"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A MORTE E A MORTE DE TEORI ZAVASCKI

Roubo descaradamente o título da obra de Jorge Amado sobre o passamento de Quincas Berro D’Água para tecer considerações a respeito do acidente aéreo que resultou na morte do catarinense/gaúchoTeori Zavascki, ministro relator do processo da Lava Jato no STF.


A morte é um acontecimento fortuito ou anunciado. As pessoas morrem, subitamente, por inesperada causa interna, ou acidente; e morrem , previsivelmente, quando acometidas por moléstias que conduzem a tal desfecho. 
O que acende tantas luzes de advertência em relação à morte de Teori Zavascki é saber o quanto ela atende à conveniência de verdadeira multidão de pessoas sem escrúpulos, que praticaram graves, continuados e comprovados crimes, com a finalidade de roubar a nação. 
A trágica morte de Teori Zavascki, então, sai dos padrões da normalidade e se torna um caso a exigir meticulosa investigação. 
A clássica pergunta que comparece a tantos inquéritos em que se busca a autoria do crime na persecução penal - a quem isso é proveitoso? - leva a algumas centenas de prontuários. 
A morte de Teori pode beneficiar muita gente, em diferentes graus de conveniência. Até que se concluam as perícias técnicas, as causas do acidente permanecerão envoltas em incertezas. 
Mas a morte de Teori não extingue a colossal tarefa que lhe fora confiada, para desconforto de tantos. Quando o STF acelerava o passo, a fatalidade ou o crime deram-lhe um tranco.

Por outro lado, sempre há outro lado, o infortúnio coloca nas mãos de Michel Temer oportunidade talvez única de desanuviar inteiramente, perante a opinião pública, sua relação com a Lava Jato. Do perfil que tiver o jurista escolhido por ele para suprir a vaga, muito se poderá deduzir. Sob certas condições, até nomes sugeridos e refugados ficarão sujeitos a especulações. Nessa, ou Michel Temer acerta e se conserta ou erra e se enterra.

Pessoalmente, não dou sugestões. No entanto, espero que o presidente indique alguém que, além da imprescindível formação jurídica – aquela que se define como notório saber – e da idoneidade moral, destoe do realejo “progressista”, “politicamente correto” e esquerdista em variados graus que assinala a atual formação do plenário daquela Corte. 
O tom monocromático que o STF adquiriu após um quarto de século de indicações feitas por governos de esquerda e centro-esquerda conspira contra a democracia. 
Cria graves desacertos com o parlamento. Induz o STF a invadir competências do Congresso. Põe a Corte em grave contradição com bem identificada vontade nacional numa série de pautas face às quais a sociedade se foi tornando crescentemente liberal e/ou conservadora. 
Esse desajuste no qual a sociedade vai para um lado e o STF para outro, responde pela grave desconfiança de tantos em relação à real disposição do STF para cumprir seu dever no julgamento de casos de corrupção.

Esperemos que Temer se afine com a ministra Carmem Lúcia, presidente da Corte, que não hesitou em avocar a si, imediatamente, a vacante relatoria da Lava Jato. A situação é bem maniqueísta. Ou se está com o bem, ou se está com o mal.


23 de janeiro de 2017
Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor

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