Você sabia?
Para ter consistência, toda agremiação precisa contar com membros que tenham um mínimo de pontos em comum. Quanto maior for a disparidade entre os componentes, maior será a dificuldade em manter a coesão e a coerência do grupo.
Um dos grandes erros cometidos pela União Europeia foi ter acolhido países cujo nível socioeconômico destoa da média dos demais sócios. A UE tem quase sessenta anos. Conta com 28 membros, dos quais 13 foram admitidos nos últimos dez anos. Foi uma precipitação prejudicial a todos.
Melhor teria sido primeiro ajudar países mais pobres a se desenvolver para, em seguida, permitir-lhes matricular-se no clube. O caso mais emblemático foi a admissão da Romênia, em 2007.
O PIB daquele país equivale à metade da média europeia. A disparidade social e econômica é abissal. Como integrantes do clube, podem circular livremente. O resultado é que grande quantidade de romenos se espalham pelo resto da União em busca de trabalho. Esse excesso de oferta de mão de obra alegra patrões mas põe salários em risco e desagrada funcionários tradicionais.
A Suíça, que assinou tratado de livre circulação com a União Europeia, também sente o baque. Romenos podem entrar no país sem visto. O último escândalo de exploração de trabalhadores estourou estes dias por aqui.
A empresa Stefanini – multinacional brasileira do ramo de tecnologia – presta serviço à Firmenich, gigante mundial em desenvolvimento de perfumes, aromas e sabores artificiais. A probabilidade é grande de o sabor ‘morango’ do seu iogurte ou o perfume ‘lavanda’ do seu desodorante terem sido desenvolvidos pela firma suíça.
Para cumprir contrato firmado com a Firmenich, a multinacional brasileira dá emprego, em Genebra (Suíça), a técnicos em computação. Foi buscar seus funcionários na… Romênia. Paga a eles 800 francos por mês, salário que não permite a ninguém sobreviver neste país. Para evitar que morram de frio ou fome, a bondosa Stefanini providencia a seus semiescravos alimentação e transporte. Oferece-lhes alojamento coletivo. São tratados como os boias-frias brasileiros.
Não há salário mínimo nacional na Suíça. Os acordos são setoriais. Os bares, restaurantes e hotéis têm seu acordo. Os comerciários têm o seu, e assim por diante. Como nenhum acordo existe no ramo da informática, a generosa multinacional brasileira está dentro da legalidade.
Como estamos todos cansados de saber, nem tudo o que é legal é ético.
O jornal da Televisão Suíça dedicou matéria de dois minutos ao assunto. Que clique aqui quem quiser assistir.
19 de fevereiro de 2015
José Horta Manzano, Brasil de longe
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