"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

EXPLICANDO O PT


 
"Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam com a outra, antes se negam, se repulsam mutuamente. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada". (Rui Barbosa)
Lula e o PT só poderiam crescer num país como o Brasil que tem uma sociedade com características estranhas.
Historicamente a sociedade e a política brasileira são marcadas por três características culturais principais: patrimonialismo, personalismo e autoritarismo. Esses "ismos" dão origem à fragilidade da nossa democracia como o clientelismo, o coronelismo, a corrupção e a falta de diretrizes políticas partidárias consistentes.
O Brasil nasce com a natureza de um governo colonial que passa a exercer poderosa influência sobre o pensamento e o comportamento políticos consequentes, daí porque um estudioso ter afirmado que “o Brasil teve um Estado antes de ter uma sociedade”. Portanto, o governo brasileiro desde o Brasil colônia não foi um governo baseado em uma sociedade civil, mas num Estado que tudo dirige e para o qual seus súditos, seus escravos, se voltam para orientação e recompensa material.
 Os políticos e a política brasileira são autênticos produtos do patrimonialismo e do coronelismo, ou seja, são uma mistura do conluio do poder estatal e o poder privado com a finalidade de distribuir facilidades e oportunidades.
Nesse sistema, que prevalece até os nossos dias, não há cidadãos, há súditos num sistema de troca com o Estado, regido pelo favoritismo pessoal do governante. O Brasil é, portanto, sem nenhuma dúvida, o país do clientelismo, do nepotismo, da corrupção e da inconsciência, da leviandade, da irresponsabilidade, da irreflexão e da injustiça.
Não há como negar diante do passado provado pela história e do nosso presente que o país é entregue a um grupo de irresponsáveis eleitos por irresponsáveis. Nas palavras de um professor de direito que reflete a angústia dos sensatos:
“Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.”  
Nossa vida política foi iniciada de modo original: tivemos Estado, antes de ter sociedade. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.
Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:

“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.

Iniciamos nossa vida política, sem sociedade. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir, ou melhor, existe para ser usado como gado para puxar uma carroça pútrida de governantes, políticos e clientes do Estado de cor vermelha ou preta com o rosto da caveira, piratas.
Lula e o PT nasceram e foram criados dentro de um cenário político onde sempre vigorou a presença forte do Estado sem uma sociedade, apenas com súditos e escravos obedientes da vontade dos governantes.
Foram criados e se desenvolveram dentro de um cenário permissível a todo tipo de anomalia e promessas enganadoras, coisa que a sociedade brasileira admite e sempre admitiu, pois sempre conviveu com a presença do Estado acima da sociedade.
Dentro dessa visão, dessa realidade, temos que admitir que Lula e seu partido estão certos. Os errados é a sociedade brasileira, o povo brasileiro, os empresários que vendem suas almas para garantir favores e benefícios do Estado, causa da nossa improdutividade e ausência de inovação; são os grandes produtores rurais íntimos do Estado e distantes de um Brasil melhor sem a canga do Estado; são os políticos e políticas sujas e nocivas.
Lula, que usa e usou sua inteligência maléfica, como um comediante, ri da estupidez da sociedade brasileira que acreditou em suas promessas e, agora, em razão de sua impotência e costumeiramente súdito ou escravo, não está achando meios para rechaça-lo do poder com seus vassalos. Lula e o PT estão a vinte anos fazendo pouco da sociedade, dos ricos, dos políticos chamados de oposição, do sistema, das elites econômicas, dos pobres, da classe média, enfim de todos os brasileiros.
Ele trabalha com os vícios, cacoetes e defeitos de cada um desse pessoal, o que é a sua defesa, o seu escudo.  Da classe dos políticos comprou suas almas; aos pobres deu esmolas para poderem continuar a viver sem liberdade sustentados pelo Estado benemerente, pois preferem à canga à liberdade conquistada através do esforço próprio, do conhecimento, da cultura, preferindo curtir a pobreza oportunista e reclamando contra tudo e todos, principalmente contra aqueles que se esforçaram para adquirir conhecimentos, cultura que propiciaram a aquisição de patrimônios e renda condigna; aos intelectuais contaminados pelo ideal comunista sanguinário, Lula deu esperança e posição dentro do Estado; para advogados e juízes garantiu renda e lugar na suprema corte uma maneira de inibi-los e evitar ser punido por desrespeito as leis e a agressão ao Estado de Direito; enfim a todas as classes, a todos os setores encontrou um meio de agradá-los conhecendo os seus cacoetes, seus vícios e seus defeitos, e o principal, a falta de animo e de convicção de que um grande país só se constrói através da sociedade e não através de um Estado social benemerente podre, como prova a nossa realidade.

Esta a grande doença política brasileira que atravessa o tempo: ausência de uma sociedade e a presença de um Estado corrupto devorador da decência, da ética e da moral.
O Estado no Brasil sempre se sobrepôs à sociedade, como se fosse algo fora dela. Nós aprendemos desde cedo que tudo depende do Estado e que nada podemos fazer sem a presença dele, atribuindo-lhe a responsabilidade pelos problemas da sociedade e por suas soluções. Sociedade civil enfrenta grande dificuldade no contexto brasileiro, onde, na maior parte de nossa história, prevaleceu uma economia escravista e, junto com ela, surgiu o que alguns autores chamam de sociedade patriarcal.
Nesse ambiente, é particularmente difícil sair do círculo da família, estabelecendo algo como a sociedade civil. No Brasil não se pode negar a existência de uma verdadeira “ideologia de Estado”. Em contraste com o liberalismo, essa ideologia defenderia o predomínio do Estado sobre o mercado como princípio organizador da sociedade.
Ou melhor, a sociedade, inicialmente amorfa, deveria ser transformada pelo Estado, passando então a ter forma. Por fim, diferentemente do liberalismo, que acentuaria o papel do conflito na política, o pensamento autoritário teria uma visão harmônica das relações sociais predominantes no Brasil, o que refletiria a intrínseca ignorância do povo brasileiro.
03 de junho de 2014
Armando Soares é Economista

Nenhum comentário:

Postar um comentário