"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 30 de dezembro de 2017

BENEMERÊNCIA COM CAUSA, NA GRIFFE TEMER, PARA BENEFICIAR RÉUS DA CORRUPÇÃO

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Charge do Ed Carlos (Humor Político)
A ministra Cármen Lúcia tirou o presente de Natal da gatunagem do colarinho branco. Ela suspendeu o decreto de Michel Temer que afrouxava as regras para o indulto presidencial. O texto permitia perdoar até 80% das penas de condenados por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro.
O ato ganhou o apelido de “decreto do insulto” e gerou um levante de juízes e investigadores. Nomeada por Temer, a procuradora Raquel Dodge classificou o texto como “arbitrário”, “inconstitucional” e “indiscriminado”. Ao contestar a generosidade presidencial, ela conseguiu o que parecia impossível: recebeu elogios do antecessor, Rodrigo Janot.
IMPUNIDADE – Para a chefe do Ministério Público Federal, o decreto “ampliou benefícios desproporcionalmente e criou um cenário de impunidade”. Ela disse que a medida favorecia, em especial, quem praticou crimes contra a administração pública. Além de reduzir penas, permitia o cancelamento de multas aplicadas pela Justiça.
“O decreto de indulto faz o crime compensar”, escreveu Dodge. “A Lava Jato está colocada em risco, assim como todo o sistema de responsabilização criminal”, acrescentou.
A presidente do Supremo concordou com os argumentos da procuradora. “Indulto não é nem pode ser instrumento de impunidade”, afirmou. “Não é prêmio ao criminoso nem tolerância ao crime. Nem pode ser ato de benemerência ou complacência com o delito”, prosseguiu.
MAIS DESGASTE – A liminar amplia o desgaste de um governo que passou o ano na defensiva, com o presidente e seus aliados mais próximos acusados de corrupção. A decisão tem trechos curiosos. Em dois momentos, Cármen cita decisões do ministro Gilmar Mendes, conselheiro do Planalto, para apontar desvio de finalidade no decreto.
Em outra passagem, ela observa que o indulto não pode se converter em “benemerência sem causa”. A presidente do Supremo foi elegante, porque a causa da benemerência de Temer estava claríssima.

30 de dezembro de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha

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