"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

FRUSTRAÇÃO MUNICIPAL

Após um ano e meio como prefeito, Haddad tem baixa aprovação; paulistanos esperavam mais de quem prometia ser o 'homem novo'

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), chega a um ano e meio no cargo com um índice de aprovação baixo até para os padrões de uma cidade tradicionalmente crítica a seus governantes.

De acordo com pesquisa Datafolha realizada na semana passada, a administração atual é considerada ótima ou boa por 17% dos paulistanos. Desde a redemocratização do país, o patamar supera somente os 9% obtidos por Jânio Quadros (PTB) em 1987 e os 11% de Celso Pitta (PPB) em 1998.

Como consolação ao petista resta o fato de que sua taxa de ruim/péssimo (36%) não destoa dos resultados alcançados pela maioria de seus antecessores. Nesse quesito, Jânio (66%) e Pitta (54%) são novamente os destaques negativos.

Seria pouco, é claro, contentar-se com uma rejeição relativamente moderada, e os paulistanos decerto esperavam mais do prefeito que, enquanto candidato, se apresentava como o "homem novo".

No início do governo, Haddad contava com a boa vontade da população. Ostentou, nos seis primeiros meses, 34% de ótimo/bom, o melhor desempenho apurado pelo Datafolha para um prefeito paulistano após um semestre no cargo.

A disposição favorável, entretanto, não resistiu às manifestações de junho passado. Em meio à enxurrada de protestos, sua aprovação desabou para 18% e jamais retornou ao nível anterior. Hoje, nada menos que 77% dos entrevistados afirmam que a gestão petista está aquém das expectativas.

Não faltam argumentos para sustentar essa opinião. Na área da educação, por exemplo, foram entregues 26 das 243 creches prometidas; dos 20 CEUs (Centro Educacional Unificado) anunciados, só 1 está em fase final. É muito pouco.

O ritmo pífio repete-se na saúde: estão prontas 4 das 43 UBS (Unidade Básica de Saúde) previstas e 10 das 32 unidades da Rede Hora Certa, enquanto as obras de três hospitais não tiveram início.

Mesmo no setor dos transportes, catalisador dos protestos do ano passado, as ações da prefeitura deixam a desejar. Se a meta de 150 km de faixas exclusivas de ônibus foi em muito superada (já são 337 km), a de corredores (150 km), mais caros e mais eficientes, nem começou a sair do papel.

Verdade que o município tem as finanças estranguladas. Dívidas antigas impedem novos empréstimos; o reajuste do IPTU foi suspenso pela Justiça, e o da tarifa de ônibus, por pressão das ruas. Haddad, ademais, frustrou-se na renegociação da dívida com a União, descartada pelo governo federal.

Governar a cidade de São Paulo, porém, nunca foi fácil. O gigantismo de seus problemas deveria ensejar respostas de igual envergadura, e não ser usado como desculpa para a pequenez das soluções.


02 de julho de 2014
Editorial Folha de SP

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