Em carta enviada recentemente à “Folha de S. Paulo”, Roberto Irineu Marinho, diretor-presidente do grupo Globo, desmentiu o jornal, assegurando que a sua organização jamais exerceu influência na escolha de nomes para os principais cargos do Ministério das Comunicações e outros do governo federal.
A “Folha”, ao que parece, deu-se por satisfeita com o desmentido, mas poderia ter aprofundado a análise desse assunto, examinando, por exemplo, suas edições do ano 2000, em que há uma carta subscrita por Silvio Santos, datada de 17 de janeiro de 2000.
Nesse documento histórico, após narrar sua trajetória profissional e as barreiras que venceu para montar a rede de TV, o dono do SBT, dizendo-se amparado no livro “Notícias do Planalto”, de autoria de Mário Sérgio Conti, ex-diretor da revista “Veja”, não escondeu o quanto era difícil competir com a TV Globo, que desfrutava de poder anormal nos meios governamentais e publicitários.
FALA SILVIO SANTOS
Vamos a alguns trechos dessa carta de Silvio Santos, publicada pela própria“ Folha de S. Paulo” e que atesta que os Marinho sempre deram as cartas na área das comunicações e em outras mais:
1 – “O presidente Figueiredo achou que eu tinha condições pessoais e profissionais para assumir o controle de uma rede para disputar a audiência com a primeira colocada (TV Globo)”;
2 – “Era muito difícil quase impossível conseguir anúncios no mercado publicitário, em razão da concorrência da primeira Rede”;
3 – “Por que só agora, dia 17 de janeiro de 2000 eu estou colocando estes fatos aos senhores juízes?” (que iriam julgar processo contra a TeleSena)
A – Porque só agora, dia 12 de janeiro de 2000 eu li na Revista Veja, no. 1631, declarações do Presidente Figueiredo, que eu tinha como confidenciais.
B – Porque só agora, dia 12 de dezembro, eu recebi de presente no meu aniversário, o livro NOTÍCIAS DO PLANALTO, do ex-diretor de redação de VEJA, narrando fatos que se imaginava serem fantasiosos ou exagerados.
C – Suspeitava-se que a REDE GLOBO tivesse interferência nos GOVERNOS, mas ninguém declarava isto por escrito.
Em razão destes itens, estou juntando alguns ANEXOS para que os senhores juízes constatem a veracidade do meu relato”.
FALA FIGUEIREDO
4 – “Pronunciamento do presidente Figueiredo para VEJA em 12 de janeiro de 2000. “ROBERTO MARINHO – “um horror, um horror (endossando comentário de um convidado sobre o poderio da Organização Globo). É a melhor rede que existe no Brasil. Ele é dono da opinião pública do país. Faz o ministro das Comunicações e manda quem ele quiser. O dia em que o Roberto Marinho quiser se virar contra o governo, o governo cai. Ele não chegou a influenciar-me porque brigou comigo. Não lhe dei uma concessão de rádio e de televisão e ainda lhe disse: Não vou dar porque já tem demais! Criei três redes de TV: a Manchete, a do Silvio Santos e a Bandeirantes. Aí o Roberto Marinho ficou com raiva de mim porque antes era só ele”.
“Quando eu estava quase presidente – digo “quase” porque só o jornais é que estavam falando – vim ao Rio assistir a uma competição equestre na hípica. Lá estava o Roberto Marinho. Começamos a conversar e, num determinado momento, avisei a ele que, se viesse mesmo a ser o presidente da República, não daria mais condição de expansão para a televisão dele. Eu sempre tive na cabeça a ideia de dividir mais o sistema de comunicação no Brasil. O Roberto Marinho não publica meu nome no jornal dele desde que saí do governo. Problema dele. Melhor para mim, que fico anônimo”.
SILVIO SANTOS, DE NOVO
5 – “A Globo quer monopólio em tudo “– notícia do Diário Popular – 20 de janeiro de 2000.
6 – Dia 19 de janeiro de 2000 – VEJA – “Um gol contra – Globo perde audiência ao ignorar Mundial de Clubes”… “Faz tempo que a emissora do Jardim Botânico dá as cartas no futebol brasileiro. Por ter comprado os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol, a Globo determina, a seu bel-prazer, o horário dos jogos, de acordo com a sua grade de programação. Por pressão do canal, a final do campeonato do ano passado, entre Corinthians e Atlético Mineiro, foi marcada para as 4 da tarde de um dia útil. O horário esdrúxulo foi mudado graças à intervenção do prefeito de São Paulo, Celso Pitta”.
7 – “Ministro do Brasil tem medo da reação da Globo”.
8 – “Candidato à Presidência do Brasil só com a aprovação da Globo”.
9 – “Presidente do Brasil evita concorrência na TV só para não atrapalhar seu relacionamento com a Globo”.
10 – “Rede Globo, como diz o Presidente Figueiredo, consegue fazer e desfazer ministros”… “Tancredo na formação de seu governo, Presidente eleito, ele escolheu Antonio Carlos Magalhães, dono da retransmissora da Rede Globo na Bahia, para ser o ministro das Comunicações. “O senhor se incomoda se Roberto Marinho lhe fizer o convite para ser ministro”?, perguntou Tancredo a Antonio Carlos, querendo agradar o dono da Globo”.
11 – Depois de demitir Dilson Funaro do Ministério da Fazenda, o presidente Sarney “organizou um encontro entre Roberto Marinho e seu candidato para o cargo, Maílson da Nóbrega. Eles se reuniram no escritório da Globo em Brasília, no começo de 1988. Roberto Marinho sabatinou Maílson da Nóbrega. Queria saber as ideias dele sobre inflação, câmbio, juros, tudo. Maílson saiu da sala e encontrou Antonio Carlos Magalhães, que entrou para falar com Roberto Marinho, voltou e lhe disse que o dono da Globo gostara da conversa. Dez minutos depois, antes que Sarney avisasse Maílson, o plantão do Jornal Nacional noticiou que ele era o novo ministro”. E mais, Roberto Marinho disse mais ao novo ministro que “fora ele quem escolhera o ministro do Exército, o general Leônidas Pires Gonçalves”.
12 – “Redes de Televisão não conseguem sobreviver com as verbas do mercado publicitário. A concorrência da Globo é muito feroz. A Globo faz até ameaças”.
INFLUÊNCIA DESCABIDA
Bem, se isto não for exercício de influência descabida, podemos dizer que a Terra não é redonda. Graças ao livro “Notícias do Planalto”, de Mário Sérgio Conti, sem dúvida, Silvio Santos prestou um grande serviço ao escrever esta carta manuscrita e que foi encaminhada aos desembargadores do Tribunal Regional Federal de São Paulo no distante 2000 e que até hoje não perdeu atualidade, muito pelo contrário.
28 de outubro de 2015
Carlos Newton
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