"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

DILMA OU TEMER: QUEM É O FUTURO


Dentro do PT e do governo, o clima é de desânimo. Ninguém teve coragem até aqui para dizer à presidente Dilma que o impeachment está na soleira da porta do gabinete dela no terceiro andar do Palácio do Planalto, e que talvez não demore tanto para entrar.

“Infelizmente, ela já foi”, limitou-se a observar para um amigo na última quinta-feira um dos poucos ministros que Dilma leva em conta. Ontem, confrontado com o tamanho modesto das manifestações, o ministro não mudou de opinião.

Este talvez seja o principal problema de Dilma: ela gosta de pouca gente; quase não confia em ninguém, nem mesmo nos que lhe são mais próximos; e tem horror a políticos.

Em contrapartida, desperta os instintos mais primitivos dos que tratou mal alguma vez, ou não atendeu. Michel Temer? Esqueça. Eduardo Cunha? Não. O maior eleitor do impeachment de Dilma é ela própria.

Outro dia, Dilma pediu aos seus ministros que a defendessem em entrevistas. Poucos o fizeram. A maioria receia dizer algo que seja mal interpretado por Dilma e lhe custe uma repreensão.

Acostumaram-se ao silêncio, e a jogar na retranca. Muitos acumulam mágoas. É duro ouvir gritos vez por outra. Na dúvida, arriscar-se para quê?

Mais seguro é nada fazer que não tivesse sido autorizado previamente por Dilma. Pois uma mulher que já mandou o diretor do Tesouro sair de uma reunião só por que estava despenteado...

Ou que se desentendeu com a ama do Palácio da Alvorada, descontrolou-se e jogou cabides nela, que revidou jogando cabides na presidente... Dilma é uma granada sem pino.

Eu disse ama. Por causa de uma ema que havia bicado seu cachorro, Dilma brigou com o jardineiro do palácio.

Fora os líderes do governo e do PT, e esses mais por obrigação do que por gosto, são raros os políticos de peso na Câmara e no Senado que defendem Dilma, o seu governo e o seu mandato.

No impeachment de Fernando Collor, os chamados cardeais do Congresso mandavam ali e conduziam seus pares. Hoje, na Câmara, manda o baixo clero. E os cardeais que restam se ocupam em conspirar no plenário contra Dilma.

Há muita dissimulação e esperteza. E vontade para arrancar de um governo em ruínas o que ele ainda pode dar.

Por mais que ele dê, contudo, ninguém quer retribuir com os votos necessários para derrotar o impeachment. De resto, Dilma tem fama de quem promete e não entrega.

De resto, o vice-presidente Temer tem fama de que entrega o que promete. E ele tem mais para oferecer do que Dilma.

Temer tem o futuro para oferecer. Um futuro com as mesmas dificuldades enfrentadas por Dilma, mas um futuro.

Com que futuro Dilma acena? Por que se acreditar que, superado o impeachment, o desempenho dela no cargo jamais lembrará o desastre que é?

A presidente sem apoio popular, sem autoridade política, sem plano de governo, de repente se recuperará só por que não caiu?

Para que não caia só lhe restam dois caminhos: brigar com Temer, tomando-lhe o PMDB, ou se recompor com ele. E com ele e o PMDB compartilhar o poder até 2018.

Temer pregou o aparecimento de quem possa unificar o país. Para que seja ele o unificador, terá de unificar primeiro seu partido. É nisso que está empenhado. Por enquanto, Dilma dá sinais de que escolheu brigar com ele.

Não seria o mais recomendável.

Com a carta chorosa, Temer fez 1 x 0 em Dilma. Fez 2 x 0 ao obter maioria na Comissão Especial que julgará o impeachment.

Fez 3 x 0 quando Elizeu Padilha, ministro da Aviação Civil, pediu as contas do cargo para ficar ao seu lado.

Fez 4 x 0 ao trocar o líder do PMDB, aliado de Dilma, por um líder seu aliado.

Temer guarda a bala de prata para matar Dilma, se for o caso: a antecipação do congresso que levaria o PMDB a romper com o governo.



14 de dezembro de 2015
Ricardo Noblat

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