"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 23 de março de 2017

PIADA DO ANO: RENAN DEFENDE FIM DO FORO PRIVILEGIADO E APOIA A LAVA JATO



Discurso estava escrito, porque era um “dever de casa”
Por mais de uma hora, em discurso para um plenário atento, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), passeou pela Revolução Francesa, pela Operação Mãos Limpas na Itália, citou o fechamento do Supremo Tribunal Federal durante a ditadura militar, recorreu aos pensadores Norberto Bobbio e Montesquieu, ao cronista Rubem Braga e a figuras menos lustradas da política brasileira para desfiar seu inconformismo com os rumos das investigações da Operação Lava-jato que, segundo ele, o jogaram no meio de inquéritos “sem um fiapo sequer de provas”. Alvo de oito inquéritos, Renan diz que os alagoanos podem ter certeza que jamais vão conseguir provar nada contra ele, porque nunca cometeu nenhum crime.
Na longa fala exaltada em que atacou a uso político da Polícia Federal, a “histeria investigativa” e os vazamentos seletivos “estimulados” pelo procurador-geral Rodrigo Janot, Renan disse ser vítima de uma situação vexatória porque a imprensa insiste em martelar contra ele “prejulgamentos preconceituosos”.
MATÉRIAS CONEXAS – Depois de muitas críticas à violação do estado democrático de direito, finalizou defendendo — sem citar o projeto que criminaliza abuso de autoridade — que o Senado se abra para o debate de “matérias conexas” ao fim do foro privilegiado.
Renan disse que tentou, sem sucesso, em 2013, votar o projeto do senador Álvaro Dias (PV-PR) que acaba com o foro privilegiado, mas “de maneira casuística” os jornais que hoje defendem o fim do foro especial fizeram editoriais dizendo que aquilo era um esforço que estava fazendo para ampliar as instâncias recursivas do mensalão.
“O mesmo argumento que levou esta Casa a não votar o fim do foro em junho de 2013 está sendo usado hoje para dizer que o Senado Federal quer se beneficiar do foro especial, como a passar para a sociedade a ideia de que ser julgado pelo Supremo é ser julgado para a impunidade. Não é. Então, façamos o debate. Vamos trazer para aqui todos para que a gente possa discutir. Simultaneamente vamos também poder discutir os temas conexos que, juntamente com esse tema, tramitam aqui no Senado Federal. Acho que esta Casa, mais do que nunca, tem de se abrir ao debate, tem de trazer todos aqui, como fizemos com o Juiz Sérgio Moro, para que possam, desta tribuna, externar seus pontos de vista, trazer seus argumentos para construir com um Brasil melhor” — defendeu Renan.
ELOGIO A MORAES – Renan começou sua fala homenageando o novo ministro do STF, Alexandre Moraes, que ele prevê, terá uma atuação histórica na Corte. E disse que faria uma comunicação ao País para repor inverdades que existem hoje no STF a seu respeito, em função de delações premiadas. Ao reclamar muito das prisões preventivas de delatores, citou o caso de um preso da Lava-jato que ao final foi inocentado, mas está com a vida destruída e nunca se livrará do estigma de ex-preso.
“Isso é o resultado da histeria investigativa e inquéritos que não terminam nunca, resultado da generalização, de medir todos pela mesma régua, de colocar na mesma vala inocentes e bandidos. O resultado das prisões para forçar delações, determinadas por um juiz de primeira instância muitas vezes usurpando atribuições do STF” — disse Renan, completando que a Imprensa veicula informações para massificar inverdades.
Renan disse que considera a Operação Lava-jato intocável, mas ninguém está livre de críticas e que, como delatado, entende que a investigação é o único caminho para esclarecer os fatos.
DELAÇÕES PREMIADAS – O líder do PMDB reclamou dos acordos de delação premiada que acabam, segundo ele premiando os delatores. Sem citar o ex-senador Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro que grampeou conversas com ele e outros caciques do PMDB, ele citou um delator que saiu no lucro. “No acordo devolveu R$ 60 milhões e lavou R$ 700 milhões de dinheiro roubado” — disse Renan.
Por fim, ao apoiar declarações do ministro Gilmar Mendes, contra os vazamentos das investigações, disse que o Supremo não pode mais conviver com isso, tem que guardar a Constituição. E lembrou do tempo, no governo Castelo Branco, em que o STF foi fechado. “Sinto o odor de enxofre dos tempos da ditadura” — disse, ressalvando confiar que o STF irá separar o “joio do trigo”, separando doações legais de propina. E disse que há um movimento para estigmatizá-lo e desacreditar o Parlamento.
REVOLUÇÃO FRANCESA – “A caça às bruxas aconteceu na Revolução Francesa. As boas intenções foram enterradas pelo fanatismo alucinado de falsos pregadores” — protestou Renan.
Ao descer da tribuna, foi cumprimentado efusivamente. Mas ninguém fez apartes ou apoiou publicamente a fala. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) foi a única que elogiou o discurso. No discurso, disse que Renan fez “uma brilhante exposição” sobre a defesa do estado de direito.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– A caça às bruxas não tem nada a ver com a Revolução Francesa, mas com a Inquisição, que rodou meio mundo. Ao contrário do senador José Reguffe, que segunda-feira discursou de improviso, Renan leu um pronunciamento que escreveram especialmente para ele, com bastante substância e um monte de bobagens. É um farsante e seu discurso necessita de tradução simultânea, porque é mentira do princípio ao fim. E Renan concorre à Piada do Ano, ao dizer que considera a Lava Jato intocável. Na verdade, ele acha que a Lava Jato é inaceitável, abominável e desprezável. Quanto ao cheiro de enxofre, é a batata de Renan que está assando. (C.N.)

23 de março de 2017
Maria Lima
O Globo

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