Na quinta-feira passada, logo que a Veja divulgou que o advogado José Yunes, ex-assessor do presidente Michel Temer, havia denunciado que o ministro Eliseu Padilha o fizera de “mula involuntário” na campanha de 2014, toda a imprensa noticiou que a Procuradoria-Geral da República iria pedir abertura de inquérito contra o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, para investigar as acusações. E esse pedido deve ser enviado pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal logo depois do carnaval, segundo informou o “Jornal Nacional”.
PADILHA E YUNES – O objetivo do inquérito (se houver, é claro) será apurar as citações feitas pelo executivo da Odebrecht, que apontou Padilha como destinatário de R$ 4 milhões, em dinheiro vivo, e disse que parte da “doação” foi entregue a José Yunes, em São Paulo, para repassar a Padilha, que operava o caixa dois do PMDB.
Depois de publicada essa informação pela Veja, o caso se agravou e se complicou, porque o doleiro Lúcio Funaro, que teria levado o dinheiro ao escritório de Yunes para ser entregue a Padilha, mandou seu advogado desmentir e pediu uma acareação com o ex-assessor de Temer, com Padilha e com o delator da Odebrecht, o ex-diretor Cláudio Melo Filho. Logo em seguida, o próprio Yunes também pediu uma acareação com o delator e com Padilha. Portanto, o desenrolar desse imbróglio passou a depender diretamente do procurador Janot, mas a gravidade da doença de Padilha, que tinha câncer e teve de extrair a próstata, mudou inteiramente o quadro.
ACAREAÇÃO E APURAÇÃO – São duas importantíssimas providências que só o chefe do Ministério Público Federal pode solicitar – a realização da acareação entre os envolvidos e a abertura do inquérito sobre Padilha. E se houver algum pedido de Janot (conjunto ou separado), terá de ser aprovado pelo relator da Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin.
Nesse clima de suspense político-criminal, um terceiro fator também está em jogo – a independência da Procuradoria-Geral da República. O mandato de Janot está acabando e há várias semanas vem sendo noticiado que ele pretende disputar uma inédita terceira indicação. Ou seja, vai incluir seu nome entre os candidatos, haverá a votação interna no Ministério Público Federal e depois Temer escolherá um deles, que não necessariamente terá de ser o mais votado, embora sempre seja recomendável e democrático.
INTERESSES PESSOAIS – Isso significa que se formou uma curiosa equação política, nos seguintes termos: Padilha depende de Janot, que depende de Temer para ser reconduzido ao cargo, configurando uma situação que pode estar contaminada por interesses pessoais, digamos assim.
É do interesse de Temer que Padilha seja investigado, porque o chefe da Casa Civil, que não manda mais no Planalto, ficará ainda mais enfraquecido. Mesmo assim, o presidente não pretende exonerá-lo, e Padilha jamais pedirá demissão, porque precisa desesperadamente do foro privilegiado. Agora, com a confirmação de que se trata de câncer, com extração total da próstata e recuperação bem mais demorada, a licença de Padilha e a acareação estão automaticamente prolongadas “sine die”, como se dizia antigamente. Mas Janot tem de decidir sobre a abertura do inquérito.
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PS- Por motivos óbvios, Temer não demite nenhum cacique do PMDB. Foi assim como Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima. Ele deixa que apodreçam até jogar a toalha. Mas o ministro Padilha é diferente. Sua imagem já apodreceu faz tempo, mas ele não se demite. E o presidente terá de aturá-lo, porque o ainda chefe da Casa Civil é um homem-bomba tipo Eduardo Cunha, aquele ex-deputado que está doido para fazer delação premiada e dizer duas ou três coisas que sabe sobre Temer, ao estilo do cineasta francês Jean-Luc Godard. (C.N.)
28 de fevereiro de 2017
Carlos Newton
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