O método de atuação da força-tarefa da Operação Lava Jato é intrincado e às vezes necessita de tradução simultânea. Fala-se muito em delação premiada da Odebrecht, mas isso não existe. Não há um acordo amplo que envolva toda a empresa. A delação premiada é um benefício individual, embora possa ser concedido em grupo, como está acontecendo agora, com os procuradores solicitando delação premiada para três executivos simultaneamente, porque estão indiciados no mesmo inquérito.
No caso da Odebrecht, maior corporação envolvida na Lava Jato na condição de agente corruptor, a delação mais importante será de seu ex-presidente Marcelo Odebrecht, embora a força-tarefa nem espere dela maiores novidades, porque apenas confirmará outros depoimentos já concedidos.
Ainda há um impasse e a delação premiada somente será aceita se Marcelo Odebrecht der informações adicionais sobre o envolvimento direto do ex-presidente Lula da Silva e da presidente afastada Dilma Rousseff no esquema de corrupção. Há outras exigências da força-tarefa, mas estas duas são as principais, consideradas indispensáveis ou “condições sine qua non”, como dizem os juristas.
EMILIO SE DESESPERA – O empresário Emilio Odebrecht, pai de Marcelo, está desesperado e não entende por que o filho ainda reluta em revelar o que sabe sobre as atividades ilegais de Lula e Dilma.
Foi por ordem direta de Emilio Odebrecht que os executivos da empreiteira já informaram a força-tarefa sobre o tráfico de influência que Lula fazia em benefício do grupo, especialmente no exterior. Revelaram também que Lula era remunerado através de supostas palestras de sua empresa, a consultoria LILS, e do Instituto Lula, que recebia patrocínio constante. Além disso, confirmaram que a Odebrecht fazia doações legais e ilegais (caixa dois) às campanhas eleitorais do PT, a pedido de Lula e Dilma.
Também a pedido do patriarca Emilio, os executivos revelaram que a presidente Dilma realmente nomeou o procurador Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça, com a missão específica de libertar Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez.
O ÚNICO A FAVOR – O fato concreto é que Ribeiro Dantas foi efetivamente nomeado por Dilma para ocupar a vaga do desembargador Newton Trisotto, provisoriamente na cadeira e que era relator e vinha votando contra a soltura dos presos da Lava Jato.
E no julgamento do habeas corpus que pedia a liberdade de Marcelo Odebrecht, o neoministro Ribeiro Dantas, como relator, foi o único dos cinco integrantes da turma do STJ a votar pelo “sim”, e o fez com um entusiasmo constrangedor, digamos assim.
Agora, Navarro está sendo investigado pelo Conselho Nacional de Justiça por ter sido citado na delação do ex-senador Delcídio Amaral, que confirmou a nomeação do ministro como parte de estratégia do governo para soltar Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo.
MARCELO AINDA RELUTA – Um ano se passou, o empreiteiro Otavio Azevedo conseguiu delação premiada, já foi solto e está revelando tudo o que sabe. Os executivos da Odebrecht cumprem as ordens do patriarca Emilio, estão fazendo importantes depoimentos e até ensinando a força-tarefa a operar o programa de computador do chamado “Departamento da Propina”. Mas o recalcitrante Marcelo Odebrecht ainda reluta, levando ao desespero sua família.
O patriarca Emilio Odebrecht até já se ofereceu para depor, mas não adianta, porque ele não está sendo investigado e a delação premiada só pode ser feita oficialmente pelo filho Marcelo.
De toda forma, falta pouco, muito pouco mesmo, para Marcelo Odebrecht ceder e revelar, em plenitude, como na verdade Lula da Silva e Dilma Rousseff se comportaram ao exercer a Presidência da República. E aí é que a Lava Jato vai pegar fogo.
20 de junho de 2016
Carlos Newton
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