O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou em depoimento ao Conselho de Ética nesta terça-feira (26) que esteve pessoalmente com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), “mais de dez vezes”, incluindo em seu gabinete no Congresso, em sua casa, no Rio de Janeiro, e no escritório político no Rio. Baiano foi ouvido como testemunha do processo de cassação de Cunha e confirmou os depoimentos de sua delação premiada. Afirmou que pediu ajuda de Cunha para cobrar a dívida de uma propina devida pelo lobista Julio Camargo e que entregou cerca de R$ 4 milhões em espécie no escritório do peemedebista no Rio.
A propina de Julio Camargo era por contratos obtidos junto à diretoria Internacional da Petrobras, com intermédio de Fernando Baiano.
O lobista relatou ter conhecido Cunha em 2009, por meio de um amigo em comum durante um café da manhã no Rio de Janeiro, e que se aproximaram após isso. “A primeira vez que eu vim, que eu fiz essa aproximação com o deputado, eu fiz essa visita a ele no gabinete dele [na Câmara]”, contou.
NA CASA DE CUNHA
Questionado sobre a casa de Cunha, o lobista descreveu como eram os encontros no local: “Você passou pela porta principal, tinha logo uma porta à esquerda que era o escritório dele. Todas as vezes a gente conversava nesse escritório. Não posso falar de toda a casa do deputado porque não tive acesso a todas as dependências”.
Sobre o fato específico analisado pelo Conselho de Ética, a acusação de que Cunha mentiu aos pares ao dizer não possuir contas no exterior, já que foram descobertas quatro contas bancárias ligadas a ele na Suíça, Baiano disse não ter informações.
“Relativo a esse assunto [as contas no exterior], não fiz nenhum pagamento. Foi sempre em espécie”, afirmou, ao ser questionado pelo relator do processo de cassação de Cunha, Marcos Rogério (DEM-RO).
TUDO REGISTRADO
A Folha revelou em setembro do ano passado que a Câmara registrou nove visitas de Fernando Baiano entre 2005 e 2014, algumas delas dias antes de receber os pagamentos de Julio Camargo que seriam divididos com Eduardo Cunha.
Questionado sobre as visitas ao gabinete de Cunha no Congresso, ele respondeu: “Talvez duas, três vezes”.
Pelo relato de visitas à casa de Cunha, o deputado Julio Delgado (PSB-MG) afirmou que ficou configurada mais uma mentira do peemedebista no depoimento à CPI da Petrobras, porque Cunha havia dito que nunca recebeu Baiano em sua casa.
Baiano contou ainda que, certa vez, recebeu o pagamento destinado a Cunha em um fim de semana e queria entregar o dinheiro na casa do deputado, no Rio, mas ele não aceitou. “Como eu não gostaria de ficar com esses valores em minha residência, eu comuniquei ao deputado que tinha esse valor já comigo, [perguntei] se eu poderia entregar a ele na residência dele. E ele preferiu que não, pediu que eu entregasse na segunda-feira no escritório dele”, contou.
‘É PROPINA MESMO’
O lobista disse ainda que ofereceu a Cunha um aumento de 20% para 50% do valor da dívida que dividiria com ele para “um estímulo a mais” na cobrança a Julio Camargo.
O lobista afirmou que, ao pedir ajuda de Cunha na cobrança da dívida de Julio Camargo, não especificou ao deputado que se tratava de propina. “Eu falei que nunca tratei com o deputado Eduardo Cunha falando esse termo ‘propina’. Agora que é propina é. É vantagem indevida, é propina, é isso mesmo”, disse.
Durante o depoimento, Fernando Baiano chegou a pedir um aparte para comentar que a corrupção partia sempre dos políticos, e não dos empresários.
PARTIA DOS POLÍTICOS…
“Os pleitos sempre vinham dos políticos, utilizando os agentes públicos colocados por eles nas agências públicas. Não são os empresários os culpados do que está acontecendo”, afirmou.
A defesa de Cunha tem negado as acusações de Fernando Baiano. Afirma que ele não recebeu propina por contratos da Petrobras e que não ajudou na cobrança de Julio Camargo. Em nota, a assessoria de Cunha informou que “a alegação é antiga, sem provas, integra a denúncia do STF, e foi desmentida com contundência pela defesa do deputado”.
O depoimento durou cerca de duas horas e meia e, por um acordo com a defesa de Baiano, ocorreu sem a presença de fotógrafos e cinegrafistas.
29 de abril de 2016
Aguirre Talento
Folha
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