"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

PF APONTA 'CAPRICHOS' DA EX-PRIMEIRA-DAMA DO AMAZONAS EM REFORMA DA MANSÃO


Melo e a mulher, que é muito rigorsa com obras
Um dos oito construtores que reformaram a mansão adquirida em 2015 pelo ex-governador do Amazonas José Melo (2014/2017) em Manaus revelou à Polícia Federal que recebeu aproximadamente R$ 500 mil em dinheiro vivo “para custear” obra de reforma do imóvel, “fruto dos caprichos da ex-primeira-dama”, Edilene. Melo e a mulher estão presos em regime preventivo, por ordem da juíza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1.ª Vara Federal de Manaus.

A juíza acolheu os argumentos da PF e da Procuradoria da República – o casal estaria ocultando e destruindo provas de um esquema de desvios de R$ 50 milhões da área da Saúde. O ex-governador teria recebido R$ 20 milhões em propinas de empresários do setor, durante a sua gestão. Parte desse dinheiro teria sido destinada à compra de um imóvel de R$ 7 milhões e na reforma da mansão do casal. Ao decretar a prisão preventiva do ex-governador e da mulher dele, a magistrada citou a organização social Instituto Novos Caminhos – suposto braço do esquema de desvios e repasse de propinas para Melo.

DINHEIRO DA SAÚDE – “A fonte do dinheiro em espécie utilizado para a reforma da mansão recentemente adquirida, pela óbvia conclusão a que cheguei, e não há como concluir de modo diverso, era exatamente o Instituto Novos Caminhos, de modo que todo o esquema montado para fraudar a Saúde do Estado do Amazonas, mediante o desvio das verbas federais repassadas, teve em José Melo e Edilene os seus idealizadores e líderes absolutos”, assinalou Jaiza Fraxe. O elo principal do ex-mandatário e dos empresários da Saúde teria sido o médico Mouhamad Moustafá, também alvo da Operação “Maus Caminhos” e seus desdobramentos.

Em sua decisão, a juíza observa que o ex-governador e a ex-primeira-dama “escolheram a pessoa de Mouhamad Moustafá para concretizar seu intento criminoso, a partir da constatação de que o médico é dotado de personalidade descaradamente desviada dos padrões normais de conduta compatível com a lei e a Constituição”. Jaiza Fraxe assinalou ainda que “também constatei, conforme depoimento colhido na fase de inquérito, que era prática comum do casal José Melo de Oliveira e Edilene Gomes de Oliveira a guarda e utilização diária de grandes quantias em dinheiro vivo”.

DESTRUINDO PROVAS – Pesou no decreto de prisão de Edilene o relatório da Polícia Federal com imagens que revelam sua ida à sede da empresa ‘Para Guardar’, na Avenida Torquato Tapajós, em Manaus, às 12h07 do dia 23 de dezembro. Dois dias antes, a Operação “Estado de Emergência”, desdobramento da “Maus Caminhos”, prendeu José Melo. Os investigadores suspeitam que Edilene retirou de dois boxes provas do esquema de desvios na Saúde.

O relatório, subscrito pelo delegado Caio César Cordeiro de Oliveira Silva, destaca que no dia 24de dezembro, os agentes se deslocaram à ‘Para Guardar’ para buscas nos boxes 1106 e 1108 “como sendo relacionado ao investigado José Melo de Oliveira”. “Ao iniciar as buscas, pela manhã, fomos informados pelo representante da empresa, o senhor José Benzecry Benchimol, bem como, por funcionários da empresa, que a senhora Edilene Gomes de Oliveira, esposa do investigado José Melo de Oliveira, esteve no local, no dia anterior, 23/12/17, por volta das 12h, acompanhada de dois parentes, permanecendo por cerca de duas horas, ocasião em que solicitou abertura dos boxes 1106 e 1108, ora objetos de busca”, descreve o documento.

ARROMBAMENTOS – “Naquela ocasião, em 23/12/17, os boxes tiveram de ser arrombados pelo funcionário da própria empresa, pois a senhora Edilene informou que as chaves haviam sido levadas pela Polícia Federal no dia da Operação Estado de Emergência”, segue o relatório. “Segundo informações do representante da empresa, a senhora Edilene apresentou-se bastante abalada e chorosa.”

A PF diz que os funcionários da ‘Para Guardar’ informaram que a ex-primeira-dama “retirou algumas caixas, as quais se assemelham às caixas de cera que foram encontradas pela equipe nesta data (24/12/17), no boxe 1106”. A PF anexou imagens das câmeras de segurança da empresa, no início da tarde de 23 de dezembro, “ onde se percebe a presença da senhora Edilene e de seus parentes, bem como, em destaque, a imagem do parente (sexo masculino) da senhora Edilene carregando uma caixa ao ombro e imagens de caixas dentro do boxe 1106, tratando-se de cera para uso estético.”

CAIXAS DE CERA? – Diz o advogado da primeira-dama: “A prisão preventiva foi decretada com base em informações parciais de fatos confirmados pela sra Edilene Melo e por suposições sem qualquer base fática comprovada.”

“É fato que a sra Edilene Melo esteve em empresa local de ‘guarda volumes’ dois dias após as ordens de busca e apreensões. Entretanto, esteve no local para fazer novas chaves para ter acesso à cera de depilação, material necessário ao funcionamento de sua empresa. Foram retirados do local 5 caixas de cera conforme já circula em imagens de câmeras da própria empresa divulgadas na imprensa local”, afirma o advogado José Carlos Cavalcanti Junior, acrescentando:.

“Não se pode atribuir ao casal Melo os medos e ilações de uma suposta testemunha que havia trabalhado na casa do casal. Afirmou-se, ainda na decisão, que a ordem pública estaria ameaçada, conforme movimentação de populares em redes sociais. Ora, não se tem notícia de nenhuma manifestação no mundo real que leva ao menos supor que a ordem pública esteja em risco. Sendo assim, a liberdade dos investigados José Melo e Edilene Melo não constitui nenhuma forma de risco para a investigação ou perturbação da ordem pública”, conclui o advogado.


05 de janeiro de 2018
Fábio Serapião, Julia Affonso e Fausto Macedo
Estadão

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