"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

SALDO PÓS-ELEIÇÃO

 


 
Estava ali, bem do nosso lado, o tempo todo durante os últimos anos, mas, por alguma razão, a gente preferiu não ver ou acreditar na sua extinção. Bastou uma eleição muito polarizada para tudo vir à tona novamente, com toda a força.
É isso, o Brasil não está dividido: o Brasil sempre foi dividido. E todo o ódio, o rancor e o preconceito despejados nas redes sociais desde a vitória da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), a presidente Dilma Rousseff, causaram espanto, mas também provocaram um resultado extremamente positivo.
A oposição conflitante de setores diferentes da sociedade, muitas vezes ocultada, foi obrigada a sair do armário, ficou explícita.
 
As reações pós-eleição, desde as mais infantis – como aquela bandeira do Brasil em preto e branco com a palavra “luto” – até as criminosas voltadas contra nordestinos e camadas mais pobres da população, serviram para mostrar o quanto ainda é preciso mudar.
A derrota apertada apenas escancarou a segmentação da sociedade brasileira. O discurso vazio de combate à corrupção usado por parte dos eleitores como principal argumento para derrotar o PT era apenas uma maneira de esconder sentimentos de classe não tão nobres.

Com os atores mais definidos, fica fácil até compreender de forma mais clara as manifestações do ano passado. Era um amontoado de insatisfação dividido entre grupos com interesses próprios. Havia, sim, reivindicação por uma pauta mais social – transporte público, educação, saúde, moradia –, como também havia reclamações de uma classe média-alta insatisfeita com a perda de poder financeiro e simbólico. O erro foi – e ainda é – querer entender aquela massa como um movimento uniforme, sem contradições no seu interior.

FISSURA SOCIAL

Essa fissura social iluminada pela vitória de Dilma pode ser, sim, considerada um saldo positivo, e não se trata de uma divisão entre bonzinhos e malvados, mas sim de visões de mundo divergentes, de ideologias diferentes.

O enorme desafio do próximo governo será justamente aprofundar uma pauta social e econômica diante desse quadro beligerante. Apesar do discurso de união e conciliação, a presidente já é cobrada por grupos contra e a favor da sua reeleição a tomar caminhos opostos.

Quem votou na presidente por convicção ou por rejeição ao candidato da oposição espera na verdade uma tomada de posição mais firme de Dilma em alguns temas negligenciados durante o primeiro mandato.

Há ainda uma enorme expectativa de como será a relação da presidente com o Congresso. Na primeira semana após a reeleição, deputados, inclusive da base, já deram o recado a Dilma ao derrotar o decreto regularizando os conselhos populares. Ali, tudo está como antes.

(transcrito de O Tempo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário