"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

SATISFAÇÃO DE BRASILEIROS COM PAÍS CAI EM NÍVEL COMPARÁVEL AO EGITO

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A percepção do brasileiro em relação à situação do País, à conjuntura econômica e ao governo Dilma Rousseff se deteriorou de maneira acentuada em apenas um ano, desde que milhares de pessoas tomaram as ruas do País para protestar contra a corrupção e a má-qualidade dos serviços públicos, como revela levantamento inédito do Pew Research Center, um dos principais institutos de pesquisa dos EUA.
 
A radical mudança de humor em um espaço tão curto de tempo é rara, disse ao Estado Juliana Horowitz, brasileira responsável pelo trabalho. Segundo ela, o Pew Research realizou levantamentos em 82 países desde 2010 e só viu oscilações tão acentuadas em lugares que passaram por crises ou rupturas institucionais, como o Egito.
 
"O nível de frustração expressado pelos brasileiros em relação à direção de seu país, sua economia e seus líderes não tem paralelo em anos recentes", diz o texto de apresentação da pesquisa.
 
Horowitz ficou surpresa com a magnitude da transformação na opinião pública e atribuiu essa mudança principalmente à piora da situação econômica e ao aumento da inflação. A insatisfação com a realização da Copa do Mundo no Brasil também contribuiu: 61% dos entrevistados responderam que o evento é ruim para o País, por tirar recursos que poderiam ser usados em serviços públicos.
 
Na comparação com o ano passado, a mudança mais acentuada de humor ocorreu na percepção da situação econômica. O porcentual dos entrevistados que a classifica de "ruim" subiu de 41% para 67%, enquanto o índice dos que a consideram boa caiu de 59% para 32%. A inflação foi apontada como o principal problema brasileiro por 85% dos entrevistados, pouco acima da criminalidade e da assistência médica, ambos com 83% das menções.
 
Apesar de o desemprego estar em patamares historicamente baixos, 72% disseram que a falta de oportunidades de trabalho é o maior problema do Brasil, o que colocou essa questão em quinto lugar entre 14 itens.
 
Até o ano passado, havia um descolamento entre a avaliação da economia e da situação do País como um todo. Apesar de 55% declararem que estavam insatisfeitos "com as coisas" no Brasil, 59% diziam que a situação econômica era boa. Na nova pesquisa, as duas linhas convergiram, observou Juliana Horowitz. O porcentual de insatisfeitos subiu para 72%, enquanto o dos que reprovam a economia saltou para 67%. "Em parte isso reflete o fato de que o País não está crescendo", afirmou.
 
Depois de ter expansão de 2,3% em 2013 - abaixo da média dos países emergentes -, o PIB brasileiro aumentou apenas 0,2% no primeiro trimestre de 2014, na comparação com os três meses anteriores. A inflação fechou 2013 em 5,91% e há o risco de que, em 2014, ela supere o teto de 6,5% definido pelo Banco Central.
 
Segundo o levantamento, a frustração com a situação econômica azedou a avaliação da gestão Dilma, cuja atuação no enfrentamento de problemas-chave é desaprovada por maioria expressiva dos entrevistados. Para 86%, o governo é inepto no combate à corrupção, e 85% desaprovam sua performance em relação à criminalidade e à assistência médica. A administração da economia é reprovada por 63% dos entrevistados.
 
A influência de Dilma sobre o Brasil é avaliada como negativa por 52% dos consultados e como positiva por 48%, o que mostra uma população divida. Os números indicam que no último ano de seu mandato, em 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha avaliaçāo muito melhor: 84% diziam que sua influência no Brasil é positiva e apenas 14% a classificaram de negativa.
 
Mas Dilma conseguiu resultados mais positivos que os de seus principais adversários na disputa eleitoral, Aécio Neves e Eduardo Campos. Em um placar quase de empate, uma ligeira maioria (51%) disse ter opinião favorável da presidente, enquanto 49% optaram pelo desfavorável. No caso do tucano, a visão desfavorável alcançou 53% e a favorável, 27%. A opinião em relação a Campos, do PSB, é desfavorável entre 47% dos entrevistados e favorável para 24%.
 
Ainda há uma parcela do eleitorado sem opinião formada sobre os dois candidatos de oposição, o que poderá aumentar ou diminuir sua popularidade no futuro, ponderou Juliana Horowitz. Vinte por cento dos entrevistados não se manifestaram sobre Aécio. Em relação a Campos, o porcentual foi de 27%.
 
O Pew Research elaborou os questionários da pesquisa e o trabalho de campo no Brasil foi feito pela empresa Market Analysis, de São Paulo. Foram ouvidos 1.003 adultos representativos da população do País. Esse é o quarto levantamento anual que o Pew Research realiza no Brasil. O instituto é um dos mais importantes do mundo e fez pesquisas em 82 países desde 2010.

04 de junho de 2014
Cláudia Trevisan / Folha de São Paulo

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