De fato, ao responsabilizar e atacar a presidente Dilma Rousseff pela operação da Polícia Federal que incluiu a busca e apreensão de documentos no escritório de seu filho Luís Cláudio da Silva, o ex-presidente Lula precipitou-se e acabou deixando sua sucessora bem na foto junto à opinião pública. A matéria é muito bem focalizada pelas repórteres Vera Rosa, Tânia Monteiro e Isabela Perón, O Estado de São Paulo, e por Cátia Seabra, Gustavo Uribe e Valdo Cruz, Folha de São Paulo, edições de terça-feira.
Por que, ao criticar Dilma Lula, deixou a presidente em boa posição? Porque a restrição significa o desejo de que ela interferisse nas ações da Polícia Federal, através do ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, na vã tentativa de evitá-las. Como poderia fazê-lo, especialmente nesta altura dos acontecimentos? Somente atuando fora da lei. E este é o aspecto essencial da questão. Se uma proposta de agir ilegalmente é rejeitada, deixa bem (na foto) quem a rejeitou.
Lula revelou não se preocupar com o conteúdo da investigação, e tampouco o conteúdo da acusação. Nada disso. Preocupou-se com a busca da Polícia Federal. E também com as acusações iniciais focalizando a ex-secretário geral da presidência, Gilberto Carvalho. Há denúncias, portanto, os acusados devem ser os maiores interessados em esclarecê-las e, se puderem, rebatê-las. Qualquer outro caminho não faz sentido. Não tem lógica, muito menos base na realidade dos fatos.
Diante desse quadro, Lula, praticamente se descontrolou. E conduziu Dilma Rousseff a um posicionamento fora de qualquer suspeita, como no filme famoso. Por não tentar interferir, a presidente saiu-se melhor do episódio do que seu antecessor e grande eleitor.
Prevalece, portanto, o pensamento baseado na tese, antítese e síntese. Uma trilogia eterna. Tão eterna quanto o ser humano na face da terra.
IBOPE E REJEIÇÃO A POLÍTICOS
É por episódios como esse da reação de Lula, ao lado de muitos outros, que aumenta, como a pesquisa do Ibope revelou, a rejeição aos principais políticos da cena nacional. Reportagem de Pedro Vasconcelos, O Estado de São Paulo, edição de 27, focaliza nitidamente a questão, o teor e o tema. Basta acentuar que 55% não votariam em Lula de jeito algum, enquanto 47% agiriam da mesma forma em relação a Aécio Neves. Marina Silva está fora de cogitação para a fração de 50%. Não vale a pena ampliar a lista nela incluindo José Serra, Geraldo Alckmin e muito menos Ciro Gomes. A insatisfação atinge a todos, sem exceção.
Vale destacar apenas Lula e Aécio Neves, os que surgem com 23 e 15% das intenções de voto se as eleições presidenciais fossem hoje. A opinião pública, assim, não tem motivos para comemorar. As preferências registradas dão a impressão de que se trata de um filme já visto e sem apelo para que seja apreciado duas vezes. Um desgaste visível e sensível da política brasileira como um todo. Faltam esperança e a emoção que ela deve despertar a todos nós. Que fazer? Esperar. Aliás, como sempre.
CUNHA E O IMPEACHMENT
Ranier Bragon, na Folha do dia 27, revela que Eduardo Cunha anunciou que em novembro vai decidir finalmente se aceita ou não o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. Está consultando sua assessoria jurídica. Como? Se ele próprio recorreu ao STF contra a liminar do ministro Teori Zavascki determinando que o despacho cabe exclusivamente a ele, presidente da Câmara? Consultar para quê? Não faz sentido. Agora, tem de esperar pela decisão da Corte Suprema?
28 de outubro de 2015
Pedro do Coutto
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