A reprodução, na forma e conteúdo, da atual campanha do PT em relação às anteriores reflete o esgotamento de uma fórmula vitoriosa enquanto a maquiagem da realidade resistiu aos efeitos do tempo.
A crise da economia é o desfecho de um ciclo populista que se mostra insustentável desde que o contribuinte despertou da anestesia de consumo a que foi submetido em favor de um projeto cujo objetivo único é o da permanência no poder.
O recurso aos mesmos métodos de sempre já não se mostra, por isso, eficiente. A substituição do debate pela desqualificação dos adversários, a comparação com o governo do PSDB (já lá se vão 12 anos), o discurso antiprivatização, a terceirização dos erros - ora à imprensa, ora a causas externas - se mantêm sedutores para uma parcela cada vez menor do eleitorado.
Nesse contexto, ressurgem os chamados aloprados, termo cunhado pelo ex-presidente Lula para desvincular o governo de ações sujas que vão da quebra de sigilos à difamação de adversários, agora operadas de dentro do Palácio do Planalto.
O que há de novo nessa ação é o fato de os aloprados de ontem, militantes de campanha, agora atuarem dentro do governo, como mostra a alteração de perfis de jornalistas na internet a partir de computador do Palácio do Planalto.
O ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, responsabilizado por Lula, em 2006, pela seleção dos aloprados que produziram dossiês falsos contra o candidato da oposição, José Serra, participa da campanha em cargo oficial.
De sua secretaria, o governo coordenou a ação de desmoralização da CPI da Petrobrás, dando conhecimento prévio a diretores da empresa das perguntas que lhes seriam feitas na comissão, o que está muito longe da normalidade da preparação de depoentes.
Já havia o PT, antes, produzido uma lista negra de jornalistas, divulgada pelo seu vice-presidente, Alberto Cantalice (RJ), em um ato de cunho fascista, que remete à dedução legítima de que lista bem mais ampla circula em órgãos do governo com meios de prejudicar profissionais a partir do acesso a dados pessoais cuja proteção é garantida constitucionalmente.
A volta dos aloprados à cena eleitoral revela que a expressão jocosa com a qual o ex-presidente os classificou funciona para eles como uma espécie de licença para delinquir, protegidos pela versão de que agem à revelia do partido e do governo.
Mas, uma vez dentro do Planalto e de outros órgãos públicos, muitos com representação regional, não cabe mais o silêncio da presidente Dilma Rousseff em relação a esses delitos.
11 de agosto de 2014
João Bosco Rabello, Estado de S.Paulo
A crise da economia é o desfecho de um ciclo populista que se mostra insustentável desde que o contribuinte despertou da anestesia de consumo a que foi submetido em favor de um projeto cujo objetivo único é o da permanência no poder.
O recurso aos mesmos métodos de sempre já não se mostra, por isso, eficiente. A substituição do debate pela desqualificação dos adversários, a comparação com o governo do PSDB (já lá se vão 12 anos), o discurso antiprivatização, a terceirização dos erros - ora à imprensa, ora a causas externas - se mantêm sedutores para uma parcela cada vez menor do eleitorado.
Nesse contexto, ressurgem os chamados aloprados, termo cunhado pelo ex-presidente Lula para desvincular o governo de ações sujas que vão da quebra de sigilos à difamação de adversários, agora operadas de dentro do Palácio do Planalto.
O que há de novo nessa ação é o fato de os aloprados de ontem, militantes de campanha, agora atuarem dentro do governo, como mostra a alteração de perfis de jornalistas na internet a partir de computador do Palácio do Planalto.
O ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, responsabilizado por Lula, em 2006, pela seleção dos aloprados que produziram dossiês falsos contra o candidato da oposição, José Serra, participa da campanha em cargo oficial.
De sua secretaria, o governo coordenou a ação de desmoralização da CPI da Petrobrás, dando conhecimento prévio a diretores da empresa das perguntas que lhes seriam feitas na comissão, o que está muito longe da normalidade da preparação de depoentes.
Já havia o PT, antes, produzido uma lista negra de jornalistas, divulgada pelo seu vice-presidente, Alberto Cantalice (RJ), em um ato de cunho fascista, que remete à dedução legítima de que lista bem mais ampla circula em órgãos do governo com meios de prejudicar profissionais a partir do acesso a dados pessoais cuja proteção é garantida constitucionalmente.
A volta dos aloprados à cena eleitoral revela que a expressão jocosa com a qual o ex-presidente os classificou funciona para eles como uma espécie de licença para delinquir, protegidos pela versão de que agem à revelia do partido e do governo.
Mas, uma vez dentro do Planalto e de outros órgãos públicos, muitos com representação regional, não cabe mais o silêncio da presidente Dilma Rousseff em relação a esses delitos.
11 de agosto de 2014
João Bosco Rabello, Estado de S.Paulo
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