A situação atual da empresa é uma mistura de incompetência, corrupção, ideologia e voluntarismo
Chegamos a uma situação em que a saúde financeira e operacional de uma empresa pode ter implicações para toda a economia.
Já não bastasse a dificuldade que a presidente Dilma terá em arrumar a casa dos desequilíbrios criados pelo experimento de política econômica, conhecido por nova matriz econômica ou ensaio nacional-desenvolvimentista, o governo tem que se haver com a sua maior empresa, a Petrobras.
A dificuldade em avaliar o impacto da corrupção sobre o valor dos ativos lançados no balanço da empresa fez com que ela não conseguisse entregar um balanço auditado. Nenhuma empresa aceitou fazer a auditoria.
O problema é que a inexistência até meados de 2015 de um balanço auditado do exercício de 2014 detonará cláusulas de aceleração da dívida. As cláusulas estabelecem condições que tornam a dívida imediatamente vincenda. Uma delas é a ausência de balanços auditados. Cairá sob a empresa conta de US$ 56 bilhões, aproximadamente 15% das reservas cambiais do país!
Como é possível que uma empresa estatal de petróleo de um país em que há sete anos foi descoberta enorme reserva petrolífera passe de solução para problema?
A situação atual da empresa é uma mistura em doses variadas de incompetência, corrupção, ideologia e voluntarismo.
Uma maneira de acompanhar a saúde da empresa é seguir o preço da ação da Petrobras em dólares, fazendo o controle pelas oscilações do preço do petróleo. É razoável que o preço da ação de empresas petroleiras suba e desça de acordo com as subidas e as descidas do preço do petróleo.
Exercício simples indica que de 1994 até meados de 2005 as oscilações de preço das ações da empresa acompanharam de perto as do preço do petróleo.
A ação oscilou em torno de US$ 2,5 até 2003, quando iniciou subida de US$ 2,5 para US$ 6,5 até meados de 2005 em razão do aumento do preço do petróleo.
A partir de outubro de 2005, há um forte descolamento. Ela sobe de US$ 6,5 para US$ 13,5 entre meados de 2005 e meados de 2007 e, em seguida, vai até US$ 30, em maio de 2008. Se nesse período a ação da Petrobras tivesse somente acompanhado o petróleo, o preço em maio de 2008 deveria ser de US$ 13, e não de US$ 30.
Dois movimentos explicam esse descolamento em duas etapas. Em outubro de 2005, a agência de classificação de risco Moody's eleva a nota de crédito da Petrobras e a considera empresa com grau de investimento. Em meados de 2007, vem a público a descoberta das reservas petrolíferas do pré-sal.
De maio de 2008 até aproximadamente o primeiro trimestre de 2010, o preço da ação da Petrobras acompanha as oscilações do preço do petróleo. Ao longo de 2010, ambos os preços andam em direção contrária. O preço da ação cai de US$ 20 para US$ 17, e o preço da ação que seria esperado em razão da evolução do preço do petróleo apontou subida de US$ 7 para US$ 10,5. Esse descompasso resultou da alteração do marco regulatório e da capitalização da empresa pelo Tesouro, que dilui a participação dos acionistas minoritários.
De 2011 até junho de 2014, o preço da ação que seria esperado em razão da evolução do preço do petróleo ficou constante em torno de US$ 10,5, enquanto o preço observado da ação da empresa caiu de US$ 17,5 para US$ 10.
O que determinou esse comportamento? Um programa de investimento totalmente incompatível com a capacidade gerencial da empresa, fruto do novo marco regulatório marcado pela ideologia e pelo forte voluntarismo.
Esse quadro, por sua vez, entre outras consequências, possibilitou inúmeros casos de corrupção. Para completar, uma política populista de controle de preços da gasolina provocou enorme prejuízo para a empresa e seus acionistas.
Hoje, a ação da Petrobras está cotada a US$ 3,50, bem abaixo dos US$ 5,8 que seriam esperados se o preço da ação em 1994 acompanhasse até hoje as oscilações do preço do petróleo!
Apesar de todo o pré-sal, a empresa vale hoje 40% a menos do que o valor observado, após controlar pela oscilação do preço do petróleo, entre o período de 1994 e meados de 2005.
Chegamos a uma situação em que a saúde financeira e operacional de uma empresa pode ter implicações para toda a economia.
Já não bastasse a dificuldade que a presidente Dilma terá em arrumar a casa dos desequilíbrios criados pelo experimento de política econômica, conhecido por nova matriz econômica ou ensaio nacional-desenvolvimentista, o governo tem que se haver com a sua maior empresa, a Petrobras.
A dificuldade em avaliar o impacto da corrupção sobre o valor dos ativos lançados no balanço da empresa fez com que ela não conseguisse entregar um balanço auditado. Nenhuma empresa aceitou fazer a auditoria.
O problema é que a inexistência até meados de 2015 de um balanço auditado do exercício de 2014 detonará cláusulas de aceleração da dívida. As cláusulas estabelecem condições que tornam a dívida imediatamente vincenda. Uma delas é a ausência de balanços auditados. Cairá sob a empresa conta de US$ 56 bilhões, aproximadamente 15% das reservas cambiais do país!
Como é possível que uma empresa estatal de petróleo de um país em que há sete anos foi descoberta enorme reserva petrolífera passe de solução para problema?
A situação atual da empresa é uma mistura em doses variadas de incompetência, corrupção, ideologia e voluntarismo.
Uma maneira de acompanhar a saúde da empresa é seguir o preço da ação da Petrobras em dólares, fazendo o controle pelas oscilações do preço do petróleo. É razoável que o preço da ação de empresas petroleiras suba e desça de acordo com as subidas e as descidas do preço do petróleo.
Exercício simples indica que de 1994 até meados de 2005 as oscilações de preço das ações da empresa acompanharam de perto as do preço do petróleo.
A ação oscilou em torno de US$ 2,5 até 2003, quando iniciou subida de US$ 2,5 para US$ 6,5 até meados de 2005 em razão do aumento do preço do petróleo.
A partir de outubro de 2005, há um forte descolamento. Ela sobe de US$ 6,5 para US$ 13,5 entre meados de 2005 e meados de 2007 e, em seguida, vai até US$ 30, em maio de 2008. Se nesse período a ação da Petrobras tivesse somente acompanhado o petróleo, o preço em maio de 2008 deveria ser de US$ 13, e não de US$ 30.
Dois movimentos explicam esse descolamento em duas etapas. Em outubro de 2005, a agência de classificação de risco Moody's eleva a nota de crédito da Petrobras e a considera empresa com grau de investimento. Em meados de 2007, vem a público a descoberta das reservas petrolíferas do pré-sal.
De maio de 2008 até aproximadamente o primeiro trimestre de 2010, o preço da ação da Petrobras acompanha as oscilações do preço do petróleo. Ao longo de 2010, ambos os preços andam em direção contrária. O preço da ação cai de US$ 20 para US$ 17, e o preço da ação que seria esperado em razão da evolução do preço do petróleo apontou subida de US$ 7 para US$ 10,5. Esse descompasso resultou da alteração do marco regulatório e da capitalização da empresa pelo Tesouro, que dilui a participação dos acionistas minoritários.
De 2011 até junho de 2014, o preço da ação que seria esperado em razão da evolução do preço do petróleo ficou constante em torno de US$ 10,5, enquanto o preço observado da ação da empresa caiu de US$ 17,5 para US$ 10.
O que determinou esse comportamento? Um programa de investimento totalmente incompatível com a capacidade gerencial da empresa, fruto do novo marco regulatório marcado pela ideologia e pelo forte voluntarismo.
Esse quadro, por sua vez, entre outras consequências, possibilitou inúmeros casos de corrupção. Para completar, uma política populista de controle de preços da gasolina provocou enorme prejuízo para a empresa e seus acionistas.
Hoje, a ação da Petrobras está cotada a US$ 3,50, bem abaixo dos US$ 5,8 que seriam esperados se o preço da ação em 1994 acompanhasse até hoje as oscilações do preço do petróleo!
Apesar de todo o pré-sal, a empresa vale hoje 40% a menos do que o valor observado, após controlar pela oscilação do preço do petróleo, entre o período de 1994 e meados de 2005.
22 de dezembro de 2014
Samuel Pessoa, Folha de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário