É provável que acusem de preconceituosa a narrativa a seguir, sobre uma noite de diversões na cidade (bairro) de Itapoã, uma invasão organizada por políticos brasilienses que se transformou em Administração Regional e hoje conta com 110 mil habitantes. Entretanto, um pouco de preconceito contra lugares e atitudes não faz mal a ninguém, até ajuda a evitar tragédias.
Se livres estivéssemos de ideias preconcebidas, andaríamos em qualquer lugar, a qualquer hora, expostos a perigos diversos, e aceitaríamos como normais atitudes que reputamos indevidas e indecorosas. Eu tenho, por exemplo, restrições contra quem arrota e libera flatos à mesa, mesmo que em outra cultura isso seja considerado lindo e maravilhoso.
Voltando ao Itapoã, as adolescentes e jovens, de 12 a 18 anos, começam no fim da tarde a se preparar para a balada da noite, formando rodinhas nas pontas de rua. Cada uma tem algo tatuado no corpo ou um piercing, mas não sabem ainda o que aqueles adereços significam. Uma delas, na delegacia, quando perguntada sobre quem era Bob Marley, disse que era um artista da Bahia.
Os rapazes também se aprontam e vestem o chamado kit-mala: bermudão tectel, camiseta ou camisa grandes, tênis de marca, correntão de prata e boné virado para trás. Tomam para esquentar um ligante feito com vodka, leite moça e Redbull, uma espécie de bomba H para a cabeça, complementando com drogas ilícitas.
Aos grupos, dirigem-se para a farra, que consiste em beber e ouvir música zoadenta em bares e carros com sons potentes.
Os pais que tentaram convencer os filhos a não saírem para o meio do perigo já levaram sopapos e tiveram o dissabor de ver alguma louça quebrada pela ira dos meninos que não aceitam ser contrariados, porque estão no sagrado direito de curtir a vida.
Os jovens, rapazes e moças, pouco falam, cumprimentam-se mais com o corpo, alguma piada ou um alô monossilábico. Andam se sacudindo e peneirando. Qualquer deslize é motivo para brigas. Por ali ferve um caldeirão de ressentimentos, e há na classe média quem ache legal visitar o Bar da Galega ou o Escurinho da Rua do Pau Grande.
Na segunda-feira, as delegacias ficam abarrotadas de registros decorrentes da diversão dos meninos. A sorte é que eles atiram mal, senão os índices de crimes fatais seriam o triplo do que se registra atualmente.
01 de março de 2017
Miguel Lucena - Delegado da PCDF e jornalista
Se livres estivéssemos de ideias preconcebidas, andaríamos em qualquer lugar, a qualquer hora, expostos a perigos diversos, e aceitaríamos como normais atitudes que reputamos indevidas e indecorosas. Eu tenho, por exemplo, restrições contra quem arrota e libera flatos à mesa, mesmo que em outra cultura isso seja considerado lindo e maravilhoso.
Voltando ao Itapoã, as adolescentes e jovens, de 12 a 18 anos, começam no fim da tarde a se preparar para a balada da noite, formando rodinhas nas pontas de rua. Cada uma tem algo tatuado no corpo ou um piercing, mas não sabem ainda o que aqueles adereços significam. Uma delas, na delegacia, quando perguntada sobre quem era Bob Marley, disse que era um artista da Bahia.
Os rapazes também se aprontam e vestem o chamado kit-mala: bermudão tectel, camiseta ou camisa grandes, tênis de marca, correntão de prata e boné virado para trás. Tomam para esquentar um ligante feito com vodka, leite moça e Redbull, uma espécie de bomba H para a cabeça, complementando com drogas ilícitas.
Aos grupos, dirigem-se para a farra, que consiste em beber e ouvir música zoadenta em bares e carros com sons potentes.
Os pais que tentaram convencer os filhos a não saírem para o meio do perigo já levaram sopapos e tiveram o dissabor de ver alguma louça quebrada pela ira dos meninos que não aceitam ser contrariados, porque estão no sagrado direito de curtir a vida.
Os jovens, rapazes e moças, pouco falam, cumprimentam-se mais com o corpo, alguma piada ou um alô monossilábico. Andam se sacudindo e peneirando. Qualquer deslize é motivo para brigas. Por ali ferve um caldeirão de ressentimentos, e há na classe média quem ache legal visitar o Bar da Galega ou o Escurinho da Rua do Pau Grande.
Na segunda-feira, as delegacias ficam abarrotadas de registros decorrentes da diversão dos meninos. A sorte é que eles atiram mal, senão os índices de crimes fatais seriam o triplo do que se registra atualmente.
01 de março de 2017
Miguel Lucena - Delegado da PCDF e jornalista
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