Michel Temer resolveu inflar as ambições de João Doria. Nesta segunda-feira, o presidente participou de uma solenidade na Prefeitura de São Paulo. Aproveitou apara afagar o ego do tucano, a quem chamou de “velho amigo” e “companheiro”. O discurso já começou em clima de flerte. Temer quebrou o protocolo e saudou apenas o prefeito. “Algumas autoridades até foram esquecidas por um ou outro. Não pelo João Doria, naturalmente, que é rápido em todas as manifestações”, disse.
Foi a senha para uma longa sessão de elogios. “Há muito tempo eu verificava a fórmula do João trabalhar, que é de organização, horários rígidos e muita conciliação”, derramou-se o presidente. “Eu tenho orgulho, com a devida licença, de me equiparar às atitudes do João”, prosseguiu.
VISÃO NACIONAL – Para não deixar dúvidas, Temer disse que o prefeito não tem “uma visão apenas municipalista, mas uma visão nacional”. “Eu vejo que tenho um parceiro, um companheiro, alguém que compreende como ninguém os problemas do país”, exaltou.
O presidente ainda arriscou um trocadilho com o tema do encontro: a cessão de um terreno no Campo de Marte. “Sabemos todos quanto tempo os astronautas levaram para tentar chegar a Marte. E eu vejo que o João Doria em menos de sete meses chegou a Marte, não é?”, gracejou.
Até os habitantes de outros planetas sabem que Doria quer concorrer ao Planalto. Ao descrevê-lo como “um exemplo para a administração pública”, Temer alimenta o sonho do prefeito e sinaliza com um possível apoio do governo e do PMDB.
ALCKMIN DE FORA – A força do presidente como cabo eleitoral é duvidosa. Com 5% de aprovação, ele tem tudo para se transformar num espantalho de votos em 2018. No entanto, a visita a Doria serviu ao menos para uma coisa: retaliar Geraldo Alckmin.
O Planalto culpa o tucano pelos 11 votos do PSDB paulista a favor da denúncia da Procuradoria. Ao encher o balão do prefeito, Temer ajuda a esvaziar o do governador.
10 de agosto de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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