"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 13 de março de 2015

MATANDO A CRIA, PARA SALVAR OS CARRAPATOS...

Uma economia sólida, sustentável e imune a crises é aquela que cuida da vaca. Que dispõe, assim, de inteligência voltada para a economia real, para os setores primários, as locomotivas, as atividades produtivas, de transformação e de serviços diretamente ligados à base da pirâmide que produz. O contrassenso brasileiro se confirma nas estatísticas oficiais: a queda da atividade industrial desabou 10,28% nos últimos 12 meses.
O leite (produção primária) que vem dela, indispensável ao sistema, vai secando, e as últimas decisões, tomadas pelos carrapatos, de tirar mais sangue – quero dizer impostos, gastos financeiros e burocráticos – pintam um horizonte de catástrofes.
EXEMPLO DA CHINA
A China se sustenta numa economia dinâmica, multifacetada, voltada à produção de bens duráveis e de consumo, de transformação, assim como Alemanha, Japão, EUA, Coreia e qualquer outra economia bem-sucedida, robusta e soberana. O Brasil, mesmo de tamanho continental e de patrimônio infindável, pertence ao sistema insustentável demagogo/patrimonialista e se faz notar como um dos mais atrasados nesse sentido. Líder em cobrança de impostos, em burocracia e corrupção.
Aqui se dá murro em ponta de faca e se vende a insensatez como ato heroico. Chama-se o veterinário para tratar dos carrapatos, e não da vaca. Somos uma economia assim, frágil, num sistema perdulário e destrutivo. Institucionaliza-se o desfrute dos bens públicos como atividade principal do Estado. Nisso comungam todos os partidos. O sistema é patrimonialista.
Cabeça de pintinho em corpo de elefante, o Brasil oferece o flanco para crises abismais. Patina nas cascas que lança a sua frente. Erra, erra, erra, e, pior, os bestas defendem o erro e culpam adversários. Botam na imprensa a culpa, como se essa tivesse a vara mágica.
OS CARRAPATOS
Os setores terciários, como o financeiro (carrapatos), predominam nas decisões dos governos. Eles nomeiam as cúpulas e as equipes que traçam os rumos dos governantes. No Brasil ainda existe a conjugação de finanças com obras públicas (empreiteiras), que financiam campanhas, obviamente, para se locupletar. Mensalão, petrolão e quadrilhas surgem e se reproduzem.
Tem quem rouba para comprar linguiça e cachaça e quem rouba para comprar caviar e Dom Perignon, embora a conta recaia sempre no contribuinte vilipendiado e se manifeste na carência de verbas para saúde e atividades próprias do Estado. Os carrapatos, banqueiros representados por Joaquim Levy, não atacam o sistema corrupto e esfolam com impostos, tarifas e burocracia. No Brasil, país referência mundial em corrupção, a burocracia ocupa, para uma empresa, cinco vezes mais que para uma congênere americana. Com uma diferença de que aqui a corrupção também é cinco vezes maior que lá fora. Nexo entre as duas existe, entretanto nossos tributaristas e políticos não querem ver, perderiam suas maiores rendas predatórias.
“BOAS” PERSPECTIVAS
Um banqueiro americano, no mês passado, durante um encontro, candidamente disse que “nunca as perspectivas foram tão boas como agora no Brasil”, evidentemente, para ele. Os bancos no Brasil não são grandes, mas descaradamente os mais lucrativos do mundo. Mais ainda agora, com Joaquim Levy (Bradesco) ditando normas econômicas que apertam qualquer setor, menos o bancário.
Todos os setores produtivos, aqueles que suam e carregam pesos e riscos, foram severamente atingidos e castigados, talvez como nunca na história republicana do Brasil, sobejamente sabido que isso gerará fome, recessão e mais lucros para setores especulativos. A vaca entrou em agonia.
Se o ministro Mantega representava exageradamente os interesses políticos eleitorais, Levy é um ortodoxo programado para garantir a lucratividade do setor bancário. Nem um nem outro servem, o que precisa é de alguém que respeite a ordem natural dos valores econômicos. Alguém que venha do setor produtivo, alguém que entenda não apenas os aspectos especulativos de uma economia, mas os mecanismos virtuosos, aqueles que fizeram de nações grandes nações.

13 de narço de 2015
Vittorio Medioli
O Tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário