"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 19 de dezembro de 2015

VOAR É PRECISO (MAS NÃO TEMOS ASAS...)



Charge do Heitor (reprodução jornal 1ª Linha)




















Fica difícil imaginar um cérebro diabólico por trás de tudo o que vem acontecendo. Só nas histórias de quadrinhos o Capitão Marvel precisava enfrentar o dr. Silvana, maior inimigo da Humanidade. 
Mesmo assim, é preciso atentar para a evidência de que não sobra ninguém dessa operação de desmonte das instituições, dos partidos políticos, das lideranças postas em frangalhos, do governo federal, dos governos estaduais e do sentimento popular. 

Todos merecem a desmoralização, mas a pergunta que se faz é se o Judiciário e o Ministério Público disporiam de tanto poder assim para destruir tudo, mesmo contando com farto embasamento legal e ético para agir como vem agindo.
Porque acima e além da rígida aplicação dos postulados que regem as sociedades organizadas, paira o instinto da sobrevivência. 
Não para beneficiar bandidos e vigaristas, nem estruturas viciadas, mas para permitir que de toda a necessária limpeza venha a resultar a argamassa imprescindível para se erigir um edifício honesto, justo e necessário à construção do futuro.
Das instituições, está tudo indo à garra. O Legislativo virou um mar de lama, com raras exceções. 
Deputados e senadores pouco se interessam em enfrentar o desemprego em massa, a multiplicação de impostos, o aumento do custo de vida, a deficiência das políticas públicas, dos serviços essenciais e quantas necessidades a mais? 

Hoje, os responsáveis pela débâcle preocupam-se mais em reafirmar suas lideranças, enriquecer, realizar negócios honestos e escusos, além de aumentar seu patrimônio. A coisa pública, em último lugar.
Judiciário e Ministério Público explodiam sem explodir-se ao mesmo tempo? Quanto aos partidos políticos, exprimem a moeda de uma só face. 
O PT naufragou primeiro, passando de legenda empenhada em mudar o Brasil e estabelecer a justiça social a aglomerado onde cada um cuida primeiro de si.
 O PMDB vinha se equilibrando, mas depois da ascensão de Eduardo Cunha a chefe da quadrilha, aumentou vertiginosamente o número de adeptos voltados para as mesmas finalidades. 
O PSDB lamenta estar fora do jogo e partidos menores buscam garantir espaços para imitar os maiores. 
O PTB e o PDT deixaram de ser trabalhistas, assim como o PSB, se foi socialista, já esqueceu, assim como de popular o PP não tem nada, da mesma forma como o PCdoB nem é comunista nem do Brasil. 
Em suma, não será com os atuais partidos, ou com seus dirigentes, que chegaremos a lugar algum.
As lideranças da sociedade civil omitem-se tanto que até se apagam. Das trabalhistas às empresariais, das intelectuais às religiosas e militares, cuidam de seus interesses. 

Enterram a cabeça na areia, como o avestruz em meio à tempestade, abandonando a importância do conjunto em favor do egoísmo individual. 

Qual a colaboração da CUT para enfrentar o aumento de impostos? Ou da Fiesp na luta contra o desemprego? A Federação    das Igrejas Evangélicas organiza-se para realizar a reforma agrária? A CNBB,  para estimular a implantação de ferrovias ou a melhoria dos portos?
GOVERNO FALIDO
O governo federal entrou em falência, e não foi da noite para o dia, como fazem crer os eventuais detentores do poder. A crise decorre dos que não conseguiram enfrentar seus desafios, no passado, e para eles melhor será complicar a vida dos que virão, no futuro. 
A situação nos Estados nada difere do plano federal: os governadores, sem exceção, sequer dispõem de barriga para empurrar seus problemas.
Quanto ao sentimento popular, esvaiu-se, se havia algum. O cidadão comum deixou de sentir, seja indignação, seja esperança. 
Vai com a corrente, pouco se importando se enfrentará cachoeiras, abismos ou areias movediças. Até quando sentir estar despencando para as profundezas. 
Nessa oportunidade, para flutuar, ou seja, para sobreviver, verificará que a única saída será voar. O diabo é que carecemos de asas…

19 de dezembro de 2015
Carlos Chagas

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