A presidente Dilma Rousseff começa a sentir as consequências de uma eleição extremamente polarizada e, especialmente, marcada por troca de acusações. A possibilidade de negociação, até mesmo com a base aliada, está mais difícil. Diálogo com a oposição, neste momento, parece coisa impossível.
Além da intensificação da polarização, o resultado eleitoral também contribui para a dificuldade. O senador tucano Aécio Neves, candidato derrotado no segundo turno, teve 48% dos votos válidos – percentual que a oposição ainda não tinha obtido.
Essa votação expressiva o habilita a encarnar a oposição, certamente. E, considerando aquilo que o senador já disse, ele está disposto mesmo a fazer uma oposição sistemática, que foi exatamente o que o PSDB não fez em nenhum mandato do PT. Em outras palavras, o PSDB somente tem incorporado a função de oposição efetiva em período pré-eleitoral. Foi isso, inclusive, o que aconteceu neste ano.
Com essa nova situação, pode ser que o PSDB mude sua postura e passe a fazer uma “marcação mais dura e cerrada” sobre o PT. Se assim fizer, Dilma Rousseff ainda deverá ter muitas dores de cabeça.
Esse convite que ela tem feito – ainda que meio envergonhado – para o diálogo é um sinal de que ela reconhece todas as dificuldades e está disposta a privilegiar o governo. Não gratuitamente, ontem, a presidente disse que não representa seu partido. “Represento a Presidência”, disse ela durante entrevista.
NEM É PETISTA…
Na verdade, Dilma Rousseff nunca foi uma petista de carteirinha – se é que ainda existe isso. Ela chegou ao partido depois de passar pelo PDT, sigla em que realmente criou uma identificação.
Descolar do petismo neste momento pode ser uma estratégia inteligente para ela e para o governo, mas também terá um preço. Foi esse PT que carregou a campanha vitoriosa da presidente. Foi o partido que saiu às ruas para combater o antipetismo e defender Dilma.
Assim, criar uma briga interna à legenda pode não ser mesmo a coisa mais adequada, especialmente para quem ainda tem pretensões políticas.
A presidente terá que ter muito jogo de cintura para governar sem transformar seu partido em um obstáculo e, ao mesmo tempo, sem alimentar as críticas da oposição, que já parece faminta. É um enorme desafio o colocado para ela.
Talvez seja o tempo de Dilma ter mais humildade e admitir que ela chegou à Presidência pelas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT e com eles é preciso governar. Afinal, governar para todos é uma coisa e governar com todos é outra.
O país precisa de conciliação e unidade, mas os partidos e o sistema político precisam das divergências. É assim a democracia. É difícil? É sim, mas não foi para isso que ela foi eleita?
(transcrito de O Tempo)
10 de novembro de 2014
Carla Kreefft
Essa votação expressiva o habilita a encarnar a oposição, certamente. E, considerando aquilo que o senador já disse, ele está disposto mesmo a fazer uma oposição sistemática, que foi exatamente o que o PSDB não fez em nenhum mandato do PT. Em outras palavras, o PSDB somente tem incorporado a função de oposição efetiva em período pré-eleitoral. Foi isso, inclusive, o que aconteceu neste ano.
Com essa nova situação, pode ser que o PSDB mude sua postura e passe a fazer uma “marcação mais dura e cerrada” sobre o PT. Se assim fizer, Dilma Rousseff ainda deverá ter muitas dores de cabeça.
Esse convite que ela tem feito – ainda que meio envergonhado – para o diálogo é um sinal de que ela reconhece todas as dificuldades e está disposta a privilegiar o governo. Não gratuitamente, ontem, a presidente disse que não representa seu partido. “Represento a Presidência”, disse ela durante entrevista.
NEM É PETISTA…
Na verdade, Dilma Rousseff nunca foi uma petista de carteirinha – se é que ainda existe isso. Ela chegou ao partido depois de passar pelo PDT, sigla em que realmente criou uma identificação.
Descolar do petismo neste momento pode ser uma estratégia inteligente para ela e para o governo, mas também terá um preço. Foi esse PT que carregou a campanha vitoriosa da presidente. Foi o partido que saiu às ruas para combater o antipetismo e defender Dilma.
Assim, criar uma briga interna à legenda pode não ser mesmo a coisa mais adequada, especialmente para quem ainda tem pretensões políticas.
A presidente terá que ter muito jogo de cintura para governar sem transformar seu partido em um obstáculo e, ao mesmo tempo, sem alimentar as críticas da oposição, que já parece faminta. É um enorme desafio o colocado para ela.
Talvez seja o tempo de Dilma ter mais humildade e admitir que ela chegou à Presidência pelas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT e com eles é preciso governar. Afinal, governar para todos é uma coisa e governar com todos é outra.
O país precisa de conciliação e unidade, mas os partidos e o sistema político precisam das divergências. É assim a democracia. É difícil? É sim, mas não foi para isso que ela foi eleita?
(transcrito de O Tempo)
10 de novembro de 2014
Carla Kreefft
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