Discutir política, nos últimos tempos, envolve necessariamente o conhecimento do Código Penal e das ações da diligente Polícia Federal. Muita gente está presa. As delações premiadas são tantas que até confundem o cidadão. Alguns privilegiados ganharam dinheiro grosso em cima dos negócios problemáticos da Petrobras. Não há como varrer a sujeira para debaixo do tapete.
A Petrobras está sendo investigada por órgão fiscalizador da Bolsa de Nova York e também pela Secretaria de Justiça do governo dos Estados Unidos. Na Holanda, também se estabeleceu um processo. Vexame internacional. As primeiras delações premiadas na íntegra distribuíram munição para todos os lados. Inclusive contra o Partido dos Trabalhadores, que é acusado de ser beneficiário desses dinheiros.
Tudo isso vai gerar consequências. A primeira delas é que a Petrobras, que anuncia sucessivos recordes de produção de petróleo, será levada a reduzir investimentos. Seus fornecedores vão sofrer. Empresas com elevado nível de qualificação técnica que trabalham quase exclusivamente para a grande petroleira deverão fechar as portas. A queda do preço internacional do petróleo poderá sacrificar a produção do pré-sal. O cenário externo não é bom.
Olhar apenas para a política revela um quadro desolador. A Presidência da República consegue aprovar no Congresso Projeto de Lei que modifica o índice de superavit primário destinado a pagar os juros da dívida. Essa ação é extremamente polêmica. O governo precisa respeitar as leis. Se não o fizer, quem o fará? Além disso, o texto informa, candidamente, que os congressistas só receberiam as emendas de parlamentares se o projeto fosse aprovado. Alguém não confiou em alguém e exigiu compromisso formal. A promessa e a palavra empenhada já não têm valor.
Entre as denúncias apareceu uma série de notas fiscais emitidas por empresa para justificar, na sua contabilidade, saques de alto valor. É a prova provada da corrupção. Ou seja, recibo da propina. A essa novidade, soma-se a inequívoca promessa de ganhos para quem votar a favor do projeto que modifica a Lei de Diretrizes Orçamentárias. São jabuticabas. Só no Brasil. Além disso, o ex-diretor de Gás e Energia (2003 a 2007) Ildo Sauer compareceu à sessão da CPMI no Congresso Nacional. Mas os governistas suspenderam a sessão. Contudo, o ex-diretor se colocou à disposição dos parlamentares e prestou depoimento numa sessão informal, em que até jornalistas, na bancada dos parlamentares, puderam fazer perguntas à vontade.
Vale tudo. No próximo ano, se o ministro Joaquim Levy conseguir levar seu projeto adiante, haverá redução de gastos, correção de preços e convivência com inflação elevada. Isso mexe com o povo, porque provoca queda do poder aquisitivo e não há mais correção monetária. Os ricos têm como se proteger da carestia, os pobres não. O cenário da confusão anunciada para 2015 está sendo montado com muita cautela e perfeccionismo. E apesar das preocupações em reduzir gastos, o próprio governo autorizou, nesta semana, aporte de R$ 30 bilhões ao BNDES. Ou seja, elevou a dívida pública. Não se sabe para que lado o governo pretende caminhar.
Parte da propina cobrada por Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, das empresas que prestavam serviços para a companhia foi paga na forma de doação oficial ao Partido dos Trabalhadores. A informação consta no depoimento de delação premiada de Augusto Ribeiro Mendonça Neto, que representou várias empresas desde a década de 1990, entre elas a Setal Engenharia, depois transformada em Toyo Setal.
O denunciante informou aos representantes do Judiciário que ele entregou dinheiro vivo a uma pessoa chamada Tigrão, homem de 40 anos, moreno, com altura entre 1m70 e 1m80 e meio gordinho. Ele seria, segundo o delator, emissário de Renato Duque. Outros dois retiraram dinheiro (entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões) em seu escritório. São elementos conhecidos como Melancia e Eucalipto. Demais pagamentos foram realizados no exterior, em contas indicadas pelo próprio Renato Duque, uma delas tem o nome de Marinelo.
O Brasil passou a ser administrado pelo trio Tigrão, Melancia e Eucalipto, que poderia ser a zaga de time de várzea do interior. Mas não é não. É a representação fiel da triste história das licitações na Petrobras. O ano de 2015 já começou. Não apresenta bons augúrios. Ao contrário, os cenários externos e interno são preocupantes. O clube do bilhão conseguiu avacalhar o país.
10 de dezembro de 2014
André Gustavo Stumpf, Correio Braziliense
A Petrobras está sendo investigada por órgão fiscalizador da Bolsa de Nova York e também pela Secretaria de Justiça do governo dos Estados Unidos. Na Holanda, também se estabeleceu um processo. Vexame internacional. As primeiras delações premiadas na íntegra distribuíram munição para todos os lados. Inclusive contra o Partido dos Trabalhadores, que é acusado de ser beneficiário desses dinheiros.
Tudo isso vai gerar consequências. A primeira delas é que a Petrobras, que anuncia sucessivos recordes de produção de petróleo, será levada a reduzir investimentos. Seus fornecedores vão sofrer. Empresas com elevado nível de qualificação técnica que trabalham quase exclusivamente para a grande petroleira deverão fechar as portas. A queda do preço internacional do petróleo poderá sacrificar a produção do pré-sal. O cenário externo não é bom.
Olhar apenas para a política revela um quadro desolador. A Presidência da República consegue aprovar no Congresso Projeto de Lei que modifica o índice de superavit primário destinado a pagar os juros da dívida. Essa ação é extremamente polêmica. O governo precisa respeitar as leis. Se não o fizer, quem o fará? Além disso, o texto informa, candidamente, que os congressistas só receberiam as emendas de parlamentares se o projeto fosse aprovado. Alguém não confiou em alguém e exigiu compromisso formal. A promessa e a palavra empenhada já não têm valor.
Entre as denúncias apareceu uma série de notas fiscais emitidas por empresa para justificar, na sua contabilidade, saques de alto valor. É a prova provada da corrupção. Ou seja, recibo da propina. A essa novidade, soma-se a inequívoca promessa de ganhos para quem votar a favor do projeto que modifica a Lei de Diretrizes Orçamentárias. São jabuticabas. Só no Brasil. Além disso, o ex-diretor de Gás e Energia (2003 a 2007) Ildo Sauer compareceu à sessão da CPMI no Congresso Nacional. Mas os governistas suspenderam a sessão. Contudo, o ex-diretor se colocou à disposição dos parlamentares e prestou depoimento numa sessão informal, em que até jornalistas, na bancada dos parlamentares, puderam fazer perguntas à vontade.
Vale tudo. No próximo ano, se o ministro Joaquim Levy conseguir levar seu projeto adiante, haverá redução de gastos, correção de preços e convivência com inflação elevada. Isso mexe com o povo, porque provoca queda do poder aquisitivo e não há mais correção monetária. Os ricos têm como se proteger da carestia, os pobres não. O cenário da confusão anunciada para 2015 está sendo montado com muita cautela e perfeccionismo. E apesar das preocupações em reduzir gastos, o próprio governo autorizou, nesta semana, aporte de R$ 30 bilhões ao BNDES. Ou seja, elevou a dívida pública. Não se sabe para que lado o governo pretende caminhar.
Parte da propina cobrada por Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, das empresas que prestavam serviços para a companhia foi paga na forma de doação oficial ao Partido dos Trabalhadores. A informação consta no depoimento de delação premiada de Augusto Ribeiro Mendonça Neto, que representou várias empresas desde a década de 1990, entre elas a Setal Engenharia, depois transformada em Toyo Setal.
O denunciante informou aos representantes do Judiciário que ele entregou dinheiro vivo a uma pessoa chamada Tigrão, homem de 40 anos, moreno, com altura entre 1m70 e 1m80 e meio gordinho. Ele seria, segundo o delator, emissário de Renato Duque. Outros dois retiraram dinheiro (entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões) em seu escritório. São elementos conhecidos como Melancia e Eucalipto. Demais pagamentos foram realizados no exterior, em contas indicadas pelo próprio Renato Duque, uma delas tem o nome de Marinelo.
O Brasil passou a ser administrado pelo trio Tigrão, Melancia e Eucalipto, que poderia ser a zaga de time de várzea do interior. Mas não é não. É a representação fiel da triste história das licitações na Petrobras. O ano de 2015 já começou. Não apresenta bons augúrios. Ao contrário, os cenários externos e interno são preocupantes. O clube do bilhão conseguiu avacalhar o país.
10 de dezembro de 2014
André Gustavo Stumpf, Correio Braziliense
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