Causou polêmica um comunicado recente do banco Santander a um grupo seleto de clientes com perfil de investidor. Nele, o banco trazia uma breve análise do cenário da economia brasileira e perspectivas, sugerindo aconselhamento de investimentos diante do cenário traçado. O governo, o PT e a presidente-candidata não gostaram nem um pouco da análise. Tanto pressionaram que até o presidente mundial do Santander se manifestou desculpando-se e reafirmando a confiança do banco no futuro da economia do Brasil. O analista responsável pelo comunicado acabou demitido.
Mas o que dizia de tão grave o tal informe do Santander? Além de um breve apanhado geral do cenário econômico atual (“baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta-corrente”), relacionava a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenções de voto com as recentes altas no índice Ibovespa. O informe também afirmava que, caso a situação eleitoral mudasse em favor de Dilma, “o câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam a alta e o índice Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes”. Por fim, recomendava que, diante desse cenário, o cliente procurasse seu gerente de relacionamento para avaliar quais as melhores alternativas de investimento diante desse cenário.
Em suma, trouxe uma versão resumida de fatos concretos e objetivos da realidade brasileira que hoje influenciam as flutuações do mercado. Em nenhum momento o analista do Santander emitiu julgamentos de valor sobre os rumos tomados pela política econômica do atual governo. Apenas fez o que se espera de um profissional encarregado de aconselhar clientes sobre as melhores formas de investir seu dinheiro. Estaria sendo negligente e irresponsável se ignorasse o atoleiro econômico em que se encontra o Brasil. No mesmo sentido já haviam se posicionado grandes bancos estrangeiros, como o Deutsche Bank e o Goldman Sachs.
Mesmo que a análise do Santander estivesse equivocada, nenhum governo ou partido tem o direito de interferir na sua relação com seus clientes desta forma. Onde ficam a autonomia contratual do cliente do banco, sua confiança, a independência de seus analistas, a transparência? E a liberdade de expressão?
A valorização (e desvalorização) de ativos está diretamente relacionada a suas expectativas de valor futuro. Em um país como o Brasil, onde temos um profundo grau de intrusão governamental na economia, um canetaço do governo federal pode decidir o sucesso ou a falência de muitas empresas. Basta observar o que vem ocorrendo com a Petrobras e com as empresas do setor elétrico, pagando o pato do descontrole fiscal e monetário em vigor no país.
As reações da presidente e de seu partido são de uma gravidade que não pode ser ignorada. Quando a mão intervencionista muito visível do Estado acovarda até um dos maiores bancos da América Latina, é preciso refletir sobre o que resta a nós, reles mortais. “Trabalhe, pague impostos e fique de boca fechada” é o que parecem dizer. E assim seguimos, como o Santander, tecendo a corda de nossa própria forca.
11 de agosto de 2014
Fábio Ostemann, Gazeta do Povo, PR
Mas o que dizia de tão grave o tal informe do Santander? Além de um breve apanhado geral do cenário econômico atual (“baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta-corrente”), relacionava a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenções de voto com as recentes altas no índice Ibovespa. O informe também afirmava que, caso a situação eleitoral mudasse em favor de Dilma, “o câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam a alta e o índice Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes”. Por fim, recomendava que, diante desse cenário, o cliente procurasse seu gerente de relacionamento para avaliar quais as melhores alternativas de investimento diante desse cenário.
Em suma, trouxe uma versão resumida de fatos concretos e objetivos da realidade brasileira que hoje influenciam as flutuações do mercado. Em nenhum momento o analista do Santander emitiu julgamentos de valor sobre os rumos tomados pela política econômica do atual governo. Apenas fez o que se espera de um profissional encarregado de aconselhar clientes sobre as melhores formas de investir seu dinheiro. Estaria sendo negligente e irresponsável se ignorasse o atoleiro econômico em que se encontra o Brasil. No mesmo sentido já haviam se posicionado grandes bancos estrangeiros, como o Deutsche Bank e o Goldman Sachs.
Mesmo que a análise do Santander estivesse equivocada, nenhum governo ou partido tem o direito de interferir na sua relação com seus clientes desta forma. Onde ficam a autonomia contratual do cliente do banco, sua confiança, a independência de seus analistas, a transparência? E a liberdade de expressão?
A valorização (e desvalorização) de ativos está diretamente relacionada a suas expectativas de valor futuro. Em um país como o Brasil, onde temos um profundo grau de intrusão governamental na economia, um canetaço do governo federal pode decidir o sucesso ou a falência de muitas empresas. Basta observar o que vem ocorrendo com a Petrobras e com as empresas do setor elétrico, pagando o pato do descontrole fiscal e monetário em vigor no país.
As reações da presidente e de seu partido são de uma gravidade que não pode ser ignorada. Quando a mão intervencionista muito visível do Estado acovarda até um dos maiores bancos da América Latina, é preciso refletir sobre o que resta a nós, reles mortais. “Trabalhe, pague impostos e fique de boca fechada” é o que parecem dizer. E assim seguimos, como o Santander, tecendo a corda de nossa própria forca.
11 de agosto de 2014
Fábio Ostemann, Gazeta do Povo, PR
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