O candidato do PT ao Governo paulista, Alexandre Padilha, estima os gastos de campanha em pouco mais de R$ 30 milhões. Nada anormal: seus principais adversários não devem anunciar um número muito diferente. Deste total, R$ 25 milhões vão para produzir o programa do horário eleitoral gratuito.
Gratuito, cara-pálida? Não é gratuito para ninguém: o candidato gasta a maior parte de sua verba de campanha para produzir a chatice; se as tevês e rádios têm bom desconto de impostos calculando o preço pela tabela cheia (que só existe para isso: os demais anunciantes têm grandes descontos), também perdem audiência com o programa insuportável; ouvintes e telespectadores, se ganham tempo para ir ao banheiro sem perder nada importante, são obrigados a tolerar o atraso da programação normal por causa do besteirol dos candidatos-promessinhas.
É um jogo de perde-perde, em que a conta cai nas costas de quem trabalha e gostaria de relaxar um pouco antes de dormir. E que conta! O Tesouro paga a TV e o rádio na forma de perdão de impostos, e o dinheiro que deixa de entrar será compensado, caro leitor, pelo que sai de seu bolso. O que é gasto pelos candidatos é doado por empresas privadas (que ou vão caprichar nos preços ou buscar mais benefícios, que a-l-g-u-é-m terá de pagar) ou entidades oficiais – o maior doador, até agora, é um grupo privado em que um terço do capital pertence ao BNDES, o banco de desenvolvimento ligado ao Governo.
Mais chapa branca, impossível. Nada é de graça. O caro leitor e eleitor paga até o crachá de otário.
Que ninguém se atreva a dizer que os homens públicos não pensam no cidadão. O Congresso parou de trabalhar antes da Copa, e já decidiu que em agosto não dá: fazer campanha eleitoral, para que o eleitor tenha a possibilidade de escolher os melhores candidatos, é tarefa exaustiva. Juntar a isso o trabalho normal de Suas Excelências é demais. Trabalho, só em setembro – e este colunista duvida, já que estaremos às vésperas das eleições. E só: em outubro há a eleição e o segundo turno.
Trabalho, se trabalho houver, só em novembro, antes das festas. Mas eles se lembram do povo: vão receber o salário direitinho, integral, com todos os penduricalhos e verbas, pois não esquecem que há quem pague a conta.
A nota acima é injusta: o Congresso não deixou totalmente de trabalhar, não. Aproveitou um raro dia em que havia gente em Brasília e votou um dispositivo que permite criar mais 200 municípios. Todos com prefeito, vice, Paço Municipal, secretários, assessores, Câmaras com no mínimo 21 vereadores, com secretárias, assessores, prédio, serviços terceirizados de limpeza e segurança, despesas de representação, carros, motoristas.
Situação e oposição votaram a favor de mais essa gastança. Deve haver benefícios: um dia alguém nos diz quais são. E nem é preciso calcular o custo de toda essa estrutura: o caro leitor vai pagá-la.
O Ibope desta semana mantém o quadro anterior: Dilma continua favoritíssima, com possibilidades de ganhar no primeiro turno. Os pontos que perdeu, de tempos para cá, não beneficiaram os candidatos de oposição. Há desejo de mudança, aferido em pesquisas, mas os oposicionistas ainda não conseguiram capitalizá-lo – afinal, quando há uma votação que não traz nenhuma vantagem à população, como essa de criar municípios novos, Governo e Oposição votam do mesmo jeito.
Se é para não mudar, que fique quem já está. Mas o Ibope mostrou que, num segundo turno, Dilma terá trabalho: com sua ampla rejeição de 36%, tanto Aécio quando Eduardo, quem disputar, terá chances de vencer. Não há entusiasmo em escolher um dos dois; mas, no mata-mata, unem-se todos contra ela.
Quem gravou o vídeo-bomba mostrando que o Palácio do Planalto entregou a deputados e senadores as perguntas que deveriam fazer ao pessoal do Governo e da Petrobras durante a CPI? O responsável pela gravação fulminou o Governo e a base aliada e sumiu, sem que ninguém ao menos procure descobrir quem é e quais seus objetivos.
Ou, pior ainda, talvez haja até quem saiba de quem se trata, mas a quem interessa revelar seu nome? De repente é fogo amigo!
Romeu Tuma Jr., ex-secretário nacional de Justiça, cujo depoimento ao jornalista Cláudio Tognolli rendeu um livro best-seller, Assassinato de Reputações, não cria problemas só para petistas – cujo líder, Lula, foi por ele apontado como informante de seu pai, delegado Romeu Tuma, chefe da Polícia política na ditadura. A Federal tentou conduzir Tuma Jr. coercitivamente para depor. E Tuma Jr. quer saber se foi o senador Aloysio Nunes Ferreira, PSDB, vice de Aécio, quem pediu para ouvi-lo.
Tuma Jr. lembra no livro que Aloysio era ministro da Justiça na época do assassínio de Celso Daniel, PT, prefeito de Santo André. E que dois delegados da Polícia Federal, ligada ao Ministério, apreenderam o computador doméstico do político assassinado, sem que nada referente a isso aparecesse posteriormente no inquérito.
12 de agosto de 2014
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde
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