Desde que Dilma prometeu “muito dinheiro” a quem investisse na Petrobras, o preço das ações caiu pela metade. A paralisia da presidente ajuda a explicar esse derretimento
“Quem investiu na Petrobras vai ganhar muito dinheiro”, prometeu a presidente e então candidata à reeleição Dilma Rousseff em debate na televisão em 19 de outubro. Quem ouviu e acreditou ainda está esperando. As ações da Petrobras têm sido as estrelas da Bovespa nesta semana. Na segunda-feira, caíram 9,20%. As negociações habituais dos papéis da empresa tiveram de ser interrompidas e passaram a ser feitas em forma de leilão, o que só ocorre quando a oscilação nas cotações ultrapassa os 10%, em medida destinada a proteger o mercado contra eventual atuação predatória de especuladores.
Não foi, porém, de responsabilidade de especuladores inescrupulosos a desvalorização dos papéis da Petrobras – na terça-feira, antes de se recuperarem, as ações preferenciais chegaram a ser negociadas a R$ 8,56, o mais baixo patamar desde 2005. Com isso, aquela de quem todos dizíamos ser a maior empresa nacional arrisca perder a posição, o que parecia inimaginável. A responsabilidade pela queda provém de um paradoxo linguístico – provém da irresponsabilidade. Irresponsabilidade com que a estatal vem sendo administrada nos últimos anos, incapaz agora até de apresentar seus balancetes.
Surpreendente seria se as ações estivessem em alta – não falamos de alta num ou noutro dia, mas de alta consistente. Hoje, os papéis da empresa valem a metade do que valiam quando Dilma fez sua promessa na televisão: em 20 de outubro, as ações preferenciais abriram a R$ 18,92; ontem, fecharam a R$ 9,46. Não há como sustentar o valor da Petrobras (ou de qualquer outra empresa de capital aberto que deve respeito aos seus acionistas) se contra ela pesam tantos fatos públicos desabonadores. Já nem há necessidade de fazer referência à sua política de preços, que mantinha remuneração negativa para os derivados entregues aos consumidores. Conceda-se à Petrobras, neste caso, o benefício da compaixão. A empresa teria sido obrigada a isso em razão da política econômica do próprio governo, seu principal acionista, interessado em manter artificialmente a inflação em níveis mais baixos. Entretanto, não é possível manter a mesma visão compassiva diante dos desmandos éticos que contaminaram praticamente todos os negócios e operações da estatal.
Eles foram escancarados pela Operação Lava Jato, que a cada dia nos surpreende com fatos gravíssimos resultantes do conluio sistêmico entre corruptos ativos e passivos, representados pelos que realizavam negócios lucrativos mediante polpuda distribuição de propinas para diretores da Petrobras, políticos e partidos. Até o momento, calcula-se em cerca de R$ 1 bilhão o dinheiro que tomou o caminho de contas no exterior, que financiou campanhas ou que enriqueceu ilicitamente pessoas e grupos organizados.
Tudo em detrimento da boa governança que deveria estar voltada para o cumprimento da atividade-fim da empresa, isto é, de fazê-la ofertar ao país produtos estratégicos para seu desenvolvimento e, consequentemente, garantir rentabilidade que lhe permitisse ampliar investimentos e ganhos minimamente razoáveis e seguros aos seus acionistas. A Operação Lava Jato ainda não mostrou tudo, mas já o suficiente para nos provar, definitivamente, que o modus operandi da Petrobras seguia caminho desonestamente inverso.
Parafraseando Venina Fonseca, a executiva da Petrobras que desde 2009 vinha alertando seus superiores sobre a grossa corrupção que grassava na empresa, o orgulho se transformou em vergonha – a tal ponto que, embora muito séria, soa até como galhofa contra o Brasil a ação movida por investidores norte-americanos que recorreram à Justiça para reclamar as perdas sofridas com a desvalorização de suas aplicações em papéis da nossa petrolífera.
Enquanto isso, presa às suas indecisões ou à teimosia autoritária que lhe é peculiar, a presidente Dilma Rousseff não age para enfrentar a situação vexatória. Mantém-se na defensiva, como que atribuindo aos “golpistas” o desmanche da Petrobras, em vez de, entre outras providências, determinar a imediata substituição da atual diretoria da estatal – sabidamente incapaz ou espertamente desinteressada em fazer a inadiável faxina interna. A atitude que Dilma poderia tomar certamente contribuiria, para dizer o mínimo, para evitar o precipício em que estão caindo as ações da Petrobras.
“Quem investiu na Petrobras vai ganhar muito dinheiro”, prometeu a presidente e então candidata à reeleição Dilma Rousseff em debate na televisão em 19 de outubro. Quem ouviu e acreditou ainda está esperando. As ações da Petrobras têm sido as estrelas da Bovespa nesta semana. Na segunda-feira, caíram 9,20%. As negociações habituais dos papéis da empresa tiveram de ser interrompidas e passaram a ser feitas em forma de leilão, o que só ocorre quando a oscilação nas cotações ultrapassa os 10%, em medida destinada a proteger o mercado contra eventual atuação predatória de especuladores.
Não foi, porém, de responsabilidade de especuladores inescrupulosos a desvalorização dos papéis da Petrobras – na terça-feira, antes de se recuperarem, as ações preferenciais chegaram a ser negociadas a R$ 8,56, o mais baixo patamar desde 2005. Com isso, aquela de quem todos dizíamos ser a maior empresa nacional arrisca perder a posição, o que parecia inimaginável. A responsabilidade pela queda provém de um paradoxo linguístico – provém da irresponsabilidade. Irresponsabilidade com que a estatal vem sendo administrada nos últimos anos, incapaz agora até de apresentar seus balancetes.
Surpreendente seria se as ações estivessem em alta – não falamos de alta num ou noutro dia, mas de alta consistente. Hoje, os papéis da empresa valem a metade do que valiam quando Dilma fez sua promessa na televisão: em 20 de outubro, as ações preferenciais abriram a R$ 18,92; ontem, fecharam a R$ 9,46. Não há como sustentar o valor da Petrobras (ou de qualquer outra empresa de capital aberto que deve respeito aos seus acionistas) se contra ela pesam tantos fatos públicos desabonadores. Já nem há necessidade de fazer referência à sua política de preços, que mantinha remuneração negativa para os derivados entregues aos consumidores. Conceda-se à Petrobras, neste caso, o benefício da compaixão. A empresa teria sido obrigada a isso em razão da política econômica do próprio governo, seu principal acionista, interessado em manter artificialmente a inflação em níveis mais baixos. Entretanto, não é possível manter a mesma visão compassiva diante dos desmandos éticos que contaminaram praticamente todos os negócios e operações da estatal.
Eles foram escancarados pela Operação Lava Jato, que a cada dia nos surpreende com fatos gravíssimos resultantes do conluio sistêmico entre corruptos ativos e passivos, representados pelos que realizavam negócios lucrativos mediante polpuda distribuição de propinas para diretores da Petrobras, políticos e partidos. Até o momento, calcula-se em cerca de R$ 1 bilhão o dinheiro que tomou o caminho de contas no exterior, que financiou campanhas ou que enriqueceu ilicitamente pessoas e grupos organizados.
Tudo em detrimento da boa governança que deveria estar voltada para o cumprimento da atividade-fim da empresa, isto é, de fazê-la ofertar ao país produtos estratégicos para seu desenvolvimento e, consequentemente, garantir rentabilidade que lhe permitisse ampliar investimentos e ganhos minimamente razoáveis e seguros aos seus acionistas. A Operação Lava Jato ainda não mostrou tudo, mas já o suficiente para nos provar, definitivamente, que o modus operandi da Petrobras seguia caminho desonestamente inverso.
Parafraseando Venina Fonseca, a executiva da Petrobras que desde 2009 vinha alertando seus superiores sobre a grossa corrupção que grassava na empresa, o orgulho se transformou em vergonha – a tal ponto que, embora muito séria, soa até como galhofa contra o Brasil a ação movida por investidores norte-americanos que recorreram à Justiça para reclamar as perdas sofridas com a desvalorização de suas aplicações em papéis da nossa petrolífera.
Enquanto isso, presa às suas indecisões ou à teimosia autoritária que lhe é peculiar, a presidente Dilma Rousseff não age para enfrentar a situação vexatória. Mantém-se na defensiva, como que atribuindo aos “golpistas” o desmanche da Petrobras, em vez de, entre outras providências, determinar a imediata substituição da atual diretoria da estatal – sabidamente incapaz ou espertamente desinteressada em fazer a inadiável faxina interna. A atitude que Dilma poderia tomar certamente contribuiria, para dizer o mínimo, para evitar o precipício em que estão caindo as ações da Petrobras.
19 de dezembro de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR
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