"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 13 de janeiro de 2018

MEDIDA DE GENTE





No início de 2017, em uma das mais requintadas capitais da Europa, uma rica dama hospedou-se com o filho - ainda criança - e um senhor, definido como "amigo da família", em um luxuoso hotel.

Segundo consta, esta vetusta senhora atravessou toda a noite ingerindo bebidas alcoólicas - foi esta a conclusão dos funcionários do hotel, ao vê-la cambaleando pela portaria às 10:30 da manhã seguinte.

Preocupado com a segurança da criança que a acompanhava, o gerente do estabelecimento decidiu chamar a polícia. Tão logo chegaram, os agentes da lei foram exaustivamente desacatados após terem afirmado, à vista do bafo da distinta senhora, ainda trôpega, e das diversas taças de vinho vazias sobre a mesa, estar ela embriagada.

Chamada às falas em uma delegacia, ela confessou seu estado lamentável - fruto do seu inconformismo diante da notícia de que seu ex-parceiro engravidara sua melhor amiga. Disse ter ingerido nada menos que três garrafas de vinho, na companhia do amigo com o qual se hospedara.

Em função desta conduta deplorável, que expôs a risco uma inocente criança, esta rica senhora viu-se condenada por um juiz ao pagamento de uma multa em torno de R$ 2 mil. Inconformada, decidiu recorrer.

Diante de um tribunal, sustentou ter sido forçada a confessar uma embriaguez que jamais existira - afinal, não havia ingerido três garrafas de vinho, mas apenas duas taças. Esclareceu que seu andar trôpego, naquela ocasião, devia-se a um problema de contração muscular nos pés que, volta e meia, faz com que seu passo seja irregular.

Aclarou, ainda, que sua desorientação, com toda a certeza, era fruto da combinação daquelas duas taças de vinho com medicamentos antibióticos que havia ingerido. Finalmente, reforçou que seu forte bafo, digo, hálito intenso, devia-se apenas às duas taças de vinho - que a conduziram suavemente para a cama às 11 horas da noite. Seria impossível, assim, que tivesse sido surpreendida embriagada às 10:30 da manhã seguinte no saguão do hotel.

Diante de tão convincentes esclarecimentos, esta impoluta senhora foi absolvida das acusações que lhe foram imputadas - o tribunal deu-lhe razão e cancelou a pena de multa imposta.

Convicto de que o nível de uma civilização pode ser medido pelo que seus juízes decidem, fico a pensar sobre a quantas anda o da nossa.

13 de janeiro de 2018
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.

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