O que mais me irrita é que toda essa trapalhada dos governos Lula e Dilma em torno da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, sirva para alimentar os interesses dos oligopólios internacionais, como sói acontecer.
A capacidade de essas petroleiras se imporem não pode ser desprezada. João Goulart disse, à beira do túmulo de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, que dirigentes de petroleiras internacionais tinham as mãos sujas de sangue porque, menos de um ano antes de seu suicídio, o presidente da República instituíra o monopólio estatal da exploração das jazidas existentes no território nacional. O próprio Jango seria deposto, em 1964, pouco mais de três meses após estender o monopólio estatal para a importação e exportação de petróleo e derivados.
AS SETE IRMÃS
Desde a década de 1920, Standard Oil, Shell, Texaco e Atlantic criavam todos os tipos de dificuldade ao domínio do ciclo do petróleo pelos brasileiros. Mesmo com a vaga nacionalista dos anos 30, Getúlio Vargas se ajustava aos interesses das grandes irmãs. Basta lembrar que, desde 1938, o general Horta Barbosa, presidente do Conselho Nacional do Petróleo, insistia na adoção do monopólio estatal de exploração, aos moldes do que vira na Argentina e no México, mas isso só viria a ocorrer com a sanção da Lei 2.004, de 3 de outubro de 1953, após fabulosa campanha popular.
Tudo isso posto, creio que as multidões que tomaram gosto por ir às ruas deveriam pautar a defesa de uma Petrobras genuinamente voltada para os interesses de nosso povo. Tenho dúvidas se o acerto entre nossa estatal, os chineses e duas petroleiras ocidentais para a exploração do pré-sal, como vimos no primeiro leilão sob regime de partilha, nos proporcionará os melhores resultados. Mas é melhor do que a concessão pura e simples.
Enfim: que possa o povo se articular novamente em comitês populares na defesa do petróleo e ir maciçamente às ruas para proteger a Petrobras da cobiça externa e de políticos inescrupulosos. Como foi feito na memorável jornada “O petróleo é nosso”, de que apenas ficou, como registro – lamentável – a perseguição sofrida pelo comitê mineiro, quando à época governava Minas Gerais Juscelino Kubitschek! Que ninguém se esqueça de nossa história.
(transcrito de O Tempo)
Sandra Starling
Nenhum comentário:
Postar um comentário