"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

NOVA MINISTRA FOI CITADA EM DELAÇÃO DA ODEBRECHT E DA JBS


Delator relatou repasse de R$ 200 mil
Escolhida pelo presidente Michel Temer (PMDB) para o Ministério do Trabalho, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) foi citada nas duas delações premiadas que sacudiram a política brasileira em 2017; a da Odebrecht e a da JBS. Executivos das empresas atribuíram a Cristiane, filha do ex-deputado federal Roberto Jefferson, cacique-mor do PTB e delator do mensalão, participação na negociação da suposta venda do apoio político do partido e o recebimento de dinheiro via caixa-dois nas eleições de 2014.
COMPROU APOIO – O ex-diretor de Relações Institucionais da JBS Ricardo Saud disse aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que a empresa comprou o apoio petebista à campanha presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG). A nova ministra foi uma das principais articuladoras da adesão do partido, então na base aliada da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), às fileiras aecistas naquele ano. Conforme o delator, Cristiane e o deputado federal Benito Gama (PTB-BA) indicaram o tesoureiro do PTB Luiz Rondon para receber R$ 20 milhões, suposto “preço” do apoio do partido ao tucano.
Saud afirma que R$ 17 milhões foram doados oficialmente a diretórios estaduais do PTB, R$ 2 milhões entregues a Rondon em dinheiro vivo e R$ 1 milhão depositado em contas indicadas pelo tesoureiro. “Quatro milhões [foram] para o Rio de Janeiro, que é a origem da Cristiane Brasil e do Roberto Jefferson”, afirmou Ricardo Saud. Cristiane declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) doações de R$ 5,3 milhões em 2014, dos quais R$ 2 milhões vieram da Flora Produtos de Higiene e Limpeza e R$ 1,9 milhão da JBS. Os valores, correspondentes a 73,5% do total injetado na campanha dela, foram doados ao diretório fluminense do PTB, que repassou o dinheiro à candidata.
“FATO PITORESCO” – Outro delator a citar a nova ministra do Trabalho foi Leandro Andrade, executivo da Odebrecht. Ele afirmou ao MPF que Cristiane Brasil foi pessoalmente a um escritório no Rio de Janeiro para retirar R$ 200 mil em espécie. Andrade narrou que, durante a suposta entrega do montante, levado ao local por um operador, um “fato pitoresco” aconteceu. Cristiane teria ficado incomodada com uma câmera na sala.
“Existia uma câmera para fazer conference call e Skype com minhas obras no interior. Ela ficou super incomodada com aquilo, achando que eu estava gravando aquele momento. Ela perguntou: ‘mas aquilo ali funciona?’. Eu percebi o constrangimento e falei: ‘não se preocupe que aquilo não é…’. Eu mesmo fui lá, tirei a câmera e botei no chão”, relatou. O Supremo Tribunal Federal (STF) não determinou abertura de inquérito para investigar o suposto recebimento de dinheiro por Cristiane Brasil.
A nova ministra não recebeu doações da Odebrecht em sua campanha a deputada em 2014. Sua prestação de contas eleitorais, contudo, mostra um aporte de R$ 166 mil da Cervejaria Petrópolis, apontada por delatores da Odebrecht como “laranja” de doações da empreiteira. Conforme os relatos, a Petrópolis fazia doações a políticos indicados pela Odebrecht e os valores eram abatidos da construção de fábricas da cervejeira.
BOCA DE URNA – Apesar das citações em delações por irregularidades no financiamento de campanhas – acusações que precisam de provas para seguir à frente na Justiça – o mais notório enrosco da nova ministra com a lei se deu no dia do primeiro turno das eleições de 2014. Cristiane Brasil foi detida na Zona Sul do Rio de Janeiro pela prática de boca de urna. Ela teria pedido votos em Aécio Neves perto de seções eleitorais.
“Passei pelo constrangimento de ter meu direito ao voto confundido com a prática ilegal da boca de urna, ato que jamais pratiquei, nem em minha própria campanha”, afirmou na ocasião. Ela foi liberada depois de prestar esclarecimentos em uma delegacia.

05 de janeiro de 2018
João Pedroso de Campos  
Deu na Veja

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