"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 20 de dezembro de 2015

O BIORREGIONALISMO COMO ALTERNATIVA PARA VIVER MELHOR



Papa Francisco, um grande defensor da ecologia















O modelo ainda dominante nas discussões ecológicas privilegia em escala o Estado e o mundo; em economia, a exploração da natureza, o crescimento/desenvolvimento ilimitado em nível mundial e a competição; em política, prevalecem a centralização, a hierarquização, o controle e o governo da maioria; na cultura, o quantitativo sobre o qualitativo, a uniformização dos costumes, o consumismo, o individualismo e o pensamento tecnocrático.
Esse paradigma subjaz, em grande parte, à atual crise da Terra, pois considera esta um todo uniforme sem valorizar a singularidade de seus ecossistemas e a diversidade das culturas. Por isso, gera desequilíbrios no sistema da vida e na dinâmica natural da Terra viva.
Hoje, está se impondo outra vertente mais amiga da natureza e com possibilidades de nos tirar da crise atual: o biorregionalismo. A biorregião se circunscreve numa área, normalmente definida pelos rios e pelo maciço de montanhas. Possui certo tipo de vegetação, geografia do terreno, de fauna e de flora e mostra uma cultura local própria, com seus hábitos, tradições, valores, religião e história feita no local.
VALORIZANDO A REGIÃO
Em termos de escala, centra-se na região e na comunidade; em economia, na conservação, na adaptação, na autossuficiência e na cooperação; em política, na descentralização, na subsidiariedade, na participação e na busca do consenso; na cultura favorece a simbiose, a diversidade e o crescimento qualitativo e inclusivo.
Sua tarefa básica é fazer os habitantes entenderem e valorizarem o lugar onde vivem. Faz-se mister inserir as pessoas na cultura local, nas estruturas sociais, urbanas e rurais, no aprendizado das figuras exemplares da história local. Finalmente, sentir-se filho e filha da Terra.
É na biorregião que a sustentabilidade se faz real, e não retórica a serviço do marketing; pode se transformar num processo dinâmico, que se aproveita racionalmente das capacidades oferecidas pelo ecossistema local, criando mais igualdade, diminuindo a pobreza, facilitando a participação das comunidades no estabelecimento dos projetos e das prioridades.
UNIDADES SISTÊMICAS
Mesmo sendo a comunidade local a unidade básica, isso não invalida as unidades sistêmicas maiores que afetam a todos (por exemplo, o aquecimento global). A ideia do “glocal”, vale dizer, pensar e agir local e globalmente, nos ajuda a articular as duas dimensões. Sempre é necessário informar-se sobre as experiências de outras regiões e como está o estado geral do planeta Terra.
O biorregionalismo possibilita que as mercadorias circulem no local, evitando as grandes distâncias; favorece o surgimento de cooperativas comunitárias; persiste a economia de mercado, mas composta primariamente, embora não exclusivamente, de empresas familiares, iniciativas cujos proprietários são os próprios trabalhadores, numa cooperação aberta entre bairros e municípios, como ocorre entre várias cidades do vale do rio Itajaí, em Santa Catarina, e em outras regiões.
O biorregionalismo permite deixar para trás o objetivo de “viver melhor” para dar lugar ao “bem viver e conviver” dos andinos, que implica sempre o bem-estar para toda a comunidade, entrando em harmonia com a Mãe Terra, com os solos, as águas e os demais elementos que garantem nossa vida junto com os demais seres vivos do ecossistema.
Esse é um caminho que está sendo trilhado em muitos lugares no mundo. Ele configura uma semente de esperança no meio da falta de alternativas dos dias atuais.

20 de dezembro de 2015
Leonardo Boff
O Tempo

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