"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

ESQUERDA DEMOCRÁTICA NO BRASIL? EM QUE PARTIDO??

Neste artigo, vamos analisar a história e a conduta atual de mais dois partidos brasileiros que se apresentam como “Socialistas Democráticos”. O primeiro, o PCdoB, de ideologia marxista-leninista-stalinista, nascido na década de 1960 de uma dissidência do antigo “Partidão”, insiste em propagar que tem 94 anos, querendo furtar para si a idade do PCB. O segundo, o PSB, também de inspiração marxista, mas não revolucionário, exibe história acidentada, prenhe de equívocos, conflitos e contradições, como suas duradouras núpcias com o PT, recentemente desfeitas.


PCdoB
– Fundado em 1962, decorrente de uma dissidência havida no seio do PCB, que seguindo o líder soviético Khrushchov, optou pela desestalinização, em 1956, do Movimento Comunista Internacional , o PCdoB tem ideologia marxista-leninista e no seu nascimento já adotava, consequentemente, a linha política de Joseph Stalin. Várias vezes, o partido foi atingido por dissidências, correntes e militâncias paralelas, marginais. Depois, percorreu as linhas chinesa maoísta e, por fim, albanesa, todas experiências comunistas frustradas.

Na década de 1980, cheguei a participar, a convite do PCdoB, em Brasília, das comemorações de um aniversário de nascimento de Stálin, quando assisti ao então dirigente Renato Rabelo proferir entusiástica e derramada palestra sobre a vida do “grande e eterno Joseph Stálin, nosso líder inspirador”. Ao cultuar a ideologia marxista-leninista, ao perseguir a ditadura do proletariado, um regime totalitário, de partido único, contra a liberdade e o pluralismo partidário, um regime partido único, de economia estatal, centralizada, afasta o partido do rol dos Socialistas Democráticos.

Pragmaticamente, por largo tempo, o PC do B foi um aliado de Leonel Brizola, tanto nas eleições nacionais, como nas estaduais. Porém, ao se compor com os desgovernos de Lula e Dilma, participando deles inclusive, ao se comportar como um instrumento do PT, a sigla se distancia definitivamente desse terreno, exceto se considerarmos legítimo e válido o conceito marxista, exclusivo e excludente, de “democracia”.


PSB – O partido nasceu em 1947, do grande fórum 2ª Convenção Nacional da Esquerda Democrática, com a absorção de ideias marxistas, porém como uma alternativa mediana, formulada por João Mangabeira, Hermes Lima e Domingos Velasco, ao Trabalhismo de Getúlio e ao Comunismo de Prestes. Percorreu tortuosos e contraditórios caminhos, interrompidos pela Ditadura Militar de 1964, que incluíram o abrigo de grupo trotskista, aproximações e alianças com a UDN e com o Janismo. Em 1985, o PSB foi refundado.

Ao retornar do exílio em 1979, Miguel Arraes, que fora governador de Pernambuco pelo PST, uma sigla trabalhista, aliada a Jango e Brizola, não ingressa no PDT, como se esperava e seria natural. Arraes se filia ao PMDB, assim como Waldir Pires, do antigo PTB, para surpresa de todos.

Em 1990, de volta ao governo de Pernambuco, Miguel Arraes, eleito pelo PMDB, vai para o PSB. Em 2000, o partido recebe Anthony Garotinho. Importantes quadros, por isto, deixam o partido. Garotinho é candidato a Presidência da República, fica em terceiro lugar e influencia o PSB por três anos, quando, então, é, praticamente, “expulso” da agremiação, pois tem o seu recadastramento negado.


APOIO A LULA
– Arraes retorna à direção e volta a dominar o PSB, apoia Lula nas eleições de 1989 até 2006, e Dilma em 2010. Antes da eleição de 2010, recebe Ciro Gomes, perde mais quadros por conta dessa filiação, mas não o lança candidato a Presidente, preferindo Dilma.

Sempre aliado ao PT, participa dos governos petistas. Somente em agosto de 2014, o PSB desperta, critica os rumos das políticas do PT, sai do governo Dilma e lança Eduardo Campos, neto de Arraes, à Presidência da República, com um programa de governo distante da ideologia populista e da política orçamentária e fiscal suicida do PT. Um desastre de avião mata Campos e o PSB acolhe Marina Silva, em processo de registro da Rede de Sustentabilidade, como candidata à Presidência.


APOIO A AÉCIO E DILMA
– No segundo turno, Marina, derrotada, pessoalmente apoia Aécio Neves, mas o Diretório Nacional do PSB, incrivelmente, recomenda o voto em Dilma.

Após tantas contradições e hesitações para reassumir, efetivamente, os princípios e objetivos do Socialismo Democrático, mesmo não participando do governo Dilma em seus estertores, o PSB se dividiu, se pulverizou ao votar oimpeachment, com parlamentares a favor e outros contra o impedimento de Dilma, defendendo a sua permanência.

Atualmente, com o seu afastamento, aparentemente irreversível, do desmoralizado PT, distante da irresponsabilidade, do populismo e da demagogia criminosa do PT, o partido retoma o seu tradicional ideário, tenta cumprir, coerentemente, no posicionamento e pronunciamentos de sua direção, no comportamento parlamentar, o seu histórico e prestigioso programa, identificando-se, verdadeiramente, como um partido Socialista Democrático.

(No próximo artigo, visitaremos, criticamente, os demais partidos que se apresentam como “Socialistas Democráticos”).


13 de outubro de 2016
Marcelo Câmara

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