O Mundial ocorrerá em pleno período das convenções partidárias, que definirão oficialmente as candidaturas e as alianças. E o governo aposta que, se Neymar e companhia ganharem o hexacampeonato, uma onda de otimismo tomará conta do país. Se perderem, contudo, um tsunami de problemas represados poderá vir à tona. Os dois cenários, segundo o Planalto, têm capacidade para influenciar o humor das urnas.
Dilma sonha em estar no seleto quadro de governantes que foram anfitriões da Copa do Mundo e conseguiram ver o próprio país levantar o caneco. Para evitar a repetição das constrangedoras vaias ouvidas na abertura da Copa das Confederações, em junho do ano passado, a presidente decidiu não fazer discurso no jogo inaugural da Copa, limitando-se a um protocolar “declaro aberto os jogos”.
SÓ ESPECULAÇÕES
Para Leonardo Barreto, doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), neste momento só é possível especular sobre os resultados concretos da relação entre a bola e as urnas, especialmente porque estaremos diante de um fenômeno com poucos precedentes:
“Em outros momentos nos quais o Brasil foi campeão, a Seleção conquistou o caneco fora do país”, lembrou ele, citando os torneios sediados na Suécia (1958), no Chile (1962), no México (1970), nos Estados Unidos (1994) e no Japão/Coreia do Sul (2002).
Mesmo assim, em todos eles, não houve uma relação direta entre os dois fatores: o torneio e o voto. O mito de que o êxito da Seleção se transformara em prestígio para o governo ocorreu em 1970, no governo do general Emílio Garrastazu Médici.
“Naquele ano, tivemos eleições legislativas e houve um elevado índice de votos brancos e nulos”, recorda Barreto. Em 1994, o tetracampeonato brasileiro coincidiu com a vitória de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), candidato apoiado pelo então presidente, Itamar Franco.
Mas PT e PSDB hoje admitem que, mais do que a vitória do escrete comandado por Romário (hoje deputado federal pelo PSB), o que pesou na eleição foi o Plano Real, que controlou a hiperinflação.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Há outro fator tão importante quanto a influência da Copa do Mundo na eleição presidencial, porque ninguém sabe o que acontecerá com as manifestações que serão feitas pelos brasileiros que exigem Padrão Fifa também na educação, na saúde, nos transportes e na segurança.
Em Brasília, se anuncia que três mil militares do Exército irão participar da segurança dos jogos da Copa na capital da República. Em outras cidades, não será diferente. Mas o que poderão fazer contra as manifestações populares, que são mais do que justas.
Não é possível que persista o abandono desses estratégicos setores, em prejuízo justamente das classes menos favorecidas da população, enquanto o governo gasta fábulas em “arenas” onde pobre não entra. (C.N.)
05 de maio de 2014
Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro e Marcos Paulo LimaCorreio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário