"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 3 de abril de 2016

UM CARDÁPIO DE MEDOS PARA AS NOVAS GERAÇÕES



Charge do Ivan Cabral, reprodução da Charge Online




















Com exceção de tempos em guerra, as gerações costumam deixar futuro melhor para seus jovens; sobretudo, um futuro alentador. Mas, de todas as dificuldades que os adultos de hoje estão deixando para os jovens brasileiros, nenhuma é mais imperdoável do que o medo. Nosso legado é um cardápio de medos.
Não estamos sendo capazes de oferecer as ferramentas necessárias para os jovens enfrentarem as incertezas criadas pelas mudanças no mundo, e ainda estamos criando novos medos brasileiros. Por força das transformações no mercado de trabalho, devido ao avanço técnico, os jovens estão com medo de desemprego, sem um sistema educacional capaz de enfrentar os desafios criados pelo avanço tecnológico; e ainda estamos provocando desemprego conjuntural, devido à recessão econômica criada pela incompetência e pela irresponsabilidade do governo atual.
Os jovens têm medo de andar nas ruas, usar tênis da moda ou um relógio que o pai deu. Todos estão com medo de epidemias, especialmente dengue, ainda mais as mulheres jovens, assustadas com o risco de seus filhos sofrerem microcefalia. E a imensa maioria, que depende do sistema de saúde pública, teme pela falta do necessário atendimento médico.
E O FUTURO?
Estão com medo de que não terão um sistema sólido de aposentadoria, porque começam a perceber que a vantagem de uma vida mais longa vai exigir reformas que os obrigarão a trabalhar por mais tempo; e temem que a falta da reforma ameace a solidez do sistema.
Como todos os brasileiros, os jovens estão assustados com a inflação. Eles cresceram acostumados à estabilidade monetária e agora temem, com razão, o que vai acontecer no país se não conseguirmos recuperar a estabilidade monetária. E temem também as consequências que o enfrentamento desse problema provocará, devido aos cortes de verbas na educação, na saúde, na infraestrutura.
Sofrem com o medo da recessão econômica, que reduzirá a renda per capita que lhes caberá, diminuirá a posição do Brasil no mundo, degradará nossa infraestrutura econômica e social, reduzirá o nível de consumo e o bem-estar.
MEDO DE TUDO
Estamos deixando aos jovens o medo do desequilíbrio ambiental, do aquecimento global – num dia, enchentes, noutro, falta de água –; os recursos naturais ficando escassos. Não fomos capazes de acenar para eles um futuro no qual o progresso não signifique degradação ambiental, concentração de renda, violência e desigualdade social.
Medo do trânsito que ameaça a vida com acidentes, especialmente envolvendo motos e bicicletas, e rouba a vida, silenciosamente, pelas perdas de tempo no dia a dia dos engarrafamentos.
Também têm medo da corrupção e de suas consequências, inclusive de nós, dirigentes, que hoje estamos construindo o futuro em que eles viverão com medo. Medo de que, em 2018, nenhum candidato a presidente prometa e ofereça, transmitindo confiança, credibilidade e competência, os caminhos para assegurar aos jovens que eles terão um país sem medo. Pelo menos isso: um Brasil sem medo.

03 de abril de 2016
Cristovam Buarque
O Tempo

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