"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 18 de maio de 2014

ESTRATÉGIA AUSENTE

Divergência entre ministros acerca de preços controlados é a mais recente evidência de que falta planejamento nas ações do governo

Se há uma característica marcante do governo Dilma Rousseff (PT) é a reduzida capacidade de, ao mesmo tempo, lidar com os problemas do dia e dia e elaborar planos para o horizonte de longo prazo --que sempre sai sacrificado.

O termo "estratégico" poucas vezes resguarda seu sentido verdadeiro quando empregado pela equipe da presidente. Em geral, não passa de disfarce retórico para ações emergenciais, mal pensadas e, por que não, eleitoreiras.

Veio do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o exemplo mais recente. Em entrevista a esta Folha, ele disse que o governo segura preços em função do "interesse estratégico da economia", no que se viu desmentido pelo colega Guido Mantega (Fazenda).

O diálogo não deve nada às melhores farsas. Mercadante reconhece o óbvio, mas tenta dar-lhe caráter excepcional; Mantega, por sua vez, nega o evidente, como se tarifas não estivessem sendo controladas no intuito de conter a inflação.

Seria curioso ouvi-los sobre o setor elétrico. Enquanto Dilma assumiu em público o compromisso de reduzir a conta de luz, as medidas subsequentes demonstraram que houve pouca estratégia envolvida.

É notória a truculência da intervenção nessa área em 2013 --para o governo, ainda assim, um processo indolor. Várias empresas geradoras optaram por não renovar concessões; houve disputa sobre o valor a ser reembolsado por ativos ainda não totalmente depreciados.

Depois, a falta de chuvas forçou o uso das térmicas, mais caras, e elevou o custo da energia. O governo recorreu a malabarismos financeiros a fim de deixar reajustes para 2015.

Há ainda o caso da gasolina. Com o preço represado, é vendida pela Petrobras no mercado interno por valor abaixo de seu custo de importação. Debates entre a própria estatal e o governo deixam claro a "estratégia": defender a popularidade presidencial.

A falta de planejamento assoma também na proposta de aumentar impostos sobre cerveja e refrigerantes. Adiada sucessivas vezes, deveria entrar em vigor no dia 1º de junho. Agora, sensível ao argumento de bares e restaurantes de que haveria alta de preços às vésperas da Copa do Mundo, a presidente determinou um novo atraso, desta vez até 1º de setembro.

A trapalhada protagonizada pelos ministros Aloizio Mercadante e Guido Mantega poderia ser apenas um detalhe cômico. É, contudo, mais relevante do que isso --indica com precisão a ausência de pensamento estratégico no governo.

 
18 de maio de 2014
Editorial Folha de SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário