O mensaleiro Jacinto Lamas, condenado à prisão no regime semiaberto por lavagem de dinheiro, aproveitou duas vezes a saída da Papuda para o trabalho para passar na igreja Nossa Senhora de Guadalupe. Outro mensaleiro, Valdemar Costa Neto, passou num McDonald’s drive-thru e pediu um sanduíche. Que horror!
E um grande jornal impresso, de circulação nacional, mobilizou cinco repórteres durante três semanas para apurar essas importantes violações da disciplina carcerária. Onde já se viu, ir à missa e comer no McDonald’s?
Certo: é violação das normas carcerárias. Como é violação (e mais grave) o encontro de Valdemar Costa Neto com o líder de seu partido na Câmara, Bernardo Santana. Mas no geral é coisa vagabunda, sem maior importância; não cabe à imprensa vigiar os detalhes da disciplina nas prisões. Dá a impressão de perseguição, de que qualquer coisinha chinfrim merece uma página com manchete de seis colunas. Bem ou mal, aceitem ou não as normas vigentes, cumprindo ou não as exigências legais de rigor carcerário, os presos estão presos, foram condenados, receberam forte marca negativa em sua reputação, deixaram claro que aproveitaram sua passagem no Governo para fins pouco republicanos. Cabe à imprensa afligir os confortáveis e, num caso como este, deixar que os aflitos enfrentem seus problemas, sem procurar agravá-los.
O cumprimento da pena dos condenados do Mensalão, sem dúvida, virou um pandemônio. O governador de Brasília, por ser governador e arrogante, arroga-se o direito de visitar seus companheiros de partido presos na Papuda na hora em que quiser (e colegas de Congresso também tentaram transformar o presídio numa grande festa, aparecendo a qualquer hora, levando convidados – só faltou mesmo a cerveja, se é que faltou). Delúbio Soares está trabalhando dentro do partido (ficou melhor do que esteve antes, quando tinha sido expulso e não podia aparecer publicamente por lá), e fazendo o que sabe: arrecadou um monte de dinheiro para pagar as multas dele, parte da multa dos outros e isso é o que se sabe. José Dirceu, segundo seu próprio companheiro petista baiano, tinha um telefone celular à disposição e o usou para conversar com ele. Prisão com telefone celular não é prisão: é escritório em que não se paga aluguel.
As desculpas são tão ridículas quanto a reportagem sobre o temerário ato de ir à missa: o líder do PR na Câmara, por exemplo, depois de negar a visita a Valdemar Costa Neto, ex-presidente do partido, acabou cedendo depois que soube que tinha sido fotografado. Mas garantiu que os dois não trataram de política.
10 de abril de 2014
CARLOS BRICKMANN - Diário do Poder
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