmulas criminosas de atuação política. Logo no início o próprio autor deixa bem claro que “a razão porque este manual leva [sua] assinatura é que as ideias expressadas ou sistematizadas [nele] refletem as experiências pessoais de um grupo de pessoas engajadas na luta armada no Brasil, entre as quais [ele tinha] a honra de estar incluído.”[1]
Poderíamos contextualizar a produção do material, difusão e quem foi Marighella, todavia, não há espaço para isso, já que o intuito principal é demonstrar como este guerrilheiro buscava a “democracia.” Sempre dizem que ao analisarmos situações históricas, devemos ser imparciais, no entanto, não apontar os crimes perpetrados ou planejados pelo líder da ALN – Aliança Libertadora Nacional – é ficar omisso, haja vista que até hoje Marighella é tido como grande personagem em busca da “libertação nacional”.
O que encontramos no Manual revela muito de suas aspirações criminosas, muito diferentemente do que aparece no filme Batismo de Sangue (2007), dirigido por Helvécio Ratton, onde o comunista é retratado como uma figura paternal, misteriosa e até messiânica.
Carlos Marighella, bem como vários de seus apoiadores até hoje, acreditam que são detentores de virtudes irrepreensíveis, o maior perigo de todos por acarretar vários outros. Escrevendo sobre a inferioridade bélica dos guerrilheiros, Marighella afirmou que sim, que nesse aspecto são inferiores, “mas vendo desde o ponto de vista moral, o guerrilheiro urbano tem uma vantagem que não se pode negar. Esta superioridade moral é o que sustém ao guerrilheiro urbano.”[2] Presunção? Se o leitor ainda não está convencido, podemos citar outra passagem, onde o autor diz que “Hoje, ser ‘violento’ ou ‘terrorista’ é uma qualidade que enobrece qualquer pessoa honrada, porque é um ato digno de um revolucionário engajado na luta armada…”[3] E alicerçado nessa torpe alegação, elaborou as barbaridades que o leitor verá em seguida.
Logo no início de seu manual, Marighella escreve que os objetivos essenciais do guerrilheiro urbano são:
A exterminação física dos chefes e assistentes das forças armadas e da polícia.
A expropriação dos recursos do governo e daqueles que pertencem aos grandes capitalistas, latifundiários, e imperialistas, com pequenas expropriações usadas para o mantimento guerrilheiro urbano individual e grandes expropriações para o sustento da mesma revolução.[4]
Logo depois, o autor realça que é necessário que “todo guerrilheiro urbano tenha em mente que somente poderá sobreviver se está disposto a matar os policiais e todos àqueles dedicados à repressão.”[5] Claramente, também diz que é necessário saber “falsificar documentos para poder viver dentro de uma sociedade que ele busca destruir.”[6] O leitor por acaso acredita que alguém que diz que é necessário “preparar bombas Molotov, granadas, minas, artefatos destrutivos caseiros, como destruir pontes, e destruir trilhos de trem”[7], é alguém em quem poderíamos depositar confiança? Que não seria um verdadeiro carniceiro ao alcançar o poder?
O ódio aos Estados Unidos e à propriedade, como sempre, também fica evidente, pois lemos que “As empresas e propriedades norte-americanas no país, por sua parte, devem ser alvos tão frequentes de sabotagem que o volume das ações dirigidas sobrepasse o total de todas as outras ações contra os pontos vitais do inimigo.”[8] E ainda sobre os norte-americanos, diz que o “sequestro de residentes norte-americanos ou visitantes no Brasil constituem uma forma de protesto contra a penetração e a dominação do imperialismo dos Estados Unidos em nosso país.”[9] Já sobre execuções, e com mais ódio aos EUA, Marighella escreve que execução é “matar um espião norte-americano, um agente da ditadura…” e que ela deve ser feita por um atirador “operando absolutamente secreto e a sangue-frio.”[10]
Como ele mesmo destaca, “o objetivo da sabotagem é para doer, danificar, deixar sem uso e para destruir pontos vitais do inimigo,”[11] e, além disso, diz que a “guerrilha urbana deve pôr em perigo a economia do país, particularmente seus aspectos financeiros e econômicos, assim como as redes comerciais domésticas e estrangeiras, suas mudanças nos sistemas bancários, seus sistema de coleta de impostos, e outros.”[12] Quanto gosto por desolação!
Falando sobre a preparação e escola do guerrilheiro, Marighella deixa bem claro que “Este é o núcleo doutrinado e disciplinado com uma estratégia de longo alcance e uma visão tática consistente com a aplicação da teoria Marxista, dos desenvolvimentos do Leninismo e Castro-Guevaristas, aplicados às condições específicas da situação revolucionária.”[13]
E em outra parte, sobre o sempre almejado e nunca obtido apoio popular, Marighella escreve que “um dos problemas principais do guerrilheiro é sua identificação com as causas populares para ganhar o apoio popular.”[14] Mas por qual razão os guerrilheiros que pregam a morte de policiais, o sequestro de embaixadores e empresários e explosões não o têm? Será que é porque o povo que ele e outros diziam e dizem defender não quer a guerrilha nem o comunismo? Será que é porque o povo não quer saber de expropriação de propriedade privada, mas ao contrário, quer aumentar e/ou melhorar a sua própria?
Tenho uma versão impressa dessa obra destrutiva, contudo, utilizei uma versão que se encontra online [15] para que o leitor possa conferir a autenticidade da informação aqui utilizada.
Espero que cada um que acompanhou esta breve análise do manual antiliberdade de Carlos Marighella se lembre desse e de outros textos cada vez que vir algum professor universitário ou militante de algum partido e/ou movimento social cobrindo de glória o nome deste homem que não buscava democracia, mas que queria trocar uma ditadura por outra, vermelha em todos os sentidos. Se este guerrilheiro, hoje nome de escola e ruas, propunha tais atrocidades ainda que contrariamente à lei e perseguido pelos militares em uma ditadura, imagine então o que faria estando ele no poder e ditando as regras do jogo. O poder comprado com sangue jamais seria vendido por votos.
Hoje, quando algum indivíduo ou movimento luta pela liberdade, geralmente é visto como elitista e “fascista” pelos ideólogos, mas quando se luta pela servidão em prol de utopias como o socialismo, é visto como altruísta e defensor da liberdade. Que paradoxal, defender o terrorismo em prol da paz.
Terrorismo? Não seria demais dizer que os guerrilheiros eram terroristas? Creio que não, já que, além de demonstrar na prática que o foi, o próprio Carlos Marighella escreve que “o terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar.”[16]
Acho que isso diz tudo.
14 de maio de 2018
Thiago Kistenmacher Vieira é coordenador local do Estudantes pela Liberdade de São Lourenço (MG), gestor do Grupo de Estudos Ludwig von Mises, graduando em História na Universidade Regional de Blumenau e membro do Centro de Pesquisa em História da América (CEPHA) da Fundação Universidade Regional de Blumenau.
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