Um dia, já faz muitas décadas, os Estados Unidos e a República Popular de Cuba ficaram de mal e cortaram relações diplomáticas. E como é que ficou?
Engana-se quem achar que os dois países simplesmente se deram as costas e nunca mais se falaram. São vizinhos de andar, separados por um braço de mar de 160 quilômetros, unidos por interesses comuns. Pelo menos um milhão de cubanos vivem nos EUA.
Desde que o último espanhol deixou Cuba, em 1898, os Estados Unidos passaram a ser o país de referência tanto para o povo quanto para o governo da ilha. Uma briga entre eles é como desavença em família. Dois parentes podem até cortar relações, mas continuam mandando recado por intermédio de algum pombo-correio.
Apesar das aparências, Washington e Havana nunca cessaram de se falar. O congelamento de relações foi só de fachada – como são todas as contendas entre países. E quem foi o estafeta, aquele que leva a notícia de um e traz a do outro? Pois foi a Suíça, distinto leitor.
A partir de 1961, os interesses americanos passaram a ser representados pela embaixada da Suíça em Havana. Trinta anos depois, com o esfacelamento do império soviético, o governo cubano entendeu que era hora de preparar o reatamento. A partir de 1991, a embaixada suíça em Washington foi encarregada de defender os interesses cubanos.
Nós – a plebe – não somos informados de certas coisas. Só sabemos o que chega até a mídia. Disseram-nos, meio por alto, que o Vaticano e o Canadá participaram das negociações entre os vizinhos brigados. Não será surpreendente que a Suíça também tenha dado sua contribuição. Afinal, não haviam de afastar aqueles que agiram como pombo-correio durante mais de meio século.
Não saberemos nunca dos detalhes. E é melhor assim. Certas coisas, mais vale ignorar. Fica uma certeza: o governo suíço, embora tenha discretamente mostrado satisfação com a quebra do gelo entre os vizinhos briguentos, exibiu sorriso meio amarelo.
Perdeu o estatuto de intermediário. Daqui pra diante, além de não mais receber pelos serviços de estafeta, deixará de estar a par das futricas, dos segredinhos, dos trambiques, das traições, das negociações secretas. Tornou-se vítima colateral.
22 de dezembro de 2014
José Horta Manzano
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