"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 1 de abril de 2018

LIÇÃO DE UGANDA




Dia desses, lendo um jornal lá de Uganda, deparei-me com uma frase absolutamente surpreendente e instigante: "a educação está causando pobreza e desemprego". Seu autor, por paradoxal que possa parecer, integra o mundo acadêmico: o Professor Jacques Zeelen, da Universidade de Gulu.

Disse ele, explicando sua ideia: "há um desencontro entre o sistema educacional e o mercado de trabalho", do qual resulta uma geração preparada para empregos que não existem, e despreparada para os que existem. Secundou-o o Professor John Asibo, Diretor do Conselho Nacional de Educação Superior: "você não precisa estudar em uma universidade para ser uma pessoa de sucesso".

Decidi saber mais sobre o assunto. Li, em um jornal do Vietnam, que "o número de graduados desempregados já é de 20% da força de trabalho". Em Cingapura, somente seis a cada dez graduados conseguem emprego após seis meses de formados. 
Na Rússia, 30% dos graduados não conseguem uma ocupação definida. No Reino Unido, 50% dos formandos não conseguem trabalho compatível com os cursos que fizeram. Na Índia, 75% dos que cursaram engenharia estão desempregados. França: "14% dos sem-abrigo frequentaram curso superior". Malaysia: "40.000 graduados desempregados".

E a famosa Coreia do Sul, cujo sistema educacional é tão elogiado? Com a palavra seu próprio governo: "um a cada três desempregados são graduados". 
Na China, "quase 50% dos formandos no desemprego".

Concluí, assim, o acerto da parte inicial da frase do professor de Uganda: temos preparado nossos jovens para empregos que não existem. Sim, mas e os empregos que existem?

Comecemos pela Alemanha, que "sofre com falta de trabalhadores qualificados" - um déficit estimado em 3 milhões de braços para 2030. Na Argentina, "as empresas não conseguem os técnicos que necessitam". 
Na Polônia, seis a cada dez empresas tem dificuldades em contratar funcionários. Em Israel, empresas "buscam inutilmente por trabalhadores qualificados". Em El Salvador, "os jovens não estudam o que deles o mundo necessita". Encerro estas linhas com o título de uma matéria publicada em um jornal argentino: "Desajuste entre educação e trabalho: a cada 100 advogados correspondem 31 engenheiros".

Não sei a quantas anda a situação no Brasil. Será que temos estado atentos à lição que vem de Uganda?


01 de abril de 2018
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.

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