"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

NOSTALGIA IMPERIAL

 

A derrubada do Muro de Berlim, em novembro de 1989, deu a largada para o desmonte da União Soviética. Dois anos mais tarde, o processo estava concluído. A URSS, que havia pairado como assombração sobre metade do planeta durante 70 anos, expirou.
 
Foi um susto. Nem o mais pessimista dos soviéticos nem o mais optimista dos ocidentais teria imaginado, meia dúzia de anos antes, que tal desenlace fosse viável. De lá pra cá, foram caindo, um por um, símbolos e clichês que compunham, em nosso inconsciente coletivo, o modo de vida soviético.
 
Desapareceram as filas de desamparados clientes à porta de supermercados desabastecidos. Estátuas de Lenin e de Stalin foram desatarraxadas do pedestal. Os russos ganharam o direito de ir e vir ― inclusive ao exterior.
As cidades cujos nomes homenageavam figurões comunistas foram rebatizadas: Leningrado recobrou seu nome originário, São Petersburgo.
 
Como em outras metrópoles que perderam um império, flutua no ar de Moscou uma certa nostalgia do bom tempo que se foi. É sentimento de mesma natureza que aquele que portugueses, ingleses, franceses cultivam. Uma ufania saudosa «do tempo em que éramos importantes».
 
O sintoma mais visível é o apego a relíquias que reavivam a glória passada e dão a impressão de que ela ainda perdura. Cada um dos antigos impérios faz isso à sua maneira.
 
Parada militar em Moscou, 9 maio 2014
                                                Parada militar em Moscou, 9 maio 2014
 
A cada ano, no dia 9 de maio, os russos comemoram com garbo a vitória na Segunda Guerra. Têm razão, afinal, o conflito ceifou a vida de mais de 20 milhões de cidadãos soviéticos, perto de 15% da população. Foi hecatombe de proporções bíblicas.
 
Observando as imagens do desfile comemorativo deste ano, notei que os brasões não só mencionam a guerra, mas também conservam os símbolos do Estado soviético da época.
 
O dístico que celebra a vitória (Победа) é encimado pela sigla CCCP (Союз Советских Социалистических Республик = URSS).
O emblema que comemora a Guerra Patriótica (Отечественная Война) leva ao centro a foice e o martelo entrecruzados, símbolo do antigo regime comunista.
 
Transposto ao cenário brasileiro, seria como se, numa parada comemorativa da vitória de nosso exército na Guerra do Paraguai, os desfilantes marchassem à sombra da bandeira do Imperio do Brazil.
É curioso.
 
14 de maio de 2014
José Horta Manzano

Nenhum comentário:

Postar um comentário