Os jornalistas, quase sempre, são apenas generalistas e sempre dependem das informações de suas fontes. No caso específico de Brasília, que é uma pequena ilha, delimitada pela genialidade do urbanista Lúcio Costa, no chamado Plano Piloto todos se conhecem, a proximidade ao poder se dá com a maior facilidade. Por isso, não se pode confiar nas informações fornecidas por políticos e autoridades, porque a manipulação é uma de suas especialidades. É preciso filtrá-las permanentemente e até fazer tradução simultânea. De toda forma, porém, os fatos vão surgindo e se somando, a verdade acaba vindo à tona.
No caso do julgamento da chapa Dilma Rousseff/Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral, o que não falta é notícia manipulada, com objetivo de livrar o presidente Michel Temer. Para não pegar muito mal, até já se fala também em inocentar a própria Dilma Rousseff, porque os dois ex-companheiros de chapa seguiram o exemplo de Lula e nunca sabem de nada, todas as tramoias aconteceram à revelia deles, vejam até que ponto vai a desfaçatez desse povo.
IMPARCIALIDADE? – O fato concreto é que está cada vez mais clara a estratégia de defesa concebida pelo ministro Gilmar Mendes, que é servidor público com obrigação de agir com imparcialidade na presidência do TSE, mas não o faz, porque prefere se comportar como um homem de boa vontade, que não pode ver um amigo em dificuldades e logo se oferece para ajudar.
Foi Mendes quem inventou a separação das contas, com base num falso precedente, o julgamento do governador Ottomar Pinto, de Roraima, em 1999. Logo se viu que a tese era ardilosa, porque foi constatado que não houve separação das contas, a chapa Ottomar Pinto/José de Anchieta Jr. foi absolvida conjuntamente, por falta de provas, o governador até já tinha morrido e vice completou o mandato.
SEMPRE ELE… – Por coincidência, foi também Mendes quem criou outras teses altamente polêmicas, ao alegar que caixa dois eleitoral não é crime, é preciso haver financiamento público de campanha, os empresários têm de voltar a patrocinar as candidaturas, o país necessita do voto em lista fechada para reduzir o custo das eleições – é um nunca-acabar de idéias criativas no sentido de salvar Temer e abafar a Lava Jato.
Também por coincidência, os advogados do PSDB defenderam a tese de que Temer deve ser inocentado no julgamento do TSE. Logo em seguida, em nova coincidência, o parecer da vice-procurador-geral eleitoral diz que não ficou provado que Dilma e Temer tiveram participação nas irregularidades da campanha, embora se saiba que somente a Odebrecht entrou com R$ 144 milhões, em dinheiro vivo, depósitos no exterior ou pagamentos por empresas coligadas, com a cervejaria Itaipava, foi um verdadeiro festival de caixa 2, que não cabe debaixo do tapete.
MAIS COINCIDÊNCIA – E agora, na chamada undécima hora, em mais uma coincidência, surge a interpretação de que o parecer final do ministro-relator Herman Benjamin, do TSE, será a favor de cassar a chapa de Dilma/Temer, mas contra a punição para tornar os dois candidatos inelegíveis. Mas é uma notícia totalmente manipulada, que os jornalistas não filtraram, e o objetivo do informante é apenas pavimentar o caminho da impunidade de Temer.
Não é possível imaginar que o ministro Herman Benjamin, um dos mais capacitados integrantes do Superior Tribunal de Justiça, desconheça que a cassação da chapa automaticamente tornará Dilma e Temer inelegíveis, em função da Lei da Ficha Limpa. Só pode ser Piada do Ano.
Em tradução simultânea, recomenda-se que os jornalistas precisam tomar cuidado com as notícias em off de Brasília. Como as antigas estrelas de cinema que se banhavam com o sabonete Lever, nove entre cada dez informantes estão usando os jornalistas para fazer lavagem de notícias. No próximo julgamento no TSE, porém, essa manipulação pode sair pelo ralo, porque a jurisprudência firme é no sentido de não permitir a separação da chapa, como aconteceu nos casos dos governadores Ottomar Pinto (RR), Jackson Lago (MA), Cássio Cunha Lima (PB) e Marcelo Miranda (TO). A não ser que haja mais uma coincidência com a griffe do onipresente Gilmar Mendes, é claro.
31 de março de 2017
Carlos Newton
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