"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

FIDEL CASTRO E OS TRAÇOS DA CULTURA POLÍTICA TOTALITÁRIA


ARTIGOS - MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO




“A mente comunista não funciona segundo os cânones da psicologia usual, mas segue uma lógica própria onde se misturam, em doses indistinguíveis, a habilidade dialética, o auto-engano histérico e a mendacidade psicopática.”
Olavo de Carvalho

No dia 25 de Novembro de 2016, Fidel Castro morreu, após um longo reinado de terror e miséria imposto pela (sua) Cuba “revolucionária”.

Esteve no poder durante décadas, desde a gesta comunista de 1959, um festival de fracassos socioeconómicos, propaganda descarada, falso progressismo e dogmatismo ideológico sem fim, para consumo dos seus asseclas e demais idiotas úteis.

Fidel foi um ditador implacável e, mau grado o lamento cínico das carpideiras do regime, um psicopata sem escrúpulos, responsável, refira-se, pela morte de mais de 100 mil pessoas.

Foi talvez o pior ditador que a América Latina conheceu em toda a sua martirizada história.

Além do mais, foi um chefe militar perigoso.

Basta recordarmos a famosa “crise dos mísseis” de 1962, que esteve, num curto espaço de tempo, cedendo às manobras de Nikita Khrushchev, a um passo de lançar o mundo no holocausto nuclear, com consequências imprevisíveis.

Exportou, com primor, tácticas de guerrilha e ajudou a implantar ferozes tiranias políticas em África e um pouco por toda a América Latina.

Foi na verdade um génio perverso, arquitectando, qual Maquiavel enfurecido, revoltas e sedições armadas, arruinando, decerto, nações inteiras com o rolo compressor da sua famigerada ideologia totalitária. Só a OLAS, instância que comandava a vasta guerrilha na América Latina, matou milhares de pessoas.

Fidel Castro declarou então, com a raiva típica dos revolucionários, inspirada, quem sabe, em Eugène Sorel: “Faremos um Vietname em cada país da América Latina”. Dito e feito.

A OLAS foi fundada em 1966, após a Tricontinental de Havana, sob proposta de Salvador Allende, o qual, em pouco tempo, arruinou o Chile com o seu socialismo rapace e de caserna (sobre estoutra figura patética do comunismo internacional, ver Casimiro de Pina, Sociedade Civil, Estado de Direito, Economia e Governo Representativo – Repensando a Tradição Liberal-Conservadora no Séc. XXI, Chiado Editora, Lisboa, 2016, pp. 666-668, maxime).

Após a queda do Muro de Berlim e a implosão da URSS, o torcionário de Havana haveria de criar, com Lula da Silva e frei Betto, o Foro de São Paulo (reunindo partidos políticos de esquerda, organizações terroristas, ONGs comunistas, traficantes de droga, FARC, MIR chileno, etc., etc. – ver, em síntese, https://www.youtube.com/watch?v=NzOSNKtHOek, http://olavodecarvalho.org/semana/070115dc.html e http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/conheca-o-foro-de-sao-paulo-o-maior-inimigo-do-brasil/), cujo objectivo era, basicamente, “Recuperar na América Latina aquilo que foi perdido no Leste europeu”.

Os “analistas” políticos cabo-verdianos, diligentes como são, nunca falam desse poderoso esquema de poder e dominação continental. Preferem, oops, as balelas do costume.

As pseudoalvoradas castristas sempre se cobriram, todavia, com o manto tenebroso da opressão, sob o ferrete de um partido hegemónico, intolerante e incapaz de conviver com a oposição livre e civilizada.

A autêntica Revolução, como salientou, com subtileza, o insuspeito Edgar Morin, aconteceu em Miami e não em Havana!

E não é por acaso que os cubanos, aos milhares, fogem para a pátria livre de George Washington, onde as oportunidades existem e a condição humana, longe de ser um slogan vazio, é valorizada. E protegida.

Racionalmente, não há como glorificar um tirano dessa estirpe. Jamais. O seu legado é, no mínimo, horrível e indefensável.

Cuba, na sua decadência formidável, é hoje a marca registada de Fidel, o grotesco.

Os dissidentes são fuzilados, os críticos reiteradamente amordaçados, os intelectuais e poetas condenados ao exílio (lembremo-nos, por ex., de um G. Cabrera Infante) e a população, tão meiga e cheia de alma e musicalidade, lançada no abismo imerecido do atraso, no meio de abusos/atropelos de toda a espécie, que ferem, aliás, o mais elementar sentimento de dignidade humana.

República da Arbitrariedade e do Medo, eis a herança dessa gente que lê pela cartilha de Marx, instituindo um sistema bárbaro de controlo das consciências através do Comité de Defensa de la Revolución.

Cuba, durante o triste reinado de Fidel, foi transformada num prostíbulo (para gáudio dos turistas…) e na pátria dos “balseros”, os renegados de uma utopia assassina e sem futuro, enquanto os homens da Nomenklatura, senhores de um poder absoluto, vivem no luxo requintado, quase obsceno, circulando, tranquilamente, em carros de alta cilindrada e consumindo produtos ocidentais que as camadas mais pobres não podem ver, diga-se, nem nos melhores sonhos.

Os porcos elitistas de George Orwell, já se sabe, são mais iguais do que os outros.

O próprio Fidel Castro, apesar da imagem de frugalidade que ostentava, para consumo, é certo, da legião de néscios embevecidos, possuía uma ilha privada e adorava lagostas, whiskies e outros produtos caros.

Sempre viveu como um nababo.

É essa figura macabra, deveras monstruosa, daninha e orgulhosamente terrorista – transformando uma nação pacífica na encarnação do inferno de Dante –, que recebe, entre nós, marchas de solidariedade e elogios rasgados do “comandante” Pedro Pires e de escritores como Mário Lúcio Sousa e Filinto Correia e Silva, mais uma prova cabal do arcaísmo insuperável da nossa cultura política, pintando o tirano-mor das Caraíbas com as cores lindas e românticas da velha utopia comunista. Nada mudou, no essencial.

O poeta francês Louis Aragon também declarava, sem qualquer hesitação ou sentimento de remorso, no altar da propaganda comunista, o seguinte: “Os olhos azuis da revolução brilham com uma crueldade necessária”.

Ou seja, toda a brutalidade é justificável, porque há um “paraíso” sublime, prometido pelo santo Karl Marx no Manifesto de 1848, à nossa espera numa esquina qualquer do futuro!

Há, por isso, crimes lógicos, acima do julgamento dos homens. O assassino é um herói.

Filinto chega a justificar a tirania castrista com as célebres “conquistas sociais”. É um mito frágil. Pura falsidade, e propaganda comunista larvar.

Quando Fidel Castro entrou triunfalmente em Havana, em Janeiro de 1959, Cuba era o país com o melhor índice de saúde e educação em toda a América Latina, à frente, inclusive, de alguns países europeus.

In illo tempore, a economia cubana suplantava a brasileira.

A “revolução” comunista só fez uma coisa admirável: teve a habilidade, após décadas de experimentação, de fazer regredir essas conquistas, estando Cuba, nos dias que correm, muito atrás de alguns países daquele hemisfério.

O aparelho produtivo de Cuba foi destruído pela política socialista.

Mas o país especializou-se, entretanto, na exportação de…mentiras, a mais próspera indústria da ilha-cárcere.

Eis a imensa glória de Fidel.



13 de janeiro de 2017
Casimiro de Pina é jurista e autor do livro 'Ensaios Jurídicos: Entre a Validade-Fundamento e os Desafios Metodológicos'.

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