A notícia de que três adolescentes (dois de 13 e um de 17 anos) incendiaram sua escola em Goiânia ultrapassa qualquer raciocínio lógico. A violência está no ato, nas imagens de livros, carteiras e quadros queimados, mas estes graves danos materiais não me chamaram mais a atenção do que os argumentos que justificaram a barbárie. Perguntados sobre o que motivou o ato de vandalismo os adolescentes responderam que “a escola estava em más condições, “o prédio é velho”, não querem estudar “em uma escola sem estrutura”! Os argumentos em consonância com a mensagem que deixaram no que sobrou de um quadro negro em uma das escolas são emblemáticos: “Nóis comanda essa escola”.
Estamos falando de crianças de 13 anos que pela faixa etária deveriam saber escrever e interpretar a realidade, amar a escola! Estamos falando de uma geração que deveria ter noção básica de direito, ética, valores humanos, bem público…
O axioma é bem claro, embora os erros ortográficos não deixem dúvida do movimento catártico que denuncia uma tensão entre prazer, dor e tragédia.
FRACASSO DA EDUCAÇÃO – Por mais contraditórios, os atos de vandalismo e ignorância denunciam que quando a educação fracassa só resta fazer justiça com as armas que se tem: a violência física. A destruição da escola projeta autodestruição das possibilidades de estudar e crescer. Me permito, como educadora, abstrair kantianamente a realidade política partidária. Não quero, ao menos por um minuto, culpar governo A ou B, porque não quero simplificar o que é dolorosamente complexo por envolver fatores múltiplos.
Meu desespero como educadora e cidadã visa encontrar uma saída. Não podemos continuar fechando os olhos para o fato que estamos fracassando como seres humanos! Precisamos pensar no futuro de um país em que crianças analfabetas mandam sinais de que sua autonomia futura está ameaçada e que estão se autodestruindo frente à irresponsabilidade de um conjunto de autoridades!
Sim, esta responsabilidade é social, minha, sua, das instituições. Não podemos fechar os olhos! Basta de assistencialismo ou culpabilização “do outro”. A responsabilidade é conjunta!
(Silvia Zanolla é professora da Universidade Federal de Goiás/UFG, Núcleo de Estudos em Educação, Violência Infância, Diversidade e Arte)
13 de outubro de 2016
Silvia Zanolla
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