"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

OUTRO NOME PRA REFORMA

Um dos tangos mais populares no Brasil de minha adolescência chamava-se “Cambalache”, era cantado pelo grande Carlos Gardel e começava assim: “Que o mundo foi e será uma porcaria, eu já sei/ Em 506 e no ano 2000 também/ Que sempre houve ladrões, traidores e aproveitadores/ Mas que o século XX é uma exposição/ De maldade insolente, já não há quem negue”. 

Bem depois, em 1986, a primeira novela de Silvio de Abreu sem censura chamava-se “Cambalacho”, e foi uma das maiores audiências no horário das 19h. 
Abordava a “falta de vergonha no país”, que, segundo o autor, “era tão corrupto que as pessoas se sentiam no direito de serem corruptas”. 

Em política, um sinônimo de cambalacho é barganha, uma forma também pouco ética de acordos e negócios. Esse foi o nome do restaurante do novo ministro escolhido por Dilma para a pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, o chamado “pau-mandado de Eduardo Cunha”. 
O estabelecimento comercial não é mais dele, mudou de nome, mas a lembrança ficou como sugestão para disputar a classificação da reforma ministerial: cambalacho ou barganha?

Pansera é uma amostra do critério que prevaleceu nas escolhas em geral. Suas credenciais foram não suas supostas qualidades, mas os apoios recebidos, principalmente o de Eduardo Cunha. 
Quando a repórter Júnia Gama lhe perguntou “se já tinha em mente que marca quer deixar no seu ministério”, ele respondeu: “Ainda não, mas vou descobrir”. Não disse em quanto tempo.

Nessa reforma, ficou evidenciado mais uma vez o poder que o presidente da Câmara detém e o medo que inspira no governo e na oposição. 
Uns o temem pelo que pode fazer; outros, pelo que pode deixar de fazer. E todos procuram agradar-lhe. 

Dilma abriu as portas do governo para o PMDB na esperança de que Cunha barre os pedidos de impeachment. Já o PSDB, temendo que surja algo que o impeça de aprovar esses pedidos, declarou, através de seu líder na Câmara, que o partido vai manter o seu apoio ao polêmico peemedebista.

Enquanto isso, Eduardo Cunha vai tirando de letra as denúncias de corrupção e garantindo que não tem conta no exterior, apesar de a Procuradoria-Geral da República tê-lo denunciado ao STF por receber US$ 5 milhões de propina e apesar de o MP da Suíça ter informado que encontrou quatro contas bancárias controladas por ele e familiares. 

Ontem mesmo, as autoridades suíças voltaram a falar das contas. Não adianta, o deputado continua afirmando o contrário, a exemplo do que sempre fez Paulo Maluf, que já foi obrigado pela Justiça britânica a devolver quase R$ 80 milhões à Prefeitura de SP, mas insiste em repetir que não possui dinheiro no exterior. 
É possível que os dois sigam teimando. Só não devem viajar, porque o perigo mora lá fora.


08 de outubro de 2015
Zuenir Ventura

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