O empresário José Carlos Bumlai, um dos maiores pecuaristas do Brasil, na entrevista a Júlia Afonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo, O Estado de São Paulo, edição de domingo, ingressou efetivamente no movimento surrealista lançado nas artes a partir do manifesto de 1924, assinado pelo intelectual André Breton, que se refletiu inicialmente na pintura e escultura. Logo depois chegou à poesia, antes de alcançar o teatro e o cinema. Para Breton, tratava-se de fazer convergir a realidade com o sonho, partindo de uma emoção no sentido de uma livre criação levando à exposição de ambos os fatores.
José Carlos Bumlai – de fato – ao dizer que pediu emprestado a Fernando Baiano a importância de 1 milhão e 500 mil reais, pois estava enfrentando dificuldades em pagar o salário de seus empregados, ingressou na teoria do absurdo. Como ele conheceu e se aproximou de Fernando Baiano, que se tornou mais um dos delatores premiados do assalto à Petrobrás? Não explica. Não explica tampouco como, pouco sabendo quem era Fernando Baiano, participou com ele de um almoço com o empresário João Carlos Ferraz, levando-o até o presidente Lula em busca de uma solução para o aluguel de navios-sonda por parte da Petrobrás.
Bumlai enveredou assim por um roteiro onírico, como definem os psicólogos, sem distinção entre o sonho e a realidade. Como um dos maiores pecuaristas brasileiros precisa de míseros 1.500.000 reais para pagar os salários dos trabalhadores de suas fazendas? São várias, ele disse, quando informou como conheceu Lula: Foi um pedido do governador Zeca do PT para que o hospedasse em uma de suas fazendas. Bumlai sustentou (na entrevista) que, depois não voltou a se encontrar com o então presidente.
À VONTADE
Como pode Bumlai explicar então como sentiu-se à vontade ao pedir ao ex-chefe do Executivo que recebesse o empresário João Carlos Ferraz, que lhe teria sido apresentado num almoço, quase na véspera, em São Paulo? O encontro entre ele, Bumlai, Lula e Ferraz, aconteceu no Instituto que leva o nome do ex-presidente. Não, portanto, na sede do governo em Brasília. Quanto a Fernando Soares, o Fernando Baiano, diz tê-lo conhecido numa empresa internacional de energia, a Acciona. Fizeram juntos, então, um projeto conjunto destinado a OSX, de Eike Batista, envolvendo também a Sete Brasil. “Fui apresentado ao grupo Eike Batista por Fernando Baiano”, acrescentou textualmente José Carlos Bumlai.
No meio desse panorama todo, Bumlai acentuou ter recebido, na vida, mais de 500 propostas de negócios, mas não fez nenhum com o ex-presidente Lula. “Porque minha amizade com ele não é amizade de negócios”. Verifica-se, portanto, que ora Bumlai afirma não ter intimidade com Lula, ora sustenta ser amigo ao ponto de conduzir o empresário João Carlos Ferraz a seu encontro. Estava presente ao encontro, mas dele não participou porque retirou da estante do escritório do Instituto um livro sobre a história do Corinthians e passou a lê-lo. Francamente.
SONHO E REALIDADE
Mais uma vez sonho e realidade se mesclam na mente de Bumlai. Ou então, mais na sua linguagem do que em sua mente. O pecuarista, um dos maiores do país, de um grupo que investe diariamente pesadas quantias no campo da publicidade, de repente tem que pedir a Fernando Baiano que o socorresse numa emergência financeira? O sonho e a fantasia transformam-se numa peça de humor. Não se sabe, porém, se ele, no fundo, está rindo de si mesmo ou da história que passa aos leitores, que são muitos, de O Estado de São Paulo. Esqueceu que, em 1922, dois anos antes de Breton, foi o Estado de São Paulo que lançou a Semana de Arte Moderna no país. Uma ruptura nas artes, de modo geral.
28 de outubro de 2015
Pedro do Coutto
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