Em maio passado, o crescimento econômico retornou ao campo negativo quando o governo reconheceu, antecipadamente, outra contração da economia com elementos colhidos, em parte, antes da eclosão de mais um capítulo vergonhoso da crise política que vem comprometendo seriamente o atual governo e influenciando significativamente a confiança dos agentes econômicos.
O leve sorriso exibido no semblante da economia brasileira com os resultados positivos em sua atividade econômica a partir de janeiro desse ano (+ 0,51%), fevereiro (+1,35%) e abril (+ 0,15%) sendo que, este último, patrocinado pelo agronegócio e o elevado nível das exportações, levou o governo a comemorar o "fim da recessão", após atravessarmos um longo período de onze trimestres altamente recessivos. Novamente, fomos forçados a ter que aceitar outro choque de realidade com o número recentemente divulgado do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central).
O indicador, que é conhecido como uma espécie de prévia do Banco Central(BC),criado para tentar antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sinalizou uma queda de 0,51%, muito acima do esperado pelo mercado financeiro no quinto mês do ano comparando-o com abril, já dessazonalizado (ajustado para o período). Em 2017, é o segundo resultado negativo do indicador e a maior queda desde agosto do ano passado, que abrange projeções relacionadas à produção nos setores de serviços, indústria e agropecuária, assim como o impacto dos impostos sobre os produtos.
O primeiro recuo foi verificado em março (-0,46%), ao final do primeiro trimestre do exercício, quando a economia provavelmente atingiu um ponto de inflexão e, dessa forma, deixou transparecer que a consequência desse resultado vem reforçar que a retomada do crescimento será intercalada de altos e baixos e será altamente influenciada pelos próximos capítulos da vergonhosa crise política, considerada a pior da história nacional, na qual se observa uma visível e crescente decadência moral e ética no campo interno e uma preocupante descrença externa quanto ao futuro do Brasil.
Até então, o mais provável é que o crescimento da economia venha a continuar debilitado e, principalmente, volátil, ao menos até o final deste ano, em função do progressivo e elevado clima predominante de incerteza política aliado a outros fatores de aspectos estruturais.
Os analistas do mercado financeiro são acostumados a lidar com riscos, evidentemente ao assistir tanta incerteza prevalecendo em nosso ambiente doméstico e, também, uma série de indefinições visíveis que poderão começar a contaminar as projeções de crescimento para 2018. Para alguns deles, o Brasil deixou o fundo do poço desde meados do ano passado; o que na verdade os preocupa é a velocidade da recuperação, a qual, atualmente, vem se destacando pelo ritmo bastante lento, que evita escaparmos definitivamente do precipício a que fomos arremessados por uma inescrupulosa seita criminosa e amplamente inconsequente.
A queda em nossa atividade econômica continua favorecendo conceitualmente a flexibilização na trajetória da taxa básica de juros da economia (Selic), que vem sendo executada com maestria pelo BC, prevendo-se mais um admirável corte consecutivo de 1 ponto percentual(atualmente está fixada em 10,25%), sendo prudente não acelerar demais o passo na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) prevista para o 26 de julho próximo.
A mudança de rumo realizada na política econômica foi extremamente importante para o País, pois os desequilíbrios macroeconômicos causados pelos governos petistas passaram a ser vistos com especial atenção; esta mudança está abrindo uma interessante oportunidade para setor privado ao promover uma onda de concessões e a adoção de consistentes marcos regulatórios.
Espero que a atual estratégia econômica não venha a ser modificada pelo menos até 2018, quando teremos um novo mandatário eleito pelo voto popular; independente do desfecho que possa acontecer à atual crise política, pressinto ser este um ponto indiscutível. É possível até que a política econômica venha a sofrer alguns desvios quanto ao timing e suas correções, o que, sem dúvida, serão fundamentais. Da mesma forma, a natureza das reformas, caso todas elas sejam aprovadas também poderão sofrer alinhamentos, mas quanto à sua direção, não é aconselhável alterá-las. Para mim, não é uma questão de opção ideológica, mas uma opção puramente pragmática.
Na realidade, necessitamos apontar caminhos para que a política econômica siga numa trajetória correta; acho que estamos num momento único, enquanto sejam permitidos ajustes no modelo, sem os custos de reputação do oportunismo político.
22 de julho de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela
UNIFACS (Universidade Salvador)
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