A política não é o palco ideal para amadores. E foram amadores que conduziram a fracassada candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para concorrer à presidência da Câmara contra o evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que estava em campanha há pelo menos um ano, se preparando para o embate com o PT pelo comando da casa legislativa. Pois bem, o PT lançou Chinaglia de última hora, no afogadilho. O experiente deputado paulista (ex-presidente da Câmara Federal e vice na gestão de Henrique Eduardo Alves, o último presidente) então foi para o sacrifício e perdeu.
Não serviram de nada as promessas de cargos, emendas parlamentares e tudo o mais que compõe o famigerado toma lá da cá vigente no Congresso. Eduardo Cunha venceu com folga, humilhando a base aliada e enfraquecendo as propostas do governo no Congresso.
O eleito estava com gosto de sangue na boca. Em menos de 15 dias conseguiu impor seguidas derrotas ao governo, como a votação do Orçamento Impositivo, a eliminação do PT dos cargos da Mesa Diretora, a criação de dificuldades para fusão de partidos (prejudicando o Planalto e o PSD de Kassab) e a formação de CPIs incômodas para o governo – tudo, enfim, nitroglicerina pura, ainda no início da legislatura.
GOVERNO ACUADO
Entretanto, a corda já esticou demais e o PMDB não é o partido do confronto. Pelo contrário, o PMDB sempre deu sustentação aos diferentes governos, desde a Nova República, atuando nos bastidores do Poder para dividir responsabilidades e cargos na máquina pública.
Acuado, o governo acuado logo pediu o armistício, a bandeira branca, erguida pelo próprio Lula, que determinou à presidente Dilma que se entenda com o PMDB. Ou seja, o Planalto entregará os anéis ao grupo de Eduardo Cunha, para preservar os dedos.
O conselho de Lula para que Dilma chame o presidente da Câmara para conversar está correto, porém trata-se de medida de curto prazo, destinada a amenizar as relações atuais e dar o fôlego necessário para o governo emplacar as medidas de ajuste fiscal e enfrentar a crise econômica crescente, fruto dos erros cometidos em 2014.
INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA
No entanto, novas escaramuças podem ocorrer, pois o instinto de sobrevivência dos políticos é muito aguçado e baseia-se no humor do eleitorado. Pode não parecer ao menos avisado, mas a opinião pública é o norte da classe política e eles não lutam contra os ventos.
Em meio a tudo isso, o vice Michel Temer pode ser a próxima pedra no tabuleiro a ser engolida pelo rei. A acumulação de responsabilidades como vice-presidente da República e presidente do PMDB é um impeditivo do crescimento do Partido, segundo os parlamentares em torno de Cunha. O PMDB deseja alçar voos maiores e mira uma cabeça de chapa em 2018 lançando candidatura própria.
A sorte está lançada e muita coisa vai mudar. Preocupa-me, na atual quadra democrática, um viés conservador de alta potência, destinado a virar a página ao contrário, ou seja, rumo a um forte governo de direita, para contrapor o que acham ser um governo de esquerda, o atual. Pura ilusão, de esquerda o PT está muito longe de ser de esquerda, nem dá para entender aquilo que o partido efetivamente é.
19 de fevereiro de 2015
Roberto Nascimento
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