"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

INFLAÇÃO COMO HERANÇA MALDITA

Os últimos números da inflação mais que justificam o aperto recém-anunciado pelo Banco Central (BC), um aumento da taxa básica de juros de 11,25% para 11,75%.
O indicador oficial dos preços no varejo subiu 0,51% no mês passado e 6,56% em 12 meses. A tolerância do governo manteve a alta de preços bem acima da meta de 4,5% nos últimos cinco anos.
Neste ano, até novembro, chegou a 5,58% a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para a política anti-inflacionária.

Se a taxa do mês passado se repetir em dezembro, o aumento acumulado em 2014 chegará a 6,12%. Mas há previsões, no mercado, de números bem mais próximos do limite de tolerância, de 6,5%. As estimativas para 2015 ainda apontam resultados na vizinhança dessa marca.

Manter o índice anual abaixo de 6,5% tem sido a principal preocupação do governo. A meta oficial é de 4,5%, mas, na retórica da presidente Dilma Rousseff, pode ser qualquer ponto até o limite de tolerância. O uso corrente da expressão "teto da meta" - erro cometido até por analistas de instituições importantes - acaba avalizando a fala presidencial e dando um ar de seriedade a uma embromação.

Autoridades continuam negando responsabilidade pela disparada dos preços. É muito mais confortável apontar causas independentes da ação - e dos erros - governamentais. A seca é uma justificativa quase perfeita, por seu impactos, tanto reais quanto supostos, no custo da comida.


É uma saída fácil, porque o item "alimentação e bebidas" tem o maior peso na composição do IPCA. Com alta de 7,83% em 12 meses, esse item teve um impacto de 1,92 ponto na formação dos 6,56% acumulados no período.

Mas outros itens, com peso menor no resultado geral, subiram mais que alimentação e bebidas: habitação, 8,82%; despesas pessoais, 8,63%; e educação, 8,43%. Esses três componentes, somados, produziram uma inflação de 2,36%, maior que a dos alimentos.


Enfim, excluindo-se comida e bebida, sobra uma alta de preços de 4,64%, acima da meta e muito maior que a da maior parte dos emergentes.

Não há como negar: a inflação brasileira resulta basicamente de uma combinação de erros políticos e de atos irresponsáveis do governo, como o excesso de gastos públicos e o estímulo imprudente ao consumo (bem maior que à produção).


Além disso, a política educacional demagógica e mal orientada explica em boa parte os desajustes no mercado de trabalho, onde continua escassa a oferta de mão de obra com algum grau, embora modesto, de qualificação. Somando-se ainda os custos crescentes da logística e estará dada a maior parte das condições para um desarranjo persistente dos preços.

Com ou sem seca, com preços em alta ou em queda no mercado internacional de commodities, a inflação brasileira tem permanecido há muito tempo longe da meta e muito acima dos padrões internacionais.


Excluída a Argentina, a inflação média do Grupo dos 20 (G-20) ficou em 2,5% nos 12 meses até outubro, último dado disponível. A do Brasil chegou a 6,59%.

Como o ajuste das contas públicas, na melhor hipótese, ainda vai demorar, a política de juros altos continuará sendo, por um bom tempo, o principal instrumento de controle da demanda e, portanto, do repasse dos aumentos de preços.

Os dirigentes do BC terão de continuar muito atentos a esse risco, especialmente porque os preços por atacado voltaram a subir. Em quatro dos cinco meses de maio a setembro esses preços caíram, segundo a Fundação Getúlio Vargas, mas já avançam com firmeza.


Subiram 0,73% em outubro e 1,44% em novembro. Foram puxados em novembro pelos produtos agropecuários (2,92%), mas o encarecimento dos industriais também foi sensível (0,89%).

E ainda vem pela frente o reajuste de preços contidos politicamente e também daqueles indexados. Se tentar contemporizar, a presidente começará muito mal o segundo mandato.

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