Ao fim de um ano de duelo em praça pública, Dilma Rousseff e Eduardo Cunha chegaram juntos a seu momento mais dramático. No mesmo dia, os dois sofreram duras derrotas na luta pela sobrevivência política. A Procuradoria-Geral da República pediu que o deputado seja afastado da presidência da Câmara.
Ele já preparava outra manobra para anular a sessão do Conselho de Ética que instaurou, finalmente, o processo que pode cassar o seu mandato por quebra de decoro. O Ministério Público sustenta, com razão, que a permanência de Cunha ameaça as investigações da Lava Jato e ataca a “dignidade do Parlamento brasileiro”. Como a Câmara já demonstrou que não terá a dignidade de despachá-lo por conta própria, tornou-se necessário apelar ao Supremo Tribunal Federal.
A Procuradoria também apresentou duas novas delações contra o peemedebista. Ele agora é acusado de cobrar propina de R$ 52 milhões para liberar repasses às obras do Porto Maravilha, no Rio. O dinheiro saía do FI-FGTS, ou seja, da poupança do trabalhador assalariado.
IMPEACHMENT
Na mesma quarta-feira, o Supremo indicou que está valendo o processo de impeachment que o correntista suíço instaurou contra Dilma. No dia seguinte, esta parte do voto do relator Luiz Fachin foi aceita e frustrou o governo, que contava com a corte para livrar o pescoço presidencial da guilhotina.
Fachin validou o roteiro traçado por Cunha, mas a maioria dos ministros não apoiou e a Câmara terá de eleger nova Comissão Especial do Impeachment, atrasando o desfecho da crise.
Dilma e Cunha querem se ver pelas costas, mas agora parecem caminhar lado a lado na direção do abismo. Enquanto os brasileiros se esforçam para driblar a crise e comprar presentes, a presidente e o deputado têm chances cada vez menores de comemorar um feliz Natal.
19 de dezembro de 2015
Bernardo Mello Franco
Folha
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